novembro 24, 2014

O salto da imaginação à escrita

Os campanários de Martinville formam o momento libertador em que a imaginação se torna palavra escrita
Como o desejo de escrever se transforma em ato concreto?

No primeiro volume de Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust, o narrador conta sua experiência: ele recorda sua infância, quando escrever era um anseio atormentador.

Cada detalhe inspira o garoto. No entanto, há um abismo entre o pensamento e o gesto de empunhar o lápis. Sua angústia o persegue — e ser incapaz de concretizar o desejo de escrever muitas vezes o aniquila:

“Parecia-me então que eu existia da mesma forma que os outros homens, envelheceria e morreria como eles e que, no meio deles, apenas pertencia ao número dos que não têm pendor para escrever. E assim, desanimado, renunciava para sempre à literatura […]”.

A aflição cresce. A realidade está sempre a chamá-lo.

Como todo candidato a escritor que aguarda a inspiração genial ou o tema perfeito, ele se confunde. Os elementos, entretanto, acumulam-se — até que, num transbordamento, tudo se precipita quando, certo dia, vê as torres da igreja de Martinville.

Os campanários de Martinville formam esse momento libertador, em que, finalmente, imagens, sons, odores e sentimentos se transformam em palavras escritas.

O trecho interessará a quem deseja escrever e está acostumado à ansiedade de não conseguir saltar do sentimento ao texto. Pode ser lido neste link.

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