novembro 19, 2014

O que é melhor: bondade ou inteligência?

Para Hermann Broch, "uma arte que não é capaz de reproduzir a totalidade do mundo não é arte"
Hermann Broch dizia que “uma arte que não é capaz de reproduzir a totalidade do mundo não é arte”. Esse anseio permanente de completude dirigiu sua vida, uma luta constante para superar suas contradições, para que sua existência fosse o reflexo integral do seu pensamento. Talvez por esse motivo ele tenha se transformado não apenas no genial autor de A Morte de Virgílio, mas também num homem extremamente solidário.

O ensaísta e professor Erich von Kahler, que foi seu amigo — e também de Albert Einstein e Thomas Mann —, dizia que “você poderia encontrar Broch perdido numa grande cidade, armado de guias e horários de trens, atravessando enormes distâncias nos Estado Unidos, sempre para dar consolo a seus amigos ou pedir favores para eles. Ou podia ser encontrado também em sua casa, depois de quinze horas de trabalho diante da máquina de escrever, respondendo com extrema pontualidade à sua correspondência. Por trás dessa tranqüila aparência, com o cachimbo na boca e o olhar penetrante, eu via a tempestade de um abismo interior, mesclado de felicidade e do consolo da sua solidariedade fraternal”.

De fato, há uma história da tradição rabínica de que Hermann Broch gostava muito e que, de certa forma, resume sua vida: “Um estrangeiro visita um rabino muito sábio e lhe pergunta: — Mestre, o que é melhor, a bondade ou a inteligência? O rabino responde: claro que a inteligência, meu filho, pois ela é o centro da vida. Há um momento de silêncio. O rabino parece pensar. E antes que o estrangeiro agradeça e vá embora, o rabino completa: — Mas, se você só tem a inteligência, sem a bondade, é como se você tivesse a chave do quarto que está no centro da sua casa, mas tivesse perdido a chave da porta da entrada”.

Esse é Hermann Broch. Ele tinha as duas chaves: a da inteligência e a da bondade.

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