dezembro 30, 2010

Gerard Manley Hopkins

Deixo aqui, aos amigos e leitores, este poema de G. M. Hopkins como presente inspirador para o ano que se inicia. Feliz 2011!

The Lantern out of Doors

Sometimes a lantern moves along the night,
That interests our eyes. And who goes there?
I think; where from and bound, I wonder, where,
With, all down darkness wide, his wading light?

Men go by me whom either beauty bright 
In mould or mind or what not else makes rare:
They rain against our much-thick and marsh air
Rich beams, till death or distance buys them quite.

Death or distance soon consumes them: wind
What most I may eye after, be in at the end 
I cannot, and out of sight is out of mind.

Christ minds: Christ’s interest, what to avow or amend
There, éyes them, heart wánts, care haúnts, foot fóllows kínd,
Their ránsom, théir rescue, ánd first, fást, last friénd.

(1877)

Lanterna externa

Uma lanterna move-se na noite escura,
Que às vezes nos apraz olhar. Quem anda
Ali? – medito. De onde, para onde o manda
Dentro da escuridão essa luz insegura?

Homens passam por mim, cuja beleza pura
Em molde ou mente ou mais um dom maior demanda.
Chovem em nosso ar pesado a sua branda
Luz, até que distância ou morte os desfigura.

Morte ou distância vêm. Por mais que para vê-los
Volteie a vista, é em vão: eu perco o que persigo.
Longe do meu olhar, longe dos meus desvelos.

Cristo vela. E o olhar de Cristo, em paz ou em perigo,
Os vê, coração quer, amor provê, pé ante pé, com suaves zelos:
Resgate e redenção, primeiro, íntimo e último amigo.

(Tradução de Augusto de Campos)

dezembro 20, 2010

A gruta de Belém

“O coração de Belém é uma caverna; o santuário recoberto que é o cenário tradicional da Natividade. Nove em dez destas tradições são verdadeiras, e totalmente ratificadas pela verdade sobre o ambiente rural; pois é para estes estábulos subterrâneos que as pessoas têm levado seus rebanhos, e eles são, de longe, os locais de refúgio mais plausíveis para tantos grupos sem lar. É curioso considerar quantas variadas e inumeráveis versões da história de Belém têm sido transformadas em pinturas. Homem algum que compreenda a Cristandade irá se queixar que são todas elas diferentes entre si e todas diferentes da verdade, ou, ainda, dos fatos. O ponto central da história é que se passou em um espaço humano particular; uma ensolarada colunata na Itália ou uma casa de campo coberta de neve em Sussex. É ainda mais curioso que alguns artistas modernos tenham se aproveitado apenas da verdade topográfica; e que todavia não tenham compreendido muito dessa verdade sobre o escuro e sagrado local subterrâneo. Parece estranho que não tenham enfatizado o único caso em que o realismo verdadeiramente se aproxima da realidade. Há alguma coisa que supera as expressões da imaginação na ideia de fugitivos sagrados sendo descidos para baixo do solo; como se a terra os tivesse engolfado; a glória de Deus como ouro enterrado no chão. Talvez a imagem seja profunda demais para a arte, mesmo se ocupando em uma outra dimensão. Pois deve ser difícil para qualquer arte transmitir simultaneamente o segredo divino da caverna e a procissão dos soberanos misteriosos, a pisar a planície rochosa e a abalar o topo das cavernas.”

G. K. Chesterton (“Belém e as grandes cidades”, New Witness, 8 de dezembro de 1922, in O tempero da vida e outros ensaios, Editora Graphia)

dezembro 11, 2010

Defender a democracia liberal contra os fanáticos

Abaixo, coloco um dos melhores trechos do discurso de Vargas Llosa em Estocolmo. Poucos, escritores ou não, têm a coragem de, nos dias de hoje, proclamar em alta voz este repto contra o terrorismo islamita:

Como todas las épocas han tenido sus espantos, la nuestra es la de los fanáticos, la de los terroristas suicidas, antigua especie convencida de que matando se gana el paraíso, que la sangre de los inocentes lava las afrentas colectivas, corrige las injusticias e impone la verdad sobre las falsas creencias. Innumerables víctimas son inmoladas cada día en diversos lugares del mundo por quienes se sienten poseedores de verdades absolutas. Creíamos que, con el desplome de los imperios totalitarios, la convivencia, la paz, el pluralismo, los derechos humanos, se impondrían y el mundo dejaría atrás los holocaustos, genocidios, invasiones y guerras de exterminio. Nada de eso ha ocurrido. Nuevas formas de barbarie proliferan atizadas por el fanatismo y, con la multiplicación de armas de destrucción masiva, no se puede excluir que cualquier grupúsculo de enloquecidos redentores provoque un día un cataclismo nuclear. Hay que salirles al paso, enfrentarlos y derrotarlos. No son muchos, aunque el estruendo de sus crímenes retumbe por todo el planeta y nos abrumen de horror las pesadillas que provocan. No debemos dejarnos intimidar por quienes quisieran arrebatarnos la libertad que hemos ido conquistando en la larga hazaña de la civilización. Defendamos la democracia liberal, que, con todas sus limitaciones, sigue significando el pluralismo político, la convivencia, la tolerancia, los derechos humanos, el respeto a la crítica, la legalidad, las elecciones libres, la alternancia en el poder, todo aquello que nos ha ido sacando de la vida feral y acercándonos –aunque nunca llegaremos a alcanzarla– a la hermosa y perfecta vida que finge la literatura, aquella que sólo inventándola, escribiéndola y leyéndola podemos merecer. Enfrentándonos a los fanáticos homicidas defendemos nuestro derecho a soñar y a hacer nuestros sueños realidad.

Aqui, a íntegra do discurso de Vargas Llosa.