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novembro 13, 2014

Como o escritor deve ler?

Há várias formas de leitura. Lemos para passar o tempo, para escapar de nós mesmos, para nos afastar de preocupações e angústias. Ou, ao contrário, para nos aproximar ainda mais do que somos ou desejamos ser. Num dia em que as idéias estão emperradas, o início do “Endymion”, de John Keats, produz, para mim, o mesmo efeito de uma viagem ensolarada.

Mas como o escritor deve ler?

Talvez deseje apenas o entretenimento, mas o melhor que pode fazer por si mesmo é ler com o lápis na mão e o caderno de anotações ao lado, decidido a observar a construção de cada cena, de cada personagem, disposto a ir e voltar nas páginas, como o viajante que, tendo apenas a bússola e um mapa cheio de falhas, é obrigado a ir e voltar sobre seus próprios passos.

A leitura inocente não é mais possível para o escritor que deseja aprender. Sua tarefa é decifrar o segredo dos que o antecederam. E aprender com eles, sem medo de ser influenciado. Sua personalidade e o exercício constante da escrita se encarregarão de transformar as lições que estudou no seu próprio estilo.

janeiro 25, 2013

Literatura e realidade: uma página dos diários de Edmund Wilson

[...]

Toda literatura fornece uma visão falsa da vida, porque é o anverso da realidade – o artista preenche as lacunas de seu caráter ou de sua experiência forjando material espiritual imaginário.

Em primeiro lugar, o artista, em suas produções, distorce a vida numa certa direção, fabrica para ela um rosto falso – e então o leitor, que tende a ser convencido a acreditar, erroneamente, que a vida é realmente assim para o escritor e portanto pode vir a ser assim para outrem, tenta na vida real concretizar a imagem que o artista inventou justamente com o fim de preencher a lacuna de algo que ele não conseguiu encontrar. No final, as incongruências do sistema tornam-se claramente visíveis, e o modelo é jogado fora; como resultado, o leitor recrimina o escritor por ter distorcido a realidade.

A questão é que os leitores apoiam-se, como quem se apoia em algo inquestionavelmente real e forte, numa coisa que, para o escritor, era apenas falseamento confortante e perfeitamente consciente da vida, tal como sua própria experiência a revelou para ele, de forma desconcertante, uma espécie de eufemismo feito na esperança – infundada, como ele próprio sabe melhor do que ninguém – de que, dando tal aparência às coisas, ela possa realmente lhes atribuir esse caráter – ao sujeitar a totalidade de sua experiência às nuanças e padrões de seu próprio temperamento, ele se esquece por um momento do mundo real e incognoscível nesta extensão de sua própria consciência imediata para preencher – o que, ilusoriamente, parece ocorrer – toda a paisagem da experiência. Para o leitor, é como se este mundo invertido fosse talvez o mundo real que ele vem procurando, e, temporariamente, ele pode vir a aceitá-lo.
 
(Em Os anos 20)