julho 28, 2014

Lançamento, em São Paulo, de “Esquecidos & Superestimados”

Na próxima segunda-feira, dia 4 de agosto, a partir das 18h, vocês estão convidados para o lançamento do meu novo livro na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (Av. Paulista, 2073). Será um prazer reencontrar os amigos e abraçar meus leitores. Até lá!

julho 26, 2014

Olavo de Carvalho contra o “beija-mão esquerdista”

“O ritual obrigatório do beija-mão esquerdista já aviltou grandes inteligências entre nós. Nem o Otto Maria Carpeaux escapou.” Hoje, entre nós, brasileiros, só há um intelectual capaz de afirmar isso com desassombro: ele se chama Olavo de Carvalho.

Só Olavo, de maneira franca e clara, diz aos jovens: “Se você não tem força para ser ao mesmo tempo um gênio e um joão-ninguém, jamais chegará a ser um gênio. Será sempre um talento estragado”.  

Ninguém, hoje, neste país, do alto de qualquer cátedra, tem desassombro para dizer, como Olavo: “Prezo todos os homens inteligentes, mas prezo muito mais aqueles que, além de ser inteligentes, têm a coragem de prescindir do apoio de grupos e capelas, como fizeram o Mário Ferreira dos Santos e o Vilém Flusser, ainda que pagando por isso o preço do ostracismo”.

Vida intelectual sem exercício da virtude, sem intrepidez, é o mesmo que construir castelos na areia, meus amigos.

julho 15, 2014

“Em cada trecho seu que releio, creio descobrir o mais perfeito”

A literatura não é apenas o que está nos livros, o que foi publicado, mas também toda a coleção de incertezas do autor, as correções sem fim, os prazos jamais cumpridos, a revisão nem sempre minuciosa e, no caso de Marcel Proust, sua eterna angústia, o avanço da doença, a monumentalidade da obra — e a paciência do editor, Gaston Gallimard.

O processo industrial de edição encontra-se hoje num estágio diferente: os revisores enlouquecem por outros motivos, ninguém precisa decifrar marcações e hieróglifos como os de Proust. Mas a inquietude do autor, suas decepções e, muitas vezes, o descuido dos revisores — tudo permanece igual.

Em Marcel Proust – Gaston Gallimard – Correspondência (1912-1922), livro do qual as páginas abaixo foram retiradas, encontramos não só a desolação de Proust e suas eternas reclamações, mas principalmente o desvelo e a admiração de Gallimard, que escreve, em 14 de janeiro de 1921: “Em cada trecho seu que releio, creio descobrir o mais perfeito. Mas, seja onde for que os olhos pousem, em seu texto, o coração é arrebatado, e não consigo me desligar das páginas que acabei de ler”.



julho 10, 2014

“O que amas de verdade não te será arrancado”

A literatura pode, muitas vezes, ser o único elo com nossa consciência. Um poema esconde a força capaz de nos manter ligados a valores que desmoronam ao nosso redor — e aos quais também somos convidados a renunciar. Quando vemos a virtude se desintegrar e quando nos expomos, por nossas próprias opções, ao risco da fragmentação moral, algumas poucas estrofes podem servir como uma âncora que nos aferra à verdade.

Só muitos anos depois daquele inverno em que mudei para a casa de minha bisavó pude compreender a decisão de copiar, em letras de fôrma, na parede ao lado da escrivaninha, o trecho do Canto 81 de Ezra Pound. Não posso precisar meus sentimentos, mas a figura de um cínico é a que mais se aproxima das minhas lembranças. Eu me sentia um misantropo sem filosofia, a não ser algumas páginas de Nietzsche; um hedonista e seu inseparável aguilhão, o desespero.

Mas o poema estava lá, na parede entre os dicionários e o telefone, letras imperfeitas e grandes, linhas tortas, escritas sem grande cuidado. O poema estava ali todos os dias. Era uma promessa — “O que amas de verdade não te será arrancado” —, mas também uma advertência: “Abaixo tua vaidade / Tu és um cão surrado e largado ao granizo”. Não era uma condenação, longe disso, mas um alerta: “o erro todo consiste em não ter feito”. O que fazer, eu me perguntava — eu, “ávido em destruir, avaro em caridade”. E a visita de Pound a Wilfrid Scawen Blunt era a resposta: colher “no ar a tradição mais viva / ou num belo olho antigo a flama inconquistada”.

O fragmento do Canto 81 substituiu a prece que eu me recusava a fazer. A literatura foi minha âncora enquanto não redescobri onde havia guardado meu coração.

julho 07, 2014

A celebração do telegrama — Plínio Salgado e “O Estrangeiro”

No Rascunho deste mês, escrevo sobre o primeiro romance de Plínio Salgado, O Estrangeiro, resposta direta à Semana de Arte Moderna, livro repleto de lugares-comuns, escrita telegráfica, bobagens linguísticas, filosofia confusa, nacionalismo exacerbado e horrores retóricos. Verdadeira tralha linguística.

julho 04, 2014

Reflexões para os momentos de desânimo

Às vezes, encontramos entre velhos papéis o pensamento adequado, a anotação feita há muito tempo, mas que hoje ressurge para oferecer, novamente, seu pleno sentido:

“O verdadeiro destino de um grande artista é um destino de trabalho. Em sua vida chega a hora em que o trabalho domina e conduz sua destinação. As infelicidades e as dúvidas podem atormentá-lo por muito tempo. O artista pode vergar sob os golpes da sorte. Pode perder anos numa preparação obscura. Mas a vontade de obra não se extingue desde que ela encontrou uma vez seu verdadeiro foco. Começa então o destino de trabalho. O trabalho ardente e criador atravessa a vida do artista e confere a essa vida virtudes de linha reta. Tudo vai em direção à meta numa obra que cresce. Cada dia, esse estranho tecido de paciência e entusiasmo torna-se mais ajustado na vida de trabalho que faz de um artista um mestre.” — Gaston Bachelard