O lead da matéria sobre a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil chama para o que é menos importante. Trata-se
de curiosa aula de antijornalismo. A questão dramática, o fato realmente
central, começa a aparecer só no quarto parágrafo, quando ficamos sabendo que “apenas
50% dos brasileiros podem ser considerados leitores”.
Quando li o
trecho, pensei: “Melhoramos muito!”. De fato, 50% até poderia ser um número
alvissareiro... Mas logo me deparei com a triste verdade: a metodologia
escolhida pelos pesquisadores é uma ferramenta de criar ficção, pois define
como “leitor” pessoas que “leram pelo menos um livro nos três meses
precedentes ao questionário da pesquisa”.
Ora, quem leu “pelo
menos um livro” três meses antes de responder ao tal questionário não é e nunca
foi leitor. Esse pobre infeliz pode receber qualquer outro nome, mas o fato de
ter aberto um livro – à força ou por acaso – não passa de um acidente.
Contudo, estamos
no Brasil – e aqui, mesmo partindo de critérios duvidosos, uma pesquisa sobre
leitura revela números desalentadores. Saliento dois:
1) No último
quatriênio, o número de livros lidos por ano (por pessoa) caiu de 4,7 para 4;
2) 75% da
população não frequenta bibliotecas.