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julho 03, 2013

Ideologia e azedume em Lima Barreto


No Rascunho deste mês, analiso Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá, de Lima Barreto. Leiam um trecho:

O que ressalta é o abismo a separar a vontade da ação, o projeto de “literatura militante” das obras em que amor, compreensão entre os homens e felicidade nunca se concretizam. O que sobressai é o iniludível vitimismo, no qual as personagens às vezes até conseguem captar a medida de responsabilidade que tiveram em seus destinos, mas sem jamais lograr verdadeiras mudanças.
 
Para os que desejarem, a íntegra do texto está aqui. A ilustração é de Carolina Vigna-Marú.

maio 25, 2013

Alexis de Tocqueville, literatura e democracia

“By and large the literature of a democracy will never exhibit the order, regularity, skill, and art characteristic of aristocratic literature; formal qualities will be neglected or actually despised. The style will often be strange, incorrect, overburdened, and loose, and almost always strong and bold. Writers will be more anxious to work quickly than to perfect details. Short works will be commoner than long books, wit than erudition, imagination than depth. There will be a rude and untutored vigor of thought with great variety and singular fecundity. Authors will strive to astonish more than to please, and to stir passions rather than to charm taste.” (em Democracy in America)

Prefiro não imaginar o que Alexis de Tocqueville diria se conhecesse a atual literatura brasileira.

fevereiro 26, 2013

O mal da retórica na literatura brasileira

Álvaro Lins estava coberto de razão quando dizia: “Continuo, com os elementos do meu ofício, a fazer o exercício de colecionar frases desproporcionadas. Desproporcionadas entre as ideias, que são magras, e as palavras, que são muito gordas. Um artifício semelhante ao que realizam os alfaiates modernos: roupas de atletas para corpos de tísicos. Mas este artifício, de que resulta um sucesso na arte dos alfaiates, não apresenta o mesmo êxito na arte literária. O que resulta dele é um aleijão. O aleijão mais constante da literatura brasileira”.

fevereiro 06, 2013

Perfumaria bilaquiana

No Rascunho deste mês, analiso as crônicas de Olavo Bilac, nas quais estilo pomposo e imagística pobre somam-se para criar textinhos maçantes, repletos de chavões. O ensaio completo pode ser lido aqui.

janeiro 17, 2013

Bruno Tolentino e a “esterilidade palavrosa”

A tese de que a Semana de 22, quando analisada no contexto da literatura brasileira, foi um evento não só desnecessário, mas completamente dispensável, ganha força a cada parágrafo do ensaio Banquete de ossos, publicado em 1998. “[...] Tragicamente nos apalhaçamos em 22 no vão intuito de dar o salto que afinal nem demos nem precisávamos dar: o salto mortal (ou letal?) no trapézio dos andradóides não nos levou mais alto do que andáramos até então”, denuncia Tolentino, mostrando, logo a seguir, como tudo que houve de melhor após 1922 nasceu dos autores geniais que existiam muito antes da Semana de Arte Moderna.

O que Tolentino chama de “ruidoso abalo símio de 1922” na verdade não teria passado – e realmente não passou – de “um frisson nosso todo particular, de natureza, fôlego e alcance decididamente paroquiais. Nada nos deu de verdadeiramente universal que enriquecesse a língua que se queria subitamente ‘autofágica’ já que o banquete devorou sobretudo nossa gramática. Pouco se acrescentou à ‘realidade’ além de uma amputação gradual das regências verbais, entre outros gracejos; fenômenos que constituiriam um escândalo em qualquer língua [...]. Presentinho de grego dos desossados balbucios populistas dos rapazes de 22…”
 
Ensaio para ser lido e estudado. Ensaio que devemos guardar dentro da carteira, numa folha dobradinha, para reler nos momentos de desespero, quando, depois de olhar a estante de literatura brasileira nas livrarias ou ler a opinião de certos críticos nos cadernos culturais, quase massacrados pelo amontoado de estultices, devemos, precisamos lembrar que “não somos uma variante afro-cafuza da lusofonia, nosso dilema não é ‘tupi or not tupi’, é, ainda e sempre, ser ou não ser o que de fato somos: uma grande e sempre por si mesma renovada civilização lusófona”.

janeiro 14, 2013

Vanguardeiros autistas

O ensaio de Luis Dolhnikoff na Revista Sibila, sobre o estado atual da literatura brasileira, nasce das matérias publicadas na Folha de S. Paulo há alguns dias, ambas escritas por Marco Rodrigo Almeida: “Eles não chegam lá” e “Ficção perdeu os leitores, diz autor de 'O Filho Eterno'”. O raciocínio proposto pelo ensaísta toca no centro de uma importante questão da nossa literatura, sobre a qual, aliás, venho falando há tempo: “Os romancistas brasileiros escrevem, de fato, ‘para os amigos’, mas não como motivo primário. Na verdade, eles não escrevem para o público, que desprezam”.

O texto de Dolhnikoff, que merece leitura atenta, pode ser sintetizado neste parágrafo acertadíssimo: “A incapacidade dos escritores brasileiros de criarem livros ao mesmo tempo bons e prazerosos é apenas a incapacidade dos escritores brasileiros de criarem livros ao mesmo tempo prazerosos e bons. Eles são, como regra, chatos, porque, como regra, são pretensiosos. E são pretensiosos por ignorarem o público leitor. Se não o ignorassem, não poderiam ser chatos, sob o risco do fracasso. Cria-se assim uma literatura satisfeita para ninguém, ou quase ninguém. Satisfeita talvez, mas não satisfatória. A menos que se considere a criação literária um hobby, que, de fato, só interessa para quem o pratica. Mas se se pretende algo além de um hobby, a literatura não pode satisfazer somente quem se dedica a ela. O público tem de ser posto na equação. Ou nas equações. Pois há uma simples e uma complexa”.

Denunciando uma literatura que se pretende de vanguarda, mas que na verdade não passa de literatura “autista”, o texto retoma, parcialmente, o que apontei há alguns anos, no jornal Rascunho, no ensaio “Mazelas da narratofobia”: “Parcela dos escritores brasileiros contemporâneos sofre de uma estranha patologia: escrevem não para satisfazer seus impulsos criativos, mas, principalmente, para cumprir determinados preceitos. Dito de outra forma, alguns escritores submetem a criatividade às regras difundidas por supostos expertos, ou, pior, ao gosto das panelinhas. A escrita se afasta, assim, do seu verdadeiro caráter — o de exercício de comunicação —, transformando-se num fetiche. A literatura produzida segundo tais critérios não é só exclusivista, mas pedante e artificial, além de subserviente: nasce para agradar a uns poucos, para corresponder àquelas teorias que certos literatos diluíram e transformaram em receitas aparentemente infalíveis”.
 
As consequências dessa atitude subdesenvolvida – mas que é tratada como supostamente vanguardista – não se esgotam, repito, “na leitura obscura, forçosamente aflitiva. Nossos poucos leitores, ávidos por uma literatura que os conduza para longe da mesmice e da banalidade, encontram, nas livrarias, as seções de literatura brasileira abarrotadas de textos herméticos. É fatal, portanto, que sejam raptados para o mundo da subliteratura, tornando-se reféns dos romancinhos kardecistas e de outras tantas panaceias na forma de brochura”.

janeiro 09, 2013

Salvo da banalidade

Escrevo, no Rascunho deste mês, sobre o goiano Hugo de Carvalho Ramos, cujas narrativas (em Tropas e boiadas) estão acima do que se costumou chamar, entre nós, de regionalismo, termo dúbio e sempre aberto a revisões. Impregnados de tom épico, alguns contos parecem nascer de episódios da Chanson de Roland e outras canções de gesta, com seus personagens heroicos, reticentes no que se refere a introspecções, mas sempre prontos à presteza e à coragem, aceitando com naturalidade a vida sob permanente tensão.

novembro 07, 2012

Simões Lopes Neto: o narrador ideal de Walter Benjamin


A “Mboitatá” é a narrativa mais admirável. Simões Lopes Neto conseguiu criar um exemplo perfeito de sintetismo, construindo-o por meio de elementos que, de forma reiterada, transportam-nos ao universo mítico. Numa cosmologia primitiva, a longa noite está instaurada — e o que veio antes dela permanecerá incógnito. O homem, anulado diante do cosmo que se desorganizou, encontra-se no anti-gênesis. Estamos in illo tempore: um passado indefinido, em meio ao caos. A desordem absoluta, que enche de pavor homens e animais, favorece o surgimento do prodígio maléfico: a serpente que devora olhos.

– Este é um trecho do ensaio que publiquei na edição deste mês do jornal Rascunho, em que analiso a obra Lendas do Sul, de Simões Lopes Neto.

outubro 18, 2012

Marisa Lajolo resenha meu livro, “Muita retórica – Pouca literatura”

Marisa Lajolo faz, neste texto publicado inicialmente no Facebook, um interessante diálogo com meu livro. Uma leitura que aponta discordâncias, mas de maneira ética, equilibrada, sábia. Leitura lobatiana, com aquela argúcia que Monteiro Lobato nunca deixou de lado – e que Marisa Lajolo, decana dos estudos lobatianos, não poderia deixar de ter.

BOA RETÓRICA E BOA LITERATURA

Marisa Lajolo

Nas cores sóbrias da capa de Muita retórica – Pouca literatura (Campinas, SP: Vide Editorial) uma figura de rosto borrado parece escrever em folhas que levantam voo e transformam-se em pássaros. A capa é sedutora. O título intrigante provoca o leitor. Mas o suspense se desfaz no subtítulo: De Alencar a Graça Aranha.

E é efetivamente pela prosa brasileira que Rodrigo Gurgel – o autor do livro – passeia, compartilhando com seus leitores juízos sobre escritores e obras do século XIX e comecinho do XX. Leitor rigoroso, de dedo em riste e olhar severo, o crítico aponta e discute cochilos e acertos – de diferentes ordens de grandeza – de nossos escribas.

É claro que o leitor não precisa concordar com Gurgel. Eu, por exemplo, acho que Lucíola e O cortiço são grandes obras. Gurgel não acha, mas ele expõe seus argumentos com tanto talento (a boa retórica!) que fico obrigada a ir buscar os meus para discordar dele. O que é uma bela forma de a crítica cumprir sua função de aprimorar a leitura.

Aprimorar a leitura literária não é concordar com nosso interlocutor. Seja ele quem for. É respeitar leituras alheias, pois literatura é um entrelaçamento de obras e de leituras que as obras receberam. O leitor que decida em qual malha desta rede quer meter sua colher torta.

Este livro tem bastidores muito interessantes: ele nasce de ensaios que seu autor publicou inicialmente no excelente jornal Rascunho, de Curitiba. E tem suas primeiras discussões em formato bastante original. Gurgel lança o livro fazendo uma palestra no YouTube e disponibilizando em seu blog longa entrevista que deu ao jornal santista A Tribuna.

Claro que nas respostas à entrevista e no calor da hora da gravação vêm à tona detalhes do livro, outras opiniões de seu autor, enfim, aquele making off que tanto delicia fãs (como eu) de filmes em DVD. É aí, nestes bastidores e no day after, que Gurgel aponta, de forma explícita e direta, um tópico que, no seu livro, é reafirmado ao longo dos vinte ensaios que o compõem: a pluralidade dos domínios do conhecimento necessários ao discurso que fala de literatura.

Filosofia, História, Sociologia, Retórica... muitos são os sotaques que podem entrecruzar-se na fala do crítico e vários deles, efetivamente, comparecem à fundamentação da crítica de Gurgel. E alguns outros ele expulsa definitivamente, como os pobres linguistas estruturalistas, por si mesmos afastados do palco (!) mas imediatamente substituídos por outros fundamentalismos.

Vem da filosofia – do espanhol Ortega y Gasset – um dos pressupostos do pensamento de Gurgel. A ideia de que eu sou eu + minha circunstância inspira a amplificação que o crítico faz de uma obra para além das palavras que seu autor escreve, e permite a ele (crítico) discutir a obra entendendo-a como amplificadora da experiência humana.

Foi aí que Gurgel me pegou.

E a circunstância do leitor? E a circunstância do momento de cada uma de suas leituras? Não seriam determinantes de sua compreensão da obra e de sua valorização?

Eu, por exemplo, gosto de Inocência, livro que Gurgel considera um romancinho sentimental, onde o diminutivo desqualifica. Lembro de ter lido o livro com onze para doze anos. Lição de escola, de Dona Maria Luíza. Mas... havia uma menina na minha classe chamada Inocência, chata como a peste.  Petulante e convencida. Fui ler o livro com a maior má vontade inspirada na homônima da heroína. Mas o livro me emocionou: me comoveu a subalternidade da menina ao pai autoritário, a confiança dela no padrinho, a delicadeza da homenagem representada por dar o nome dela a uma borboleta...

Vinguei-me de minha colega apelidando-a de papilosa e acho que foi aí que me tornei leitora de romances e aprendi a lidar com leituras alheias, matéria-prima de professores de literatura.

Ou seja: como lidar com as infinitas circunstâncias em que leitores leem o que leem? Este livro de Gurgel sugere várias destas maneiras. Ele nunca se esquece, por exemplo, de que está falando em público de suas leituras privadas. Franqueia, pois ao leitor sua circunstância de leitura, atribuindo a seus leitores reações que bem podem ter sido as suas: se você, leitor, teve vontade de rir, não se sinta constrangido (115). Ou justificando suas decisões discursivas: ideia sobre a qual nem me darei ao trabalho de comentar, tamanho o seu despropósito (143).

Ou ainda, mencionando outros críticos e pensadores com os quais concorda ou dos quais diverge. Ou transcrevendo os textos dos romances nos quais se apoiam suas observações, ou tirando da estante prosadores que têm passado em branco na história canônica da literatura brasileira. Desta lista de prosadores brasileiros do B que Muita retórica – Pouca literatura apresenta, destaco a agradável surpresa que representa a leitura que Gurgel faz de João Francisco Lisboa e de Joaquim Felício dos Santos.

Ou seja: todas aquelas folhas em revoada na primeira capa do livro voltam obedientes à escrivaninha do crítico e compõem um livro extremamente corajoso e provocador.
 
Vamos a ele!

outubro 06, 2012

Hoje, lançamento de “Muita retórica – Pouca literatura” em Santos

Às 16h, estarei na Livraria Realejo, no Gonzaga, para autografar meu livro e bater um bom papo sobre literatura, crítica literária e os novos lançamentos do filósofo Olavo de Carvalho. Até lá, amigos!

outubro 05, 2012

“A obra literária se completa quando nós completamos a sua leitura”, diz Ortega y Gasset


Acima, o vídeo de minha palestra sobre o livro que acabo de lançar: Muita retórica – Pouca literatura (de Alencar a Graça Aranha). Olavo de Carvalho diz, com acerto, que “a crítica literária é a primeira disciplina filosófica, porque a crítica é a expressão intelectual mais imediata da própria experiência literária”. E a experiência literária, por sua vez, nada mais é que uma abertura à variedade da experiência humana. Ler literatura, portanto, é alargar a imaginação, ampliar nossa visão sobre as possibilidades da existência, inclusive sobre as possibilidades éticas ou morais da existência. Se entendemos a literatura assim, então a função do crítico é mostrar essas possibilidades, tomar o leitor pela mão e mostrar a ele um dos inúmeros caminhos possíveis. Para fazer isso, ele precisa recusar a arrogância epistêmica e o monismo de julgamento que imperam hoje. Ele deve ler a obra literária perguntando também até que ponto ela realmente responde ao que pretendeu ser, se ela realmente consegue ser uma estrutura coerente.

outubro 04, 2012

A salvação pelo duplo – “Maria Dusá”, de Lindolfo Rocha

Ao ler o romance Maria Dusá, de Lindolfo Rocha, é preciso separar o joio do trigo. É o que faço em meu ensaio deste mês, no jornal Rascunho.

setembro 28, 2012

Palestra virtual sobre meu livro, “Muita retórica – Pouca literatura”

Na próxima 2ª feira, dia 1º de outubro, às 20 h, darei uma palestra on-line sobre meu livro, Muita retórica – Pouca literatura (de Alencar a Graça Aranha). Na data e horário marcados, para acompanhar a palestra basta ir ao site da Vide Editorial e clicar no banner amarelo ou, se preferirem, ir direto à página de transmissão.
 
Aviso, inclusive, que o livro encontra-se à venda na Livraria Cultura, na Martins Fontes e na própria editora.

setembro 11, 2012

Em breve, nas livrarias, “Muita retórica – Pouca literatura (de Alencar a Graça Aranha)”

Quando um livro nasce e olhamos para o primeiro exemplar retirado da caixa, um desfile de pessoas queridas passa diante de nossos olhos. Podemos ser o autor, nossas ideias estão presas entre as duas capas, mas por trás de nós pulsam aqueles sem os quais a obra não existiria: minha mãe, Carmen, que sempre quis ter um filho médico, mas aceitou com um sorriso minha opção pela literatura; meu pai, infelizmente falecido, que nas manhãs de domingo me fazia ler o editorial do Estadão e, debatendo comigo, exercitava meu raciocínio; inesquecíveis professores, principalmente Ivanira Dadalt, que no primeiro ano de colégio não discordou de mim quando lhe disse que O Guarani era intragável; Bia Kotek (sem seu carinho e sua amizade, eu simplesmente não estaria vivo hoje); Mimi, minha esposa, que ouviu, com abnegada paciência, muitos dos ensaios – e sempre me entusiasmou quando pensei em desistir; Rogério Pereira, editor do jornal Rascunho, que encampou o projeto, ainda em curso, de releitura da prosa brasileira e sempre, sempre respeita minhas ideias; Cesar Kyn d’Ávila, Adelice Godoy, Silvio Grimaldo e Lucas Silveira Santos, que, num gesto de rara amizade, convidaram-me para publicar a obra pela Vide Editorial (Silvio Grimaldo, aliás, foi o longânime editor); Diogo Chiuso, responsável pelo projeto editorial sóbrio, que teve abnegação monacal com meu detalhismo; Robson Vilalba, que captou perfeitamente minha ideia para a ilustração da capa; José Carlos Zamboni, autor de um prefácio magnífico, cuja inteligência me fez perceber novas questões a serem abordadas; e Ronald Robson, que estraçalhou os inevitáveis erros e escreveu uma orelha generosa, fraternal. A todos vocês, muito, muito obrigado.

julho 20, 2012

Nunca vi nada mais profundo

“Fui encerrar, na Escola de Comunicações e Artes da USP, um curso de pós-graduação sobre o meu teatro e depois li os trabalhos dos alunos. Fiquei besta. Nunca vi nada mais profundo, de não se entender uma frase.” 
Nelson Rodrigues

julho 09, 2012

“O problema é que não se faz nada em relação à educação no Brasil”


Ótima, lúcida entrevista – hoje, no Estadão – com a editora e agente literária Luciana Villas-Boas. Com ampla experiência no mercado brasileiro, responsável pelo lançamento de alguns dos melhores nomes da nossa literatura contemporânea, Luciana enfrenta bem todas as perguntas.

Coloco abaixo um dos trechos de que mais gostei, no qual ela aponta o servilismo de parcela do mercado editorial à visão errônea, realmente distorcida dos departamentos de Letras e da crítica literária:  

Livro é mesmo caro aqui?

Não acho que preço seja fundamental, é uma outra problemática. O profissional liberal que tem dinheiro para comprar um best-seller internacional não compra de um autor brasileiro. É um preconceito que talvez até se justifique.

Por quê?

Porque os editores, talvez influenciados pelos departamentos de Letras das universidades, passaram a publicar, principalmente, autores brasileiros extremamente “difíceis”. Ao mesmo tempo, pegue o Philip Roth, Complô contra a América. Eu achei bom, mas, se fosse publicado no Brasil, não dariam bola. Porque não se trata de um livro de grandes experimentações linguísticas. Aqui, a tendência da crítica seria não levá-lo muito em conta.