janeiro 17, 2013

Bruno Tolentino e a “esterilidade palavrosa”

A tese de que a Semana de 22, quando analisada no contexto da literatura brasileira, foi um evento não só desnecessário, mas completamente dispensável, ganha força a cada parágrafo do ensaio Banquete de ossos, publicado em 1998. “[...] Tragicamente nos apalhaçamos em 22 no vão intuito de dar o salto que afinal nem demos nem precisávamos dar: o salto mortal (ou letal?) no trapézio dos andradóides não nos levou mais alto do que andáramos até então”, denuncia Tolentino, mostrando, logo a seguir, como tudo que houve de melhor após 1922 nasceu dos autores geniais que existiam muito antes da Semana de Arte Moderna.

O que Tolentino chama de “ruidoso abalo símio de 1922” na verdade não teria passado – e realmente não passou – de “um frisson nosso todo particular, de natureza, fôlego e alcance decididamente paroquiais. Nada nos deu de verdadeiramente universal que enriquecesse a língua que se queria subitamente ‘autofágica’ já que o banquete devorou sobretudo nossa gramática. Pouco se acrescentou à ‘realidade’ além de uma amputação gradual das regências verbais, entre outros gracejos; fenômenos que constituiriam um escândalo em qualquer língua [...]. Presentinho de grego dos desossados balbucios populistas dos rapazes de 22…”
 
Ensaio para ser lido e estudado. Ensaio que devemos guardar dentro da carteira, numa folha dobradinha, para reler nos momentos de desespero, quando, depois de olhar a estante de literatura brasileira nas livrarias ou ler a opinião de certos críticos nos cadernos culturais, quase massacrados pelo amontoado de estultices, devemos, precisamos lembrar que “não somos uma variante afro-cafuza da lusofonia, nosso dilema não é ‘tupi or not tupi’, é, ainda e sempre, ser ou não ser o que de fato somos: uma grande e sempre por si mesma renovada civilização lusófona”.

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