Quando a
realidade se transforma, nas mãos de certo estudioso cínico, num mero texto que
pode ser desconstruído, quando querem nos fazer acreditar que a realidade
objetiva deve ser continuamente colocada sob suspeita e apenas decodificada ao
sabor dos nossos interesses ou intenções pessoais, temos certeza de que
penetramos no centro da desonestidade intelectual.
É o que Augusto Monterroso
– escritor hondurenho de nascimento, mas que adotou a Guatemala como pátria – denuncia,
com seu sarcasmo peculiar, na breve narrativa a seguir. Divirtam-se.
O Coelho e o Leão
Um célebre Psicanalista encontrou-se
certo dia no meio da selva, semiperdido.
Com a força que dão o instinto e o desejo
de investigação, conseguiu facilmente subir numa árvore altíssima, da qual pôde
observar à vontade não apenas o lento pôr do sol mas também a vida e os
costumes de alguns animais, que comparou algumas vezes com os dos humanos.
Ao cair da tarde viu aparecer, por um
lado, o Coelho; por outro, o Leão.
A princípio não aconteceu nada digno de
mencionar, mas pouco depois ambos os animais sentiram as respectivas presenças
e, quando toparam um com o outro, cada qual reagiu como desde que o homem é
homem.
O Leão estremeceu a selva com seus
rugidos, sacudiu majestosamente a juba como era seu costume e feriu o ar com
suas garras enormes; por seu lado, o Coelho respirou com mais rapidez, olhou um
instante nos olhos do Leão, deu meia-volta e se afastou correndo.
De volta à cidade, o célebre Psicanalista
publicou cum laude seu famoso tratado em que demonstra que o
Leão é o animal mais infantil e covarde da Selva, e o Coelho, o mais valente e
maduro: o Leão ruge e faz gestos e ameaça o universo movido pelo medo; o Coelho
percebe isso, conhece sua própria força, e se retira antes de perder a
paciência e acabar com aquele ser extravagante e fora de si, a quem ele
compreende e que afinal não lhe fez nada.
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janeiro 19, 2014
julho 11, 2012
Olavo de Carvalho e a busca da sabedoria

Por
motivos de espaço, o texto que escrevi para a orelha do mais recente livro de
Olavo de Carvalho – A filosofia e seu inverso – teve de ser cortado. A seguir, publico a apresentação
original, não só maior, mas, do ponto de vista estilístico e de
exposição do pensamento do meu caro professor, mais completa:
Contra a Weltanschauung pós-moderna
O
que é pensar? Há diferença entre
adquirir cultura filosófica e filosofar? O que separa a filosofia do ato, às
vezes necessário, de discutir com o antifilósofo? O que une Kant às decisões da
ONU em favor de um governo global? Por que o culto da ciência “começa na
ignorância do que seja a razão e culmina no apelo explícito à autoridade do
irracional”?
Essas
e outras questões são respondidas por Olavo de Carvalho em A filosofia e seu inverso, que reúne alguns de seus artigos e
ensaios produzidos nos últimos anos.
Mas
devemos ler Olavo de Carvalho? Há duas respostas possíveis: a dos seus
detratores, melíflua ou estrondosa, mas sempre negativa. E a dos que se recusam
a aceitar o doutrinamento da Weltanschauung
pós-moderna, que, amealhando adeptos entre liberais e esquerdistas, baseia-se
num tripé corruptor: relativismo, hedonismo e ateísmo.
Quem
responde de maneira afirmativa à última pergunta sabe que Olavo de Carvalho não
usa meias palavras. E o faz não apenas pelo deleite de tratar o idioma com
rigor, mas principalmente por saber que, para uma efetiva resistência cultural,
quem deseja se manter lúcido deve possuir um corpo teórico consistente, capaz
de apresentar respostas persuasivas ao mundo de falso desvanecimento do homem
contemporâneo e de advogar em defesa da verdade, o valor mais vilipendiado nos
dias que correm.
Frente
aos ideólogos de plantão, cujo objetivo é nos convencer de que princípios,
crenças, convicções e valores são obstáculos à liberdade, Olavo de Carvalho
denuncia a ditadura do relativismo – a arma que restou aos marxistas-leninistas
diante do fracasso de seu projeto original: a ditadura do proletariado. E o faz
com seu estilo tão característico, que lhe permite, como ele mesmo diz, “transitar
livremente entre o discurso acadêmico e a voz do coração, sem desprezar o
primeiro mas submetendo-o às exigências da segunda”, movido por seu “objetivo
constante, único, quase obsessivo: a busca do Supremo Bem”.
Nada
é pequeno neste livro. A resposta a certos polemistas transforma-se nos degraus
que Olavo de Carvalho transpõe para ensinar arquitetura gótica ou recolocar a
lógica como elemento acessório da produção filosófica. Desmonta o método de
Martial Guéroult, presta tributo à inesquecível figura do jesuíta Stanislavs
Ladusãns – de quem tive a honra de ser aluno na década de 1980 –, rebate Alan
Badiou, Peter Singer, Richard Dawkins e outros pseudoluminares. E o faz seguindo
o método que propõe a seus alunos: espantar-se frente à realidade da
experiência.
Mas não só. Olavo de Carvalho leva-nos mais longe na busca pela sabedoria, salientando que não esquecer nossa condição mortal é o ponto de partida da investigação metafísica. Aqui, ele ultrapassa a filosofia – e assemelha-se aos mestres da espiritualidade monástica, que recomendam a reflexão sobre a própria morte para curar uma das mais nocivas doenças da alma: a acídia.
Mas não só. Olavo de Carvalho leva-nos mais longe na busca pela sabedoria, salientando que não esquecer nossa condição mortal é o ponto de partida da investigação metafísica. Aqui, ele ultrapassa a filosofia – e assemelha-se aos mestres da espiritualidade monástica, que recomendam a reflexão sobre a própria morte para curar uma das mais nocivas doenças da alma: a acídia.
junho 28, 2012
Pobre Machado... Pobres de nós!
O
que seria uma “linguagem plenamente identificada, até hoje, com a melhor expressão brasileira”? E qual seria a “verdadeira identidade brasileira”? Seríamos
todos mulatos, epilépticos e sarcásticos?
Como
afirmei há alguns dias, este é realmente um tempo de simplismos, de raciocínios
esquemáticos e tristes generalizações. E há quem aplauda tudo isso!
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junho 05, 2012
Três indicações de leitura para quem não se considera um obstinado esquerdista
Se você, caro leitor,
não se considera um esquerdista contumaz, talvez tenha chegado o momento de
informar-se um pouquinho sobre o que está acontecendo na face da Terra. Para
tanto, indico três livros indispensáveis:
A tese central
deste livro é que a esquerda, havendo fracassado durante o século XX em seu
programa clássico (o socialismo), substituiu, no século XXI, a revolução
socioeconômica pela moral-cultural. A esquerda, assim, já não tem um projeto
econômico, mas um projeto cultural de “engenharia social”.
Eugenia Rocella
e Lucetta Scaraffia mostram, nesta obra, que os direitos humanos, aos quais se
referem todas as organizações sociais, vêm perdendo, ao longo dos anos, sua
característica original de código ético, convertendo-se, pouco a pouco, na base
ideológica de um relativismo totalitário.
O livro de
Monsenhor Juan Claudio Sanahuja aprofunda as questões levantadas nas obras
anteriores, fazendo-nos lembrar, a cada página, as palavras do cardeal Jean
Daniélou: “Não há nada pior que um idealismo otimista, em cujo nome certas
civilizações se consideram como representantes dos valores autênticos”.
Estes três
livros falam, basicamente, da nova ética que está sendo engendrada nos
bastidores da política mundial; na verdade, uma religião laica e ateia, cujos
princípios são muito simples:
1) Bem e mal são
conceitos relativos, variáveis de acordo com cada subjetividade. Nada é bom ou
mau em si.
2) As verdades
são mutáveis, ditadas por qualquer cientista que possua respeitabilidade
midiática ou anuência da Organização das Nações Unidas (ONU).
3) O conceito de
“direitos humanos” será permanentemente passível de modificações, negociado e
alterado ao sabor das pressões políticas e midiáticas.
4) O centro da
vida humana é o corpo. Cabe ao homem satisfazer suas vontades, seus apetites,
livre de qualquer injunção, salvo as estabelecidas pelos partidos que,
momentaneamente, ascendam ao poder, dos quais pode-se discordar em silêncio,
desde que estejamos prontos a obedecê-los.
maio 23, 2012
Romano Guardini e a angústia do homem moderno
“[…] A angústia
do homem da Idade Moderna, que é diferente da do homem medieval. Este também
sentia angústia, porque o senti-la é algo que pertence ao homem enquanto tal, e
o homem a sentirá sempre, ainda quando pareça que a ciência e a técnica podem
lhe dar uma segurança ainda maior. No entanto, a causa e o caráter da angústia
são diferentes em cada época. A angústia do homem medieval nascia, sem dúvida,
do peso da limitação cósmica frente ao ímpeto expansivo da alma, que encontrava
a calma nesse transcender constante a um mundo superior. A angústia da Idade
Moderna, ao contrário, procede, não em pequena medida, da consciência de não
ter nem um só ponto de apoio simbólico, nem refúgio que lhe ofereça seguridade
imediata; da experiência, renovada constantemente, de que o mundo não
proporciona ao homem um lugar de existência que satisfaça, de modo convincente,
as exigências do seu espírito.”
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maio 22, 2012
Ecclesia militans
Hoje, muitos
acreditam que a verdade não pode ser simples, objetiva, clara. O relativismo
transformou a realidade num cenário nebuloso, opaco, no qual todos têm razão.
Ou seja, onde ninguém está certo.
Em meio a estes
dias turvos, quando grande parte dos intelectuais e da mídia nos dizem que bem
e mal são indistinguíveis, o mal se traveste de humildade – e a mentira de inteligência.
Palavras que, num primeiro momento, impressionam agradavelmente, refletem,
depois de breve análise, o seu caráter contraditório e, muitas vezes, nocivo.
Numa realidade
assim, o discurso de Bento XVI, proferido ontem, num encontro informal com os
cardeais, ganha relevância surpreendente: “Hoje, a expressão ecclesia militans está um pouco fora de
moda, mas, na realidade, podemos sempre compreender melhor que ela é
verdadeira, carrega em si a verdade. Vemos que o mal está dominando o mundo e
que é necessário entrar em luta contra o mal. Vemos como ele o faz de tantas
maneiras, cruéis, com as diversas formas de violência, mas também mascarado
como bem e destruindo, dessa forma, os fundamentos morais da sociedade”.
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maio 19, 2012
Como corromper o pensamento de René Girard
Nesta entrevista,
entrevistador e entrevistado, usando palavras melífluas, destilam corrupção: passo
a passo, corrompem o pensamento de René Girard – e, pior, querem manipular
Girard para corromper a Igreja; querem instrumentalizar Girard para transformar a Igreja no que eles
desejam, no seu projeto particular e mesquinho. Como já afirmei aqui, eles
querem, de Girard, apenas o que pode servir às suas ideias corruptoras, mas não
querem a verdade de Girard – e a falsificam.
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maio 18, 2012
Males do crítico envergonhado
Se não há certezas,
se não há como definir o que é boa ou má literatura, então todos, absolutamente
todos – escritores, críticos, biógrafos, professores – deveriam ficar calados.
O relativismo, de
fato, contagia toda a cultura.
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maio 17, 2012
A coragem de Jean Daniélou, cardeal jesuíta
Minha primeira
ideia foi dar a este post um título
provocativo – A crise dos jesuítas na
América Latina, Parte 2 –, pois ele é, sob muitos aspectos, uma continuação
do texto que publiquei no início deste mês, repercutindo, com informações sobre
alguns dos jesuítas brasileiros, o artigo do vaticanista Andrés Beltramo, La crisis de los jesuitas (latinoamericanos).
Não o fiz,
contudo, para salientar a figura do cardeal Daniélou, cujo pensamento foi
objeto de recente jornada de estudos na Pontificia Università della Santa Croce,
em Roma, e de quem o vaticanista Sandro Magister publicou, há poucos dias, uma
incrível entrevista, originalmente feita em 1972, mas que apresenta respostas,
infelizmente atualíssimas, sobre as causas da decadência da vida religiosa.
Magister afirma
que, na época, “a entrevista foi lida como uma acusação lançada contra a
Companhia de Jesus”, e que o jesuíta Bruno Ribes, então diretor da revista Études, mostrou-se como um dos mais
ativos em destruir a reputação de Daniélou.
À parte essas questões,
a corajosa entrevista fala por si mesma (em espanhol, italiano, inglês e
francês). A seguir, alguns dos melhores trechos:
Penso que há,
atualmente, uma crise muito grave da vida religiosa e que não se deve falar de
renovação, mas, sim, de decadência. [...] Esta crise se manifesta em todas as
esferas. Os ensinamentos evangélicos já não são considerados como consagração a
Deus, mas são vistos numa perspectiva sociológica e psicológica. Preocupamo-nos
em não apresentar uma fachada burguesa, mas, no plano individual, não se
pratica a pobreza. A dinâmica de grupo substitui a obediência religiosa; com o
pretexto de reagir contra o formalismo, abandona-se toda a vida de oração segundo
as Regras [...].
A fonte
essencial dessa crise é uma falsa interpretação do Vaticano II. As diretivas do
Concílio eram claríssimas: maior fidelidade dos religiosos e religiosas às
exigências do Evangelho, expressadas nas Constituições de cada instituto e, ao
mesmo tempo, uma adaptação das modalidades dessas Constituições às condições da
vida moderna. [...] Mas, em muitos casos, as diretivas do Vaticano II são
substituídas por ideologias errôneas, colocadas em circulação por revistas, congressos
e teólogos. Entre esses erros, podemos mencionar:
– A
secularização. O Vaticano II declarou que os valores humanos devem ser levados
a sério. Jamais disse que devemos ingressar num mundo secularizado, no sentido
de que a dimensão religiosa já não haverá de estar presente na civilização; e é
em nome de uma falsa secularização que religiosos e religiosas renunciam aos
seus hábitos, abandonam suas obras para inserir-se em instituições seculares,
substituindo a adoração a Deus por atividades sociais e políticas. Entre outras
coisas, vão na contramão no que se refere à necessidade de espiritualidade que
se manifesta no mundo de hoje.
– Uma falsa
concepção de liberdade que leva consigo a desvalorização das Constituições e Regras,
e exalta a espontaneidade e a improvisação. Isto é tanto mais absurdo quanto a
sociedade ocidental sofre atualmente de uma ausência de disciplina da
liberdade.
– Uma concepção
errônea da mutação do homem e da Igreja. Ainda quando os contextos mudam, os
elementos constitutivos do homem e da Igreja são permanentes [...].
Como afirmei
acima, a entrevista tem incrível e triste atualidade. É como se o cardeal Daniélou
tivesse acabado de falar à Rádio Vaticano. E torna-se impossível, depois de ler
sua íntegra, não retornar aos textos de Andrés Beltramo [La crisis de los jesuitas (latinoamericanos) e Más de jesuitas latinoamericanos (impresentables)]
ou às afirmações que fiz em meu post.
E que repito: Não, não se trata de uma
crise eventual, infelizmente. Trata-se, na verdade, de nítida ruptura, de
escancarado desejo de insubordinação, de um patente movimento de secularização
e laxismo – que, pelo visto, teve início há várias décadas.
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maio 15, 2012
Quais seus desejos ou sentimentos agora?
O horizonte do homem contemporâneo está limitado, em
muitos casos, por um novo tipo de xamanismo. Os teólogos secularistas, os
novíssimos gurus, a vanguarda dos cientistas, pensadores e médicos politicamente
corretos, os escritores de autoajuda, a esquerda que recupera filosofias, símbolos e cultos pagãos: todos dançam nus, noite após noite, em
torno de uma imensa fogueira, embriagados por algum tipo de chá, sonhando que
copulam com golfinhos, ninfas, sátiros... São personagens de um vasto painel naïf, pueris em suas cantigas de roda, em
seu enaltecimento do corpo, em seus rituais dionisíacos, em sua crença de que
vivem além do bem e do mal, enquanto o mundo segue uma trajetória nada inocente.
Lembram Nietzsche dando entrada no manicômio de Jena: fazem grandes
reverências, andam de forma majestática, com o olhar preso ao teto, e agradecem
pela “magnífica acolhida”. As diversas formas de “amor a Gaia” representam uma
alucinação coletiva, um retorno ao que existe de mais primitivo. A esperança
foi acorrentada ao transitório por esses ilusionistas, seguidores tardios de Franz
Mesmer. E eles prometem, solenemente, o mais nobre dos fins ao homem de hoje, quando
lhe perguntarão, cheios de ingênua arrogância: “M. Valdemar, can you explain to us what are your feelings or wishes now?”.
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maio 09, 2012
Literatura, subjetivismo e covardia
Vivemos uma
época de simplismos. Ou melhor, um tempo no qual o simplismo e o raciocínio esquemático
pretendem substituir os caminhos do espírito que, demonstrando coragem e
maturidade, olha para si mesmo, em seguida, prolongadamente, para o real,
volta-se mais uma vez para o seu próprio eu – e só então expressa suas ideias,
seus sentimentos.
Esta é uma época na qual a imprudência e a precipitação brilham a cada textinho de quatro ou seis parágrafos, escrito com a arrogância de ser não só uma reflexão, mas de apontar caminhos, soluções, regras, quando não verdades.
Um tempo em que os textos fedem a rascunho, a esboço. A boa menina faz seu resuminho escolar com capricho, usa canetinhas coloridas para as flores das margens, numera as linhas – e fecha a página do caderno com delicada iluminura. Mas o texto continua um resumo. O esquematismo refulge a cada linha.
Assim, a coluninha de jornal se transforma em ensaio, o conto estendido em romance, as trinta linhas repetindo lições de Derrida em crítica literária.
Ora, quando o centro da consciência já não é a verdade, mas apenas o gosto efêmero, então o subjetivismo comanda. É o império dos croniqueiros, coelhinhos de olhar róseo, tiques nervosos e pelagem branca, apressados e superficiais. Tempo triste, desolador – não só para a literatura –, no qual os homens, sem perceber, se transformam em covardes, pois só têm uma única resposta aos seus desejos pessoais e ao senso comum: – Sim.
Esta é uma época na qual a imprudência e a precipitação brilham a cada textinho de quatro ou seis parágrafos, escrito com a arrogância de ser não só uma reflexão, mas de apontar caminhos, soluções, regras, quando não verdades.
Um tempo em que os textos fedem a rascunho, a esboço. A boa menina faz seu resuminho escolar com capricho, usa canetinhas coloridas para as flores das margens, numera as linhas – e fecha a página do caderno com delicada iluminura. Mas o texto continua um resumo. O esquematismo refulge a cada linha.
Assim, a coluninha de jornal se transforma em ensaio, o conto estendido em romance, as trinta linhas repetindo lições de Derrida em crítica literária.
Ora, quando o centro da consciência já não é a verdade, mas apenas o gosto efêmero, então o subjetivismo comanda. É o império dos croniqueiros, coelhinhos de olhar róseo, tiques nervosos e pelagem branca, apressados e superficiais. Tempo triste, desolador – não só para a literatura –, no qual os homens, sem perceber, se transformam em covardes, pois só têm uma única resposta aos seus desejos pessoais e ao senso comum: – Sim.
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abril 28, 2012
A ditadura do pensamento débil e a Igreja
“Sua mera
existência [da Igreja Católica] como ‘metarrelato’, como visão densa do mundo, que utiliza ainda um
conceito forte de verdade objetiva, resulta
intolerável numa atmosfera intelectual presidida pelo pensamento débil, pela
desconstrução pós-moderna, pela ‘ditadura do relativismo’ e pela convicção de
que a crença em absolutos é sinônimo de fundamentalismo e intolerância.”
fevereiro 11, 2012
O homem medíocre e seus escritores prediletos
“Ao
medíocre agradam-lhe os escritores que não dizem nem sim nem não sobre nenhum
tema, que nada afirmam e que tratam com respeito todas as opiniões
contraditórias. Toda afirmação lhe parece insolente, pois exclui a proposição
contrária. Mas se alguém é um pouco amigo e um pouco inimigo de todas as
coisas, o medíocre o considerará sábio e reservado, admirará sua delicadeza de
pensamento e elogiará o talento das transições e dos matizes.
Para
escapar da censura de intolerante, feita pelo medíocre a todos os que pensam
solidamente, seria necessário se refugiar na dúvida absoluta; e, ainda nesse
caso, seria preciso não chamar a dúvida pelo seu nome. É necessário formulá-la
em termos de opinião modesta, que preserva os direitos da opinião oposta, tomar
ares de dizer alguma coisa e não dizer nada. É preciso acrescentar a cada frase
uma perífrase açucarada: ‘parece que’, ‘ousaria dizer que’, ‘se é permitido
expressar-se assim’.” – Ernest Hello
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setembro 20, 2011
Os perigos da moda René Girard
De repente, no Brasil, dizer-se seguidor de René
Girard tornou-se uma espécie de chancela que, por si própria, atesta a
idoneidade, a sabedoria e a lucidez deste ou daquele autor. Comportamento,
aliás, típico do nosso subdesenvolvimento cultural. Em nome desse novo modismo agora
publica-se de tudo, independente de quem seja o autor. É o caso de O pecado original à luz da ressureição: a alegria de se perceber equivocado, do heterodoxo, controvertido e repreensível
teólogo James Alison, cujas teses sobre o homossexualismo – escritas num estilo
melífluo, que engana os desavisados – são frontalmente contrárias ao Magistério da Igreja. Para completar as heresias do volume, a É Realizações convidou o padre J. B. Libanio (um sociólogo marxista que se acredita teólogo) para escrever a apresentação. Ao que parece, Alison leu, de Girard, apenas o que lhe interessa – e esqueceu de ler o essencial. Quanto à editora, é uma pena que esteja se transformando em mais um braço do esquerdismo tupiniquim.
setembro 08, 2011
A bondade é mais interessante que a maldade
Uma frase da
escritora Anne Rice, publicada por certo amigo no Facebook, revela, de maneira
indireta, qual o senso comum destes dias, inclusive entre escritores. Para
Rice, “é triste que não possamos fazer a bondade ser tão interessante quanto a
maldade”. A autora, conhecida por suas tramas de vampirismo – e que teria voltado
à Igreja Católica em 1998 –, mostra-se melancólica em relação ao fato de a
temática do bem não produzir tantos adeptos quanto a literatura que narra o
mal. Teríamos nos acostumado à maldade? E estaríamos realmente impedidos de transformar
a bondade num tema capaz de despertar interesse?
Esse é o
problema da rápida reflexão de Anne Rice: ela só exprime o senso comum. Pois, como
respondi a meu amigo, a bondade é mais interessante que a
maldade. A verdade parece ser o contrário apenas porque somos massacrados – do
noticiário à literatura – por todas as formas de mal, dia após dia. Nossa
cultura niilista, devota do pessimismo, insiste em nos apresentar o mal como a regra
de todos os homens – e exatamente por esse motivo nada, absolutamente nada,
pode ser mais entediante do que a maldade.
Se o homem
contemporâneo é descrito por muitos como a figura do egoísmo, do vazio e da
frivolidade, se a vilania tornou-se vitoriosa na ficção, em parte da poesia e,
se acreditarmos no que diz a mídia, também na realidade, isto se deve ao
cinismo que a cultura erudita do século XX elevou à categoria de deus. Mas se
dermos ao homem enfadado pela maldade um só gesto, uma só página de bondade, ele
se sentirá renovado, quando não desorientado, pois a bondade – neste mundo que aparentemente
cultua o mal – inquieta, perturba, estimula.
agosto 13, 2011
Recuperar Ernest Hello
Crítico de Ernest Renan e René Descartes, Ernest Hello (1828-1885) é um nome infelizmente pouco lembrado nos dias de hoje. Filósofo, ensaísta, crítico literário, biógrafo e tradutor (de Ângela de Foligno e Van Ruysbroeck), foi influenciado por Barbey d'Aurevilly e por São João Maria Batista Vianney, o Cura d’Ars, a quem conheceu pessoalmente e que dele diria: “Monsieur Hello a reçu de Dieu le génie”.
Ernest Hello marcou o pensamento de Leon Bloy (que o considerava seu mestre), Georges Bernanos, Paul Claudel e vários outros. Foi depois de ler seu livro O Homem que Garrigou-Lagrange decidiu abandonar a medicina e ingressar na Ordem dos Dominicanos, tornando-se, mais tarde, notável filósofo e teólogo.
São nomes como esse que precisamos recuperar, por razões evidentes para quem é leitor deste blog.
A seguir, algumas citações atualíssimas de Hello – apenas um aperitivo, para estimular a inteligência e a sensibilidade dos amigos:
O homem medíocre
Ao medíocre agradam-lhe os escritores que não dizem nem sim nem não sobre nenhum tema, que nada afirmam e que tratam com respeito todas as opiniões contraditórias. Toda afirmação lhe parece insolente, pois exclui a proposição contrária. Mas se alguém é um pouco amigo e um pouco inimigo de todas as coisas, o medíocre o considerará sábio e reservado, admirará sua delicadeza de pensamento e elogiará o talento das transições e dos matizes.
Para escapar da censura de intolerante, feita pelo medíocre a todos os que pensam solidamente, seria necessário se refugiar na dúvida absoluta; e, ainda nesse caso, seria preciso não chamar a dúvida pelo seu nome. É necessário formulá-la em termos de opinião modesta, que preserva os direitos da opinião oposta, tomar ares de dizer alguma coisa e não dizer nada. É preciso acrescentar a cada frase uma perífrase açucarada: “parece que”, “ousaria dizer que”, “se é permitido expressar-se assim”.
O gélido fantasma da fealdade
É importante estudar a lógica do delírio. Temos de segui-la passo a passo. Se o homem sempre tivesse associado em sua mente a beleza com o bem, a beleza continuaria sendo a beleza e o bem seguiria sendo o bem; o homem, permanecendo fiel à primeira, teria sentido, então, que permanecia fiel ao segundo. Mas, tendo o homem dito, tendo permitido aos escritores dizer que os tipos do belo deviam se encontrar ali onde o bem já não se encontrava, isto é, nos crimes audazes, nos escândalos de repercussão; que a desordem e o gênio eram a mesma coisa; havendo, pois, pensado o homem que a ideia do belo e a ideia do bem eram duas ideias contraditórias, concluiu que a ideia do belo era contraditória consigo mesma e terminou por dizer: o belo é o feio! Magnífica homenagem prestada à unidade pelos que haviam perdido a noção de unidade! Eles nos provaram que a ideia do belo, quando não está associada com a ideia da ordem, do verdadeiro, do bem, nega-se a si mesma e já não se reconhece. Eles nos provaram que quando o homem quer colocar suas mãos na beleza, desprendida da ordem, associada à ideia de desordem, a beleza que deseja alcançar escapa em eterna fuga; o objeto vacila e, na mão do homem enganado, resta o gélido fantasma da fealdade.
Crítica ao laxismo
O nome da caridade se volta contra a luz sempre que, ao invés de esmagar o erro, pactua com ele, sob o pretexto de se comportar prudentemente em relação aos homens. O nome da caridade se volta contra a luz todas as vezes em que é empregado para fraquejar na execração do mal.
O homem transige na presença da debilidade que quer invadi-lo quando adquiriu o hábito de chamar de caridade o acomodamento universal de toda debilidade, ainda que remota.
agosto 10, 2011
Reflexões sobre o católico escritor
No ensaio que escreveu sobre François Mauriac – “Mauriac?” –, Otto Maria Carpeaux, com sua característica consistência, cria não só um roteiro seguro para se conhecer as bases do pensamento desse romancista francês, mas, sopesando aspectos positivos e negativos, estabelece, de maneira indireta, as linhas mestras da ficção e do ensaísmo católicos.
De antemão afirmo que não se trata, neste texto, de colocar o problema da possibilidade de uma ficção católica brasileira contemporânea. E por um simples motivo: o tema não me preocupa, pois, sob o ponto de vista teológico, o qual não desprezo nem um pouco, “o Espírito sonda todas as coisas, até mesmo as profundidades de Deus” (1Co 2,10). Ou seja, apesar do ateísmo, do materialismo e de todos os demais “ismos” que proliferam hoje, a oportunidade de uma literatura que se pretenda católica está presente, ainda que desprezada por certa intelligentsia cínica – e fadada a cumprir, sem qualquer demérito, o papel de sal e fermento: desaparecer, mas para dar sabor e volume; para ocupar, no substrato da cultura, um papel talvez despercebido, mas jamais secundário.
As perguntas que me coloco são outras: de que trata uma literatura católica? Ou um ensaísmo católico? O que significa ser católico e também escritor?
Seguindo o raciocínio de Carpeaux, há um tema básico: o pecado. Por sua própria natureza, o homem vive em oposição à vontade de Deus; sua inclinação para o bem está debilitada. O senso comum, se deseja compreender esta questão, precisa abandonar a ideia de pecado enquanto mera desobediência a preceitos religiosos. Para a teologia católica, o pecado é uma tendência natural, um “hábito inato”. Por razões sobre as quais não tratarei aqui, o homem tende ao mal. Assim, se o pecado é, como diz Carpeaux, “o caminho da morte e da vida”, será inevitável ao escritor católico se defrontar com esse tema.
Mas como fazê-lo? Segundo Carpeaux, com a “inquietação” de Mauriac. Mas não só. Usando de finíssima ironia, o ensaísta nos aponta o caminho: abandonar os moralismos. Ele nos dá um exemplo curioso, próprio do que ocorria quando escreveu seu texto, ao criticar aqueles que, “em meio ao incêndio da civilização cristã e à difamação do nome cristão por povos cristãos, se ocupam dos maillots na praia”. Mas também nós corremos esse perigo, apesar de não estarmos vivendo as consequências da Segunda Guerra Mundial e os maiôs já não serem novidade, visto que há sempre o risco de colocarmos “a ética antes do ser”, como afirma Bento XVI, lembrando que “o cristianismo não é um moralismo”, pois “não somos nós que temos de realizar aquilo que Deus espera do mundo, mas em primeiro lugar temos de entrar” no que o Papa chama de “mistério ontológico: Deus entrega-se a si mesmo. O seu ser, o seu amar precede o nosso agir [...]”.
Um católico, incluindo aqueles que são escritores, deve compreender que, apesar da indiscutível realidade do pecado, Deus deseja conceder ao homem um novo ser. “Esta é a grande dádiva”, diz Bento XVI, “o ser precede o agir e a partir dele segue-se, depois, o agir, como uma realidade orgânica, porque o que somos, podemos sê-lo também na nossa atividade”. É assim que Deus nos aparta do moralismo, pois ser cristão não significa apenas “obedecer a uma lei que está diante de nós, mas simplesmente [...] agir em conformidade com a nossa nova identidade”. Não se trata, portanto, de “uma obediência, algo exterior, mas sim uma realização do dom do novo ser”.
Voltando a Carpeaux, trata-se, portanto, para o ficcionista, de “resolver o problema do pecado e da graça (literariamente, não teologicamente)”, de “não desfigurar o seu cristianismo em moralismo”. Graça – ou seja, doação, pois Deus “se nos doou antecipadamente a si mesmo, entregando-nos o seu amor”, lembra o Papa.
Outro risco é “petrificar-se” no pietismo, o que Carpeaux chama de “catolicismo de fórmulas vazias”. Ele não se refere apenas à tese da superioridade da fé sobre a razão, mas àquela tendência de responder ao pecado não por meio de uma vida autenticamente evangélica, mas de uma religiosidade superficial, apegada a manifestações sentimentais.
Carpeaux também defende o abandono de quaisquer mediações: o artista deve enfrentar os problemas do seu tempo, sob pena de, recusando-se a fazê-lo, condenar-se ao laxismo (afirmação, aliás, extremamente contemporânea). Assim, nosso crítico repudia o intelectual apenas “bem-pensante”, que privilegia seu comodismo e prefere fazer concessões a se defrontar com temas espinhosos. Carpeaux, com razão, qualifica esse tipo de católico como “um abastardamento” do escritor.
Amor criativo
Em busca de escritores que sejam mais do que “filhos dos seus confessores”, Otto Maria Carpeaux demonstra ter um objetivo claro: “A própria vida, assunto do romance, é o caminho da santidade”.
Um novo elemento se adiciona, dessa forma, ao nosso raciocínio: a que se refere o crítico quando diz “santidade”? O santo é aquele que, tendo compreendido as realidades do pecado e da graça, cinge-se àquele “mistério ontológico” sobre o qual falamos acima e descobre a verdadeira alegria, que não é apenas laetitia, mas gaudium, júbilo, regozijo. “Quem se deixou sensibilizar por este mistério, que Deus se revelou, rasgou o véu do templo e mostrou o seu rosto, encontra uma fonte de alegria permanente”, diz Bento XVI.
Vejo, a partir deste ponto, uma estrada com duas vias: numa, encontro o escritor que compreende o mistério, ou que ao menos deseja desvendá-lo, e por esse motivo busca, em sua vida pessoal, a santidade – e na outra descubro o mesmo escritor, traduzindo, por meio da escrita, as quedas e recaídas do homem que, dividido entre o pecado e a graça, anseia experimentar, concretamente, a verdadeira alegria. Ocorre que este escritor é indissociável do primeiro: ele sabe, portanto, que viver na graça “é amor, amor criativo, que encontra sozinho a riqueza, a abundância do bem”, segundo o que nos ensina Bento XVI – e também por esse motivo escreve.
Mas, atenção: quando Bento XVI diz que “quanto mais repletos estivermos desta alegria de ter descoberto o rosto de Deus, tanto mais o entusiasmo do amor será autêntico em nós e produzirá fruto”, ele não se refere a uma vida desgarrada da realidade, na qual só há espaço para o arroubo místico, mas a experiências concretas – tão palpáveis quanto o ato de escrever um livro. Carpeaux tem consciência disso; e por esse motivo pode dizer, graças não só à erudição, mas principalmente movido por sua fé, que “um romance católico que pretende ignorar o pecado, é mentira” – e “um romance católico que inclui e supera o pecado, tem valor de teodiceia”, ou seja, pode defender e justificar a crença em Deus.
Humanismo cristão
Retomando a questão da santidade, o católico que é escritor deve saber – exatamente como Santa Teresa de Jesus – que “a morte dá à história a sua verdadeira medida”. É o que lemos no ensaio de Carpeaux (“A lição de uma santa”) sobre essa religiosa carmelita canonizada em 1622, a quem Paulo VI concederia, em 1970, o título de Doutora da Igreja. Teresa, ela própria sublime escritora, serve como modelo aos intelectuais católicos contemporâneos, ficcionistas ou não. Seus escritos e sua vida confirmam a abundância gratuita que nasce do “amor criativo”, seiva que o escritor, ramo da videira, sorve e distribui, repleto de alegria por ter descoberto o rosto de Deus. Não é à toa que Teresa exclama, em meio aos seus textos, “Oxalá pudesse eu escrever com muitas mãos!”.
Só intelectuais dessa estirpe podem deixar uma obra capaz de confrontar, ao longo dos séculos, heresias, modismos, miragens fabricadas pela estultícia humana. E Teresa alcançou esse objetivo exatamente por não almejar tal glória. Como acertadamente afirma Juan Marichal (La voluntad de estilo – teoría e historia del ensayismo hispánico), “em Santa Teresa opera sobretudo um princípio espiritual oposto ao de todo criador artístico: porque ela desejava testemunhar, com seus escritos, mais sua condição de criatura [grifo do autor] do que seu poder de criadora”.
“Não se dá esse rei senão a quem se entrega de todo”, dizia Santa Teresa – e foi o seu fervor que a transformou num dos melhores símbolos do que Carpeaux chama de “notável e estranha oposição do humanismo cristão”. Oposição à qual os católicos são constantemente chamados, hoje e sempre. Quando prepondera a autossuficiência humana – nada mais que um neopelagianismo –, o católico que escreve alerta para os limites do homem e sua dependência em relação a Deus. Quando a ciência pretende se tornar um novo baal, o católico que escreve recorda os milhares de crimes perpetrados em nome da razão. Quando se propagandeia o espírito revolucionário, o católico que escreve relembra os totalitarismos e se recusa a fazer da história uma tábula rasa. Quando o humanismo ateu deseja se impor, o católico que escreve clama contra a falsa ética dessa deformação do pensamento, sempre pronta a instituir o hedonismo e a egolatria como leis gerais.
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