Quando todos, graças à Internet, podem escrever e publicar suas supostas verdades, os “balbucios das tagarelices literárias”, para usar a expressão de Roth, podem ser mais verdadeiros que o depoimento do próprio escritor? Não se trata, é claro, de sermos ingênuos e simplesmente acreditarmos em Roth. Trata-se de perceber o traço kafkiano desse novo tempo, em que qualquer um pode ser a “secondary source” exigida pela Wikipédia.
outubro 30, 2012
A Internet e o “mundo da veracidade”
A longa carta
aberta (publicada na The New Yorker e
traduzida no Caderno Link, de O Estado de
S. Paulo) que o escritor Philip Roth escreveu à Wikipédia é, sem dúvida, notável
mergulho no processo de criação do romance A
marca humana. Contudo, quanto mais avançamos no texto, mais lateja em nossa
mente o absurdo que provocou a carta: a proibição de que o próprio Roth corrigisse
– nessa famosa, errônea e imprecisa enciclopédia virtual – o verbete que fala
do seu romance.
Quando todos, graças à Internet, podem escrever e publicar suas supostas verdades, os “balbucios das tagarelices literárias”, para usar a expressão de Roth, podem ser mais verdadeiros que o depoimento do próprio escritor? Não se trata, é claro, de sermos ingênuos e simplesmente acreditarmos em Roth. Trata-se de perceber o traço kafkiano desse novo tempo, em que qualquer um pode ser a “secondary source” exigida pela Wikipédia.
Quando todos, graças à Internet, podem escrever e publicar suas supostas verdades, os “balbucios das tagarelices literárias”, para usar a expressão de Roth, podem ser mais verdadeiros que o depoimento do próprio escritor? Não se trata, é claro, de sermos ingênuos e simplesmente acreditarmos em Roth. Trata-se de perceber o traço kafkiano desse novo tempo, em que qualquer um pode ser a “secondary source” exigida pela Wikipédia.
Marcadores:
Philip Roth
outubro 26, 2012
outubro 25, 2012
Vamos ao que importa!
No tempo de
minha bisavó, até receitas de bolo eram escritas com perfeição. Vovó Nenê, como
a chamávamos carinhosamente, nossa primeira professora de inglês e francês, línguas
nas quais era fluente, diria, ao terminar a leitura: “– Que português
escorreito, meu filho!”.
Amasse com água que baste 75 gramas de farinha de trigo (obra de uma xícara de chá rasa) e um tablete de fermento, deixando levedar. Ponha numa vasilha grande 250 gramas de farinha de trigo em forma de círculo, no centro do qual coloque 100 gramas de açúcar (obra de uma xícara de chá rasa) e incorpore a este 25 gramas de manteiga (obra de uma colher de sopa), um ovo inteiro, uma gema, uma pitada de sal, raspa de noz-moscada e a massa do fermento. Vá amassando tudo com as pontas dos dedos, incorporando, por fim, a farinha que ficou ao redor. Amasse bem. Tome um copo, encha-o pela quarta parte com cerveja branca e complete, até atingir a metade do copo, com uma mistura em partes iguais de rum, vinho do Porto ou quinado e conhaque. Adicione à massa esse meio copo de líquido, aos poucos. Sove durante quinze minutos e junte 250 gramas de frutas cristalizadas, cortadinhas. Amasse um pouco mais e deixe levedar, cobrindo com um pano, por três ou quatro horas. Unte uma forma de pizza com 35 centímetros de diâmetro e no seu centro coloque uma tigela pirex com 12 centímetros, virada de boca para baixo. Polvilhe bem a mesa com farinha e aí disponha a massa, dando-lhe o formato de uma tira cujas pontas serão unidas formando o anel que você deverá colocar na forma, contornando o pirex. Enfeite esse anel com algumas tiras de laranja e cidra cristalizadas, como se fossem os raios de uma roda. Enfeite também com dois figos partidos ao meio. Cubra com um pano e deixe crescer bem. Pinte com um ovo inteiro batido com uma colher (de chá) de açúcar e, nos intervalos, disponha uns traços de um centímetro de largura com açúcar, acompanhando o desenho das tiras de laranja. Asse em forno brando e, quando espetar e o palito sair seco, estará pronto.
Bolo Rei
Amasse com água que baste 75 gramas de farinha de trigo (obra de uma xícara de chá rasa) e um tablete de fermento, deixando levedar. Ponha numa vasilha grande 250 gramas de farinha de trigo em forma de círculo, no centro do qual coloque 100 gramas de açúcar (obra de uma xícara de chá rasa) e incorpore a este 25 gramas de manteiga (obra de uma colher de sopa), um ovo inteiro, uma gema, uma pitada de sal, raspa de noz-moscada e a massa do fermento. Vá amassando tudo com as pontas dos dedos, incorporando, por fim, a farinha que ficou ao redor. Amasse bem. Tome um copo, encha-o pela quarta parte com cerveja branca e complete, até atingir a metade do copo, com uma mistura em partes iguais de rum, vinho do Porto ou quinado e conhaque. Adicione à massa esse meio copo de líquido, aos poucos. Sove durante quinze minutos e junte 250 gramas de frutas cristalizadas, cortadinhas. Amasse um pouco mais e deixe levedar, cobrindo com um pano, por três ou quatro horas. Unte uma forma de pizza com 35 centímetros de diâmetro e no seu centro coloque uma tigela pirex com 12 centímetros, virada de boca para baixo. Polvilhe bem a mesa com farinha e aí disponha a massa, dando-lhe o formato de uma tira cujas pontas serão unidas formando o anel que você deverá colocar na forma, contornando o pirex. Enfeite esse anel com algumas tiras de laranja e cidra cristalizadas, como se fossem os raios de uma roda. Enfeite também com dois figos partidos ao meio. Cubra com um pano e deixe crescer bem. Pinte com um ovo inteiro batido com uma colher (de chá) de açúcar e, nos intervalos, disponha uns traços de um centímetro de largura com açúcar, acompanhando o desenho das tiras de laranja. Asse em forno brando e, quando espetar e o palito sair seco, estará pronto.
Marcadores:
memórias
outubro 18, 2012
Marisa Lajolo resenha meu livro, “Muita retórica – Pouca literatura”
Marisa Lajolo
faz, neste texto publicado inicialmente no Facebook, um interessante diálogo
com meu livro. Uma leitura que aponta discordâncias, mas de maneira ética,
equilibrada, sábia. Leitura lobatiana, com aquela argúcia que Monteiro Lobato
nunca deixou de lado – e que Marisa Lajolo, decana dos estudos lobatianos, não
poderia deixar de ter.
Vamos a ele!
BOA RETÓRICA E BOA LITERATURA
Marisa Lajolo
Nas cores sóbrias da capa de Muita retórica – Pouca literatura (Campinas, SP: Vide Editorial)
uma figura de rosto borrado parece escrever em folhas que levantam voo e
transformam-se em pássaros. A capa é sedutora. O título intrigante provoca o
leitor. Mas o suspense se desfaz no subtítulo: De Alencar a Graça Aranha.
E é efetivamente pela prosa brasileira que Rodrigo Gurgel –
o autor do livro – passeia, compartilhando com seus leitores juízos sobre
escritores e obras do século XIX e comecinho do XX. Leitor rigoroso, de dedo em
riste e olhar severo, o crítico aponta e discute cochilos e acertos – de
diferentes ordens de grandeza – de nossos escribas.
É claro que o leitor não precisa concordar com Gurgel. Eu,
por exemplo, acho que Lucíola e O cortiço são grandes obras. Gurgel não
acha, mas ele expõe seus argumentos com tanto talento (a boa retórica!) que
fico obrigada a ir buscar os meus para discordar dele. O que é uma bela forma
de a crítica cumprir sua função de aprimorar a leitura.
Aprimorar a leitura literária não é concordar com nosso
interlocutor. Seja ele quem for. É respeitar leituras alheias, pois literatura
é um entrelaçamento de obras e de leituras que as obras receberam. O leitor que
decida em qual malha desta rede quer meter sua colher torta.
Este livro tem bastidores muito interessantes: ele nasce de
ensaios que seu autor publicou inicialmente no excelente jornal Rascunho, de Curitiba. E tem suas
primeiras discussões em formato bastante original. Gurgel lança o livro fazendo
uma palestra no YouTube e disponibilizando em seu blog longa entrevista que deu ao jornal santista A Tribuna.
Claro que nas respostas à entrevista e no calor da hora da
gravação vêm à tona detalhes do livro, outras opiniões de seu autor, enfim,
aquele making off que tanto delicia
fãs (como eu) de filmes em DVD. É aí, nestes bastidores e no day after, que Gurgel aponta, de forma
explícita e direta, um tópico que, no seu livro, é reafirmado ao longo dos
vinte ensaios que o compõem: a pluralidade dos domínios do conhecimento
necessários ao discurso que fala de literatura.
Filosofia, História, Sociologia, Retórica... muitos são os
sotaques que podem entrecruzar-se na fala do crítico e vários deles,
efetivamente, comparecem à fundamentação da crítica de Gurgel. E alguns outros
ele expulsa definitivamente, como os pobres linguistas estruturalistas, por si
mesmos afastados do palco (!) mas imediatamente substituídos por outros
fundamentalismos.
Vem da filosofia – do espanhol Ortega y Gasset – um dos
pressupostos do pensamento de Gurgel. A ideia de que eu sou eu + minha
circunstância inspira a amplificação que o crítico faz de uma obra para além
das palavras que seu autor escreve, e permite a ele (crítico) discutir a obra
entendendo-a como amplificadora da experiência humana.
Foi aí que Gurgel me pegou.
E a circunstância do leitor? E a circunstância do momento de
cada uma de suas leituras? Não seriam determinantes de sua compreensão da obra
e de sua valorização?
Eu, por exemplo, gosto de Inocência, livro que Gurgel considera um romancinho sentimental, onde o diminutivo desqualifica. Lembro
de ter lido o livro com onze para doze anos. Lição de escola, de Dona Maria
Luíza. Mas... havia uma menina na minha classe chamada Inocência, chata como a
peste. Petulante e convencida. Fui ler o
livro com a maior má vontade inspirada na homônima da heroína. Mas o livro me
emocionou: me comoveu a subalternidade da menina ao pai autoritário, a
confiança dela no padrinho, a delicadeza da homenagem representada por dar o
nome dela a uma borboleta...
Vinguei-me de minha colega apelidando-a de papilosa e acho que foi aí que me tornei
leitora de romances e aprendi a lidar com leituras alheias, matéria-prima de
professores de literatura.
Ou seja: como lidar com as infinitas circunstâncias em que
leitores leem o que leem? Este livro de Gurgel sugere várias destas maneiras.
Ele nunca se esquece, por exemplo, de que está falando em público de suas
leituras privadas. Franqueia, pois ao leitor sua circunstância de leitura,
atribuindo a seus leitores reações que bem podem ter sido as suas: se você, leitor, teve vontade de rir, não se
sinta constrangido (115). Ou justificando suas decisões discursivas: ideia sobre a qual nem me darei ao trabalho
de comentar, tamanho o seu despropósito (143).
Ou ainda, mencionando outros críticos e pensadores com os
quais concorda ou dos quais diverge. Ou transcrevendo os textos dos romances
nos quais se apoiam suas observações, ou tirando da estante prosadores que têm
passado em branco na história canônica da literatura brasileira. Desta lista de
prosadores brasileiros do B que Muita retórica – Pouca literatura
apresenta, destaco a agradável surpresa que representa a leitura que Gurgel faz
de João Francisco Lisboa e de Joaquim Felício dos Santos.
Ou seja: todas aquelas folhas em revoada na primeira capa do
livro voltam obedientes à escrivaninha do crítico e compõem um livro
extremamente corajoso e provocador.
Vamos a ele!
outubro 10, 2012
Texto integral da entrevista que concedi ao “A Tribuna”, de Santos
A entrevista que concedi ao jornal A Tribuna, de Santos, publicada no último sábado (imagem acima) saiu, por problemas de espaço, com alguns cortes. A seguir, publico a íntegra do bate-papo que tive, por e-mail, com o jornalista César Miranda:
A Tribuna: Entre
os autores analisados em seu livro encontram-se nomes clássicos (José de
Alencar, Manuel Antônio de Almeida, Raul Pompeia, Machado de Assis, Graça
Aranha etc.). Além destes ficcionistas, há também prosadores como João
Francisco Lisboa, Joaquim Felício dos Santos, Eduardo Prado, Nabuco e Taunay.
Por que a escolha dos escritores acima? Qual foi o critério? Tem alguma
admiração por eles?
Rodrigo Gurgel: O livro é uma compilação da série de
ensaios que iniciei, em 2010, no jornal Rascunho,
de Curitiba. Sou crítico literário do jornal desde 2006, mas em 2010 iniciei
essa série, cujo objetivo é reler os principais prosadores da literatura
brasileira, sejam ficcionistas ou não. A escolha desses autores nasce,
portanto, não de uma admiração pessoal, mas da necessidade de empreender esse
trabalho de releitura da prosa nacional. Trabalho, aliás, que continua e
chegará aos prosadores contemporâneos. Nesse primeiro volume, agora publicado,
tratamos dos prosadores do século XIX.
A Tribuna: Por
que considera Canaã, de Graça Aranha,
“o mais pedante romance brasileiro”?
Rodrigo Gurgel: Canaã
é um romance artificial, construído com o objetivo de defender algumas teses
caras ao seu autor. É apenas um mosaico de estilos diferentes, montado sobre um
plano esquemático, carregado de psicologismo hiperbólico e rasteiro. Vejam-se
os diálogos do romance: os personagens não conversam realmente, com
naturalidade, mas as falas são apenas justapostas, de maneira que cada
personagem represente um sistema filosófico ou determinados valores. É uma
sucessão monótona de discursos, na qual, aliás, o povo brasileiro é
ridicularizado do começo ao fim. Há algumas cenas famosas, que se tornaram
antológicas, como a do parto de Maria, quando o recém-nascido é devorado pelos
porcos, mas elas somente reforçam o esquematismo do romance. Como disse Otto
Maria Carpeaux, “Canaã só convence leitores inexperientes”. Por todos esses
motivos, o romance é de um pedantismo ímpar.
A Tribuna: Qual
sua opinião sobre a crítica literária atual?
Rodrigo Gurgel: A crítica literária atual, no Brasil,
pode ser dividida em dois grandes grupos. De um lado, temos críticos que seguem
as escolas estruturalistas e pós-estruturalistas. Eles pretendem submeter a
literatura a certas análises predominantemente lingüísticas, como se apenas a
lingüística pudesse dar conta das inúmeras características que compõem uma obra
literária. Esses críticos usam, quase sempre, um jargão cansativo, hermético,
que afasta o leitor e, na verdade, acaba não explicando nada. Thomas Pavel, um
dos críticos dessas escolas, diz, com acerto, que elas apenas criaram um “verniz
onírico”, mais nada. De outro lado, temos críticos que, seguindo ou não o
estruturalismo e o pós-estruturalismo, negam-se a realmente criticar. Eles
sofrem do que eu chamo de síndrome do crítico envergonhado. É uma espécie de
bom-mocismo, um tipo de hipocrisia. Esses críticos dizem que é impossível
julgar, que ninguém pode dizer se uma obra literária é boa ou não, se uma obra
literária deve ser lida ou não. Na verdade, o que eles querem é ser amigos de
todo mundo, passar a mão na cabeça dos escritores e tratar todos da mesma
forma, inclusive os que são medíocres. É claro que há críticos que fogem a
esses dois grupos, mas formam a minoria das minorias.
A Tribuna: Quais
críticos literários o senhor admira?
Rodrigo Gurgel: Otto Maria Carpeaux, um austríaco que
se naturalizou brasileiro e nos deixou muito mais que uma obra voltada à
crítica literária, mas o trabalho de um verdadeiro humanista, é, sem exageros,
genial. Outros críticos que sempre releio, pelos quais tenho grande admiração,
são Samuel Johnson, Charles Moeller, Northrop Frye, Edmund Wilson, Lionel
Trilling, Joseph Pearce e Marcel Reich-Ranicki. Entre os brasileiros, gosto de
Álvaro Lins, Augusto Meyer, Lúcia Miguel-Pereira, Temístocles Linhares, Wilson
Martins e, mais recentes, Alexandre Eulalio, João Alexandre Barbosa, Marisa
Lajolo, Alcir Pécora e Moacir Amâncio. No que se refere aos brasileiros,
citá-los não significa que concorde sempre com eles, mas são grandes inteligências,
que vêem a literatura não apenas sob o aspecto formalista, mas como um diálogo
com a experiência humana.
A Tribuna: No
bate-papo com leitores, o senhor vai falar também sobre a obra do escritor
Olavo de Carvalho. Inclusive, o senhor fez o texto da orelha do livro A filosofia
e seu inverso. Qual importância desse
livro do Olavo de Carvalho?
Rodrigo Gurgel: Olavo de Carvalho tem importância
fundamental na cultura brasileira. Seu livro O imbecil coletivo é um marco dos estudos culturais no Brasil e
será relido por todas as gerações futuras. Sem ele, será impossível ao
estudioso entender como a hegemonia marxista transformou o Brasil no paraíso da
mediocridade. Olavo também elaborou um original, seriíssimo trabalho de análise
do pensamento de Aristóteles, no seu Introdução
à Teoria dos Quatro Discursos. Além disso, ele é um polemista magistral,
uma das raríssimas vozes que tiveram a coragem de, nas últimas décadas, se
antepor à nefasta hegemonia cultural da esquerda. Neste seu último livro, A filosofia e seu inverso, que reúne alguns
de seus artigos e ensaios produzidos nos últimos anos, ele recusa, mais uma
vez, o doutrinamento pós-moderno, ou seja, recusa-se a aceitar o tripé
corruptor dos tempos atuais, um tripé formado por relativismo, hedonismo e
ateísmo.
A Tribuna: Quando
nasceu sua paixão pelas letras? Existe algum fato marcante?
Rodrigo Gurgel: Creio que nasceu do amor pelos livros,
algo que, na minha família, sempre foi natural. Nós convivíamos com os livros
como se fizessem parte da família. Lembro-me que meu pai me colocava sentado
sobre o tampo da sua escrivaninha, abria no meu colo um dos volumes do Tesouro da Juventude e lia histórias
para mim. É minha primeira lembrança em relação aos livros. Meu pai tinha uma
vasta biblioteca, formada principalmente de livros jurídicos, e meus irmãos, minha
mãe e eu tínhamos de, uma vez por ano, limpar todos os volumes, tarefa que
demorava vários dias... Era uma festa, um trabalho feito com união, amor,
alegria. Portanto, ler, para mim, sempre foi algo tão natural quanto respirar.
Lembro-me, por exemplo, de minha avó paterna, que me deu para ler As mil e uma noites. E também da
discussão que meu pai provocou, quando descobriu que ela me dera Madame Bovary para ler. Eu só tinha doze
anos. Depois da discussão, que presenciei, minha reação foi a mais esperada:
ler Flaubert com atenção ainda maior.
A Tribuna: Quais
são os livros que o acompanham em suas viagens? Que tipos de enredos prefere?
Rodrigo Gurgel: Ler apenas por prazer tornou-se algo
muito raro na minha vida, infelizmente. Estou sempre lendo por motivos profissionais.
Mas se tivesse de escolher alguns livros para ler despreocupadamente, apenas
por prazer, eu ficaria com os escritores que mais amo: Flannery O’Connor,
George Bernanos, Henry James, Joseph Conrad, Tolstói e Dostoyevski.
A Tribuna: O
que o senhor leu recentemente que acha que vale a pena ler?
Rodrigo Gurgel: O ensaio de Ricardo Souza de Carvalho, A Espanha de João Cabral e Murilo Mendes;
e Rumor dos cortejos, uma coletânea
de poesia cristã francesa do século XX, organizada e traduzida por Pablo
Simpson.
A Tribuna: Gostaria
de acrescentar algo mais?
Rodrigo Gurgel: Olavo
de Carvalho diz, com acerto, que “a crítica literária é a primeira disciplina
filosófica, porque a crítica é a expressão intelectual mais imediata da própria
experiência literária”. E a experiência literária, por sua vez, nada mais é que
uma abertura à variedade da experiência humana. Ler literatura, portanto, é
alargar a imaginação, ampliar nossa visão sobre as possibilidades da
existência, inclusive sobre as possibilidades éticas ou morais da existência.
Se entendemos a literatura assim, então a função do crítico é mostrar essas
possibilidades, tomar o leitor pela mão e mostrar a ele um dos inúmeros
caminhos possíveis. Para fazer isso, ele precisa recusar a arrogância
epistêmica e o monismo de julgamento que imperam hoje. Ele deve ler a obra
literária perguntando também até que ponto ela realmente responde ao que
pretendeu ser, se ela realmente consegue ser uma estrutura coerente. É o que
busco fazer no meu trabalho e neste livro, Muita retórica – Pouca literatura.
outubro 09, 2012
Bilhete aos críticos envergonhados
“Um público que tenta dispensar a crítica e, afirma,
sabe o que quer ou de que gosta, brutaliza as artes e perde a memória cultural.”
– Northrop Frye
Marcadores:
Crítica literária,
Northrop Frye
outubro 06, 2012
Hoje, lançamento de “Muita retórica – Pouca literatura” em Santos
Às 16h, estarei na Livraria Realejo, no Gonzaga, para
autografar meu livro e bater um bom papo sobre literatura, crítica literária e os novos lançamentos do filósofo Olavo de Carvalho. Até lá, amigos!
outubro 05, 2012
“A obra literária se completa quando nós completamos a sua leitura”, diz Ortega y Gasset
Acima, o vídeo de minha palestra sobre o livro que acabo de lançar: Muita retórica – Pouca literatura (de Alencar a Graça Aranha). Olavo de Carvalho diz, com acerto, que “a crítica literária é a primeira disciplina filosófica, porque a crítica é a expressão intelectual mais imediata da própria experiência literária”. E a experiência literária, por sua vez, nada mais é que uma abertura à variedade da experiência humana. Ler literatura, portanto, é alargar a imaginação, ampliar nossa visão sobre as possibilidades da existência, inclusive sobre as possibilidades éticas ou morais da existência. Se entendemos a literatura assim, então a função do crítico é mostrar essas possibilidades, tomar o leitor pela mão e mostrar a ele um dos inúmeros caminhos possíveis. Para fazer isso, ele precisa recusar a arrogância epistêmica e o monismo de julgamento que imperam hoje. Ele deve ler a obra literária perguntando também até que ponto ela realmente responde ao que pretendeu ser, se ela realmente consegue ser uma estrutura coerente.
outubro 04, 2012
A salvação pelo duplo – “Maria Dusá”, de Lindolfo Rocha
Ao ler o romance Maria Dusá, de Lindolfo Rocha, é
preciso separar o joio do trigo. É o que faço em meu ensaio deste mês, no
jornal Rascunho.
Marcadores:
Crítica literária,
Lindolfo Rocha,
literatura brasileira,
Maria Dusá
outubro 01, 2012
Palestra virtual sobre meu livro, “Muita retórica – Pouca literatura (de Alencar a Graça Aranha)”
Hoje, às 20 h, minha palestra on-line sobre o livro que acabo de
lançar: Muita retórica – Pouca literatura (de Alencar a Graça Aranha). Para
assistir basta seguir este link.
Assinar:
Postagens (Atom)