outubro 30, 2012

A Internet e o “mundo da veracidade”

A longa carta aberta (publicada na The New Yorker e traduzida no Caderno Link, de O Estado de S. Paulo) que o escritor Philip Roth escreveu à Wikipédia é, sem dúvida, notável mergulho no processo de criação do romance A marca humana. Contudo, quanto mais avançamos no texto, mais lateja em nossa mente o absurdo que provocou a carta: a proibição de que o próprio Roth corrigisse – nessa famosa, errônea e imprecisa enciclopédia virtual – o verbete que fala do seu romance.
 
Quando todos, graças à Internet, podem escrever e publicar suas supostas verdades, os “balbucios das tagarelices literárias”, para usar a expressão de Roth, podem ser mais verdadeiros que o depoimento do próprio escritor? Não se trata, é claro, de sermos ingênuos e simplesmente acreditarmos em Roth. Trata-se de perceber o traço kafkiano desse novo tempo, em que qualquer um pode ser a “secondary source” exigida pela Wikipédia.

outubro 26, 2012

Um romance que deveríamos reler a cada ano

Sous le soleil de Satan, de Georges Bernanos:


outubro 25, 2012

Vamos ao que importa!

No tempo de minha bisavó, até receitas de bolo eram escritas com perfeição. Vovó Nenê, como a chamávamos carinhosamente, nossa primeira professora de inglês e francês, línguas nas quais era fluente, diria, ao terminar a leitura: “– Que português escorreito, meu filho!”.

Bolo Rei
 
Amasse com água que baste 75 gramas de farinha de trigo (obra de uma xícara de chá rasa) e um tablete de fermento, deixando levedar. Ponha numa vasilha grande 250 gramas de farinha de trigo em forma de círculo, no centro do qual coloque 100 gramas de açúcar (obra de uma xícara de chá rasa) e incorpore a este 25 gramas de manteiga (obra de uma colher de sopa), um ovo inteiro, uma gema, uma pitada de sal, raspa de noz-moscada e a massa do fermento. Vá amassando tudo com as pontas dos dedos, incorporando, por fim, a farinha que ficou ao redor. Amasse bem. Tome um copo, encha-o pela quarta parte com cerveja branca e complete, até atingir a metade do copo, com uma mistura em partes iguais de rum, vinho do Porto ou quinado e conhaque. Adicione à massa esse meio copo de líquido, aos poucos. Sove durante quinze minutos e junte 250 gramas de frutas cristalizadas, cortadinhas. Amasse um pouco mais e deixe levedar, cobrindo com um pano, por três ou quatro horas. Unte uma forma de pizza com 35 centímetros de diâmetro e no seu centro coloque uma tigela pirex com 12 centímetros, virada de boca para baixo. Polvilhe bem a mesa com farinha e aí disponha a massa, dando-lhe o formato de uma tira cujas pontas serão unidas formando o anel que você deverá colocar na forma, contornando o pirex. Enfeite esse anel com algumas tiras de laranja e cidra cristalizadas, como se fossem os raios de uma roda. Enfeite também com dois figos partidos ao meio. Cubra com um pano e deixe crescer bem. Pinte com um ovo inteiro batido com uma colher (de chá) de açúcar e, nos intervalos, disponha uns traços de um centímetro de largura com açúcar, acompanhando o desenho das tiras de laranja. Asse em forno brando e, quando espetar e o palito sair seco, estará pronto.

outubro 18, 2012

Marisa Lajolo resenha meu livro, “Muita retórica – Pouca literatura”

Marisa Lajolo faz, neste texto publicado inicialmente no Facebook, um interessante diálogo com meu livro. Uma leitura que aponta discordâncias, mas de maneira ética, equilibrada, sábia. Leitura lobatiana, com aquela argúcia que Monteiro Lobato nunca deixou de lado – e que Marisa Lajolo, decana dos estudos lobatianos, não poderia deixar de ter.

BOA RETÓRICA E BOA LITERATURA

Marisa Lajolo

Nas cores sóbrias da capa de Muita retórica – Pouca literatura (Campinas, SP: Vide Editorial) uma figura de rosto borrado parece escrever em folhas que levantam voo e transformam-se em pássaros. A capa é sedutora. O título intrigante provoca o leitor. Mas o suspense se desfaz no subtítulo: De Alencar a Graça Aranha.

E é efetivamente pela prosa brasileira que Rodrigo Gurgel – o autor do livro – passeia, compartilhando com seus leitores juízos sobre escritores e obras do século XIX e comecinho do XX. Leitor rigoroso, de dedo em riste e olhar severo, o crítico aponta e discute cochilos e acertos – de diferentes ordens de grandeza – de nossos escribas.

É claro que o leitor não precisa concordar com Gurgel. Eu, por exemplo, acho que Lucíola e O cortiço são grandes obras. Gurgel não acha, mas ele expõe seus argumentos com tanto talento (a boa retórica!) que fico obrigada a ir buscar os meus para discordar dele. O que é uma bela forma de a crítica cumprir sua função de aprimorar a leitura.

Aprimorar a leitura literária não é concordar com nosso interlocutor. Seja ele quem for. É respeitar leituras alheias, pois literatura é um entrelaçamento de obras e de leituras que as obras receberam. O leitor que decida em qual malha desta rede quer meter sua colher torta.

Este livro tem bastidores muito interessantes: ele nasce de ensaios que seu autor publicou inicialmente no excelente jornal Rascunho, de Curitiba. E tem suas primeiras discussões em formato bastante original. Gurgel lança o livro fazendo uma palestra no YouTube e disponibilizando em seu blog longa entrevista que deu ao jornal santista A Tribuna.

Claro que nas respostas à entrevista e no calor da hora da gravação vêm à tona detalhes do livro, outras opiniões de seu autor, enfim, aquele making off que tanto delicia fãs (como eu) de filmes em DVD. É aí, nestes bastidores e no day after, que Gurgel aponta, de forma explícita e direta, um tópico que, no seu livro, é reafirmado ao longo dos vinte ensaios que o compõem: a pluralidade dos domínios do conhecimento necessários ao discurso que fala de literatura.

Filosofia, História, Sociologia, Retórica... muitos são os sotaques que podem entrecruzar-se na fala do crítico e vários deles, efetivamente, comparecem à fundamentação da crítica de Gurgel. E alguns outros ele expulsa definitivamente, como os pobres linguistas estruturalistas, por si mesmos afastados do palco (!) mas imediatamente substituídos por outros fundamentalismos.

Vem da filosofia – do espanhol Ortega y Gasset – um dos pressupostos do pensamento de Gurgel. A ideia de que eu sou eu + minha circunstância inspira a amplificação que o crítico faz de uma obra para além das palavras que seu autor escreve, e permite a ele (crítico) discutir a obra entendendo-a como amplificadora da experiência humana.

Foi aí que Gurgel me pegou.

E a circunstância do leitor? E a circunstância do momento de cada uma de suas leituras? Não seriam determinantes de sua compreensão da obra e de sua valorização?

Eu, por exemplo, gosto de Inocência, livro que Gurgel considera um romancinho sentimental, onde o diminutivo desqualifica. Lembro de ter lido o livro com onze para doze anos. Lição de escola, de Dona Maria Luíza. Mas... havia uma menina na minha classe chamada Inocência, chata como a peste.  Petulante e convencida. Fui ler o livro com a maior má vontade inspirada na homônima da heroína. Mas o livro me emocionou: me comoveu a subalternidade da menina ao pai autoritário, a confiança dela no padrinho, a delicadeza da homenagem representada por dar o nome dela a uma borboleta...

Vinguei-me de minha colega apelidando-a de papilosa e acho que foi aí que me tornei leitora de romances e aprendi a lidar com leituras alheias, matéria-prima de professores de literatura.

Ou seja: como lidar com as infinitas circunstâncias em que leitores leem o que leem? Este livro de Gurgel sugere várias destas maneiras. Ele nunca se esquece, por exemplo, de que está falando em público de suas leituras privadas. Franqueia, pois ao leitor sua circunstância de leitura, atribuindo a seus leitores reações que bem podem ter sido as suas: se você, leitor, teve vontade de rir, não se sinta constrangido (115). Ou justificando suas decisões discursivas: ideia sobre a qual nem me darei ao trabalho de comentar, tamanho o seu despropósito (143).

Ou ainda, mencionando outros críticos e pensadores com os quais concorda ou dos quais diverge. Ou transcrevendo os textos dos romances nos quais se apoiam suas observações, ou tirando da estante prosadores que têm passado em branco na história canônica da literatura brasileira. Desta lista de prosadores brasileiros do B que Muita retórica – Pouca literatura apresenta, destaco a agradável surpresa que representa a leitura que Gurgel faz de João Francisco Lisboa e de Joaquim Felício dos Santos.

Ou seja: todas aquelas folhas em revoada na primeira capa do livro voltam obedientes à escrivaninha do crítico e compõem um livro extremamente corajoso e provocador.
 
Vamos a ele!

outubro 10, 2012

Texto integral da entrevista que concedi ao “A Tribuna”, de Santos


A entrevista que concedi ao jornal A Tribuna, de Santos, publicada no último sábado (imagem acima) saiu, por problemas de espaço, com alguns cortes. A seguir, publico a íntegra do bate-papo que tive, por e-mail, com o jornalista César Miranda:

A Tribuna: Entre os autores analisados em seu livro encontram-se nomes clássicos (José de Alencar, Manuel Antônio de Almeida, Raul Pompeia, Machado de Assis, Graça Aranha etc.). Além destes ficcionistas, há também prosadores como João Francisco Lisboa, Joaquim Felício dos Santos, Eduardo Prado, Nabuco e Taunay. Por que a escolha dos escritores acima? Qual foi o critério? Tem alguma admiração por eles?
Rodrigo Gurgel: O livro é uma compilação da série de ensaios que iniciei, em 2010, no jornal Rascunho, de Curitiba. Sou crítico literário do jornal desde 2006, mas em 2010 iniciei essa série, cujo objetivo é reler os principais prosadores da literatura brasileira, sejam ficcionistas ou não. A escolha desses autores nasce, portanto, não de uma admiração pessoal, mas da necessidade de empreender esse trabalho de releitura da prosa nacional. Trabalho, aliás, que continua e chegará aos prosadores contemporâneos. Nesse primeiro volume, agora publicado, tratamos dos prosadores do século XIX.

A Tribuna: Por que considera Canaã, de Graça Aranha, “o mais pedante romance brasileiro”?
Rodrigo Gurgel: Canaã é um romance artificial, construído com o objetivo de defender algumas teses caras ao seu autor. É apenas um mosaico de estilos diferentes, montado sobre um plano esquemático, carregado de psicologismo hiperbólico e rasteiro. Vejam-se os diálogos do romance: os personagens não conversam realmente, com naturalidade, mas as falas são apenas justapostas, de maneira que cada personagem represente um sistema filosófico ou determinados valores. É uma sucessão monótona de discursos, na qual, aliás, o povo brasileiro é ridicularizado do começo ao fim. Há algumas cenas famosas, que se tornaram antológicas, como a do parto de Maria, quando o recém-nascido é devorado pelos porcos, mas elas somente reforçam o esquematismo do romance. Como disse Otto Maria Carpeaux, “Canaã só convence leitores inexperientes”. Por todos esses motivos, o romance é de um pedantismo ímpar.

A Tribuna: Qual sua opinião sobre a crítica literária atual?
Rodrigo Gurgel: A crítica literária atual, no Brasil, pode ser dividida em dois grandes grupos. De um lado, temos críticos que seguem as escolas estruturalistas e pós-estruturalistas. Eles pretendem submeter a literatura a certas análises predominantemente lingüísticas, como se apenas a lingüística pudesse dar conta das inúmeras características que compõem uma obra literária. Esses críticos usam, quase sempre, um jargão cansativo, hermético, que afasta o leitor e, na verdade, acaba não explicando nada. Thomas Pavel, um dos críticos dessas escolas, diz, com acerto, que elas apenas criaram um “verniz onírico”, mais nada. De outro lado, temos críticos que, seguindo ou não o estruturalismo e o pós-estruturalismo, negam-se a realmente criticar. Eles sofrem do que eu chamo de síndrome do crítico envergonhado. É uma espécie de bom-mocismo, um tipo de hipocrisia. Esses críticos dizem que é impossível julgar, que ninguém pode dizer se uma obra literária é boa ou não, se uma obra literária deve ser lida ou não. Na verdade, o que eles querem é ser amigos de todo mundo, passar a mão na cabeça dos escritores e tratar todos da mesma forma, inclusive os que são medíocres. É claro que há críticos que fogem a esses dois grupos, mas formam a minoria das minorias.

A Tribuna: Quais críticos literários o senhor admira?
Rodrigo Gurgel: Otto Maria Carpeaux, um austríaco que se naturalizou brasileiro e nos deixou muito mais que uma obra voltada à crítica literária, mas o trabalho de um verdadeiro humanista, é, sem exageros, genial. Outros críticos que sempre releio, pelos quais tenho grande admiração, são Samuel Johnson, Charles Moeller, Northrop Frye, Edmund Wilson, Lionel Trilling, Joseph Pearce e Marcel Reich-Ranicki. Entre os brasileiros, gosto de Álvaro Lins, Augusto Meyer, Lúcia Miguel-Pereira, Temístocles Linhares, Wilson Martins e, mais recentes, Alexandre Eulalio, João Alexandre Barbosa, Marisa Lajolo, Alcir Pécora e Moacir Amâncio. No que se refere aos brasileiros, citá-los não significa que concorde sempre com eles, mas são grandes inteligências, que vêem a literatura não apenas sob o aspecto formalista, mas como um diálogo com a experiência humana.

A Tribuna: No bate-papo com leitores, o senhor vai falar também sobre a obra do escritor Olavo de Carvalho. Inclusive, o senhor fez o texto da orelha do livro A filosofia e seu inverso. Qual importância desse livro do Olavo de Carvalho?
Rodrigo Gurgel: Olavo de Carvalho tem importância fundamental na cultura brasileira. Seu livro O imbecil coletivo é um marco dos estudos culturais no Brasil e será relido por todas as gerações futuras. Sem ele, será impossível ao estudioso entender como a hegemonia marxista transformou o Brasil no paraíso da mediocridade. Olavo também elaborou um original, seriíssimo trabalho de análise do pensamento de Aristóteles, no seu Introdução à Teoria dos Quatro Discursos. Além disso, ele é um polemista magistral, uma das raríssimas vozes que tiveram a coragem de, nas últimas décadas, se antepor à nefasta hegemonia cultural da esquerda. Neste seu último livro, A filosofia e seu inverso, que reúne alguns de seus artigos e ensaios produzidos nos últimos anos, ele recusa, mais uma vez, o doutrinamento pós-moderno, ou seja, recusa-se a aceitar o tripé corruptor dos tempos atuais, um tripé formado por relativismo, hedonismo e ateísmo.

A Tribuna: Quando nasceu sua paixão pelas letras? Existe algum fato marcante?
Rodrigo Gurgel: Creio que nasceu do amor pelos livros, algo que, na minha família, sempre foi natural. Nós convivíamos com os livros como se fizessem parte da família. Lembro-me que meu pai me colocava sentado sobre o tampo da sua escrivaninha, abria no meu colo um dos volumes do Tesouro da Juventude e lia histórias para mim. É minha primeira lembrança em relação aos livros. Meu pai tinha uma vasta biblioteca, formada principalmente de livros jurídicos, e meus irmãos, minha mãe e eu tínhamos de, uma vez por ano, limpar todos os volumes, tarefa que demorava vários dias... Era uma festa, um trabalho feito com união, amor, alegria. Portanto, ler, para mim, sempre foi algo tão natural quanto respirar. Lembro-me, por exemplo, de minha avó paterna, que me deu para ler As mil e uma noites. E também da discussão que meu pai provocou, quando descobriu que ela me dera Madame Bovary para ler. Eu só tinha doze anos. Depois da discussão, que presenciei, minha reação foi a mais esperada: ler Flaubert com atenção ainda maior. 

A Tribuna: Quais são os livros que o acompanham em suas viagens? Que tipos de enredos prefere?
Rodrigo Gurgel: Ler apenas por prazer tornou-se algo muito raro na minha vida, infelizmente. Estou sempre lendo por motivos profissionais. Mas se tivesse de escolher alguns livros para ler despreocupadamente, apenas por prazer, eu ficaria com os escritores que mais amo: Flannery O’Connor, George Bernanos, Henry James, Joseph Conrad, Tolstói e Dostoyevski.

A Tribuna: O que o senhor leu recentemente que acha que vale a pena ler?
Rodrigo Gurgel: O ensaio de Ricardo Souza de Carvalho, A Espanha de João Cabral e Murilo Mendes; e Rumor dos cortejos, uma coletânea de poesia cristã francesa do século XX, organizada e traduzida por Pablo Simpson. 

A Tribuna: Gostaria de acrescentar algo mais?
Rodrigo Gurgel: Olavo de Carvalho diz, com acerto, que “a crítica literária é a primeira disciplina filosófica, porque a crítica é a expressão intelectual mais imediata da própria experiência literária”. E a experiência literária, por sua vez, nada mais é que uma abertura à variedade da experiência humana. Ler literatura, portanto, é alargar a imaginação, ampliar nossa visão sobre as possibilidades da existência, inclusive sobre as possibilidades éticas ou morais da existência. Se entendemos a literatura assim, então a função do crítico é mostrar essas possibilidades, tomar o leitor pela mão e mostrar a ele um dos inúmeros caminhos possíveis. Para fazer isso, ele precisa recusar a arrogância epistêmica e o monismo de julgamento que imperam hoje. Ele deve ler a obra literária perguntando também até que ponto ela realmente responde ao que pretendeu ser, se ela realmente consegue ser uma estrutura coerente. É o que busco fazer no meu trabalho e neste livro, Muita retórica – Pouca literatura.

outubro 09, 2012

Bilhete aos críticos envergonhados

“Um público que tenta dispensar a crítica e, afirma, sabe o que quer ou de que gosta, brutaliza as artes e perde a memória cultural.” – Northrop Frye

outubro 06, 2012

Hoje, lançamento de “Muita retórica – Pouca literatura” em Santos

Às 16h, estarei na Livraria Realejo, no Gonzaga, para autografar meu livro e bater um bom papo sobre literatura, crítica literária e os novos lançamentos do filósofo Olavo de Carvalho. Até lá, amigos!

outubro 05, 2012

“A obra literária se completa quando nós completamos a sua leitura”, diz Ortega y Gasset


Acima, o vídeo de minha palestra sobre o livro que acabo de lançar: Muita retórica – Pouca literatura (de Alencar a Graça Aranha). Olavo de Carvalho diz, com acerto, que “a crítica literária é a primeira disciplina filosófica, porque a crítica é a expressão intelectual mais imediata da própria experiência literária”. E a experiência literária, por sua vez, nada mais é que uma abertura à variedade da experiência humana. Ler literatura, portanto, é alargar a imaginação, ampliar nossa visão sobre as possibilidades da existência, inclusive sobre as possibilidades éticas ou morais da existência. Se entendemos a literatura assim, então a função do crítico é mostrar essas possibilidades, tomar o leitor pela mão e mostrar a ele um dos inúmeros caminhos possíveis. Para fazer isso, ele precisa recusar a arrogância epistêmica e o monismo de julgamento que imperam hoje. Ele deve ler a obra literária perguntando também até que ponto ela realmente responde ao que pretendeu ser, se ela realmente consegue ser uma estrutura coerente.

outubro 04, 2012

A salvação pelo duplo – “Maria Dusá”, de Lindolfo Rocha

Ao ler o romance Maria Dusá, de Lindolfo Rocha, é preciso separar o joio do trigo. É o que faço em meu ensaio deste mês, no jornal Rascunho.