março 31, 2008

Livros inatingíveis e Japão


Neste mês de março, publiquei duas resenhas: no jornal Rascunho, "Palavras inatingíveis", sobre O livro dos livros perdidos - uma história das grandes obras que você nunca vai ler (Editora Record), do crítico Stuart Kelly. No UOL Educação, "Japão para crianças - a beleza do diferente", sobre o livro Minhas imagens do Japão (Editora CosacNaify), de Etsuko Watanabe.

março 11, 2008

Sem grandeza


Acabo de ler que as escolas públicas e particulares terão de ensinar a seus alunos uma nova matéria: história e cultura afro-brasileira e indígena. A lei foi sancionada hoje pelo presidente da República. Trata-se de uma peça burlesca, sem dúvida, tal decisão, em um país no qual os jovens saem do ensino médio sem sequer conhecer a história brasileira. Duvido que um rapaz de 17 anos consiga escrever um resumo de duas laudas, com relativa visão crítica, sobre, por exemplo, a República Velha, o 2º Reinado ou o bandeirismo. A nova lei é fruto do populismo rasteiro que tomou conta do país. Nada mais. Que democracia pequena! Em breve, as crianças serão obrigadas a estudar tupi e ioruba. Quanto ao português, que língua é mesmo essa?

março 06, 2008


Batráquios


Em artigo que está sobre minha mesa de trabalho há várias semanas, Alcir Pécora faz seu balanço de 2007 e expõe o itinerário da literatura brasileira rumo ao desprestígio.

O império da festa, do “agito” como forma de marketing, de divulgação, que acaba por se sobrepor à própria literatura; a premiação dos medíocres; a literatura produzida por e para pequenos e inúteis grupos de pretensos iluminados, que lêem exclusivamente a si mesmos, lambendo-se mutuamente em eterna adoração; a tecnologia vista como salto inevitável à cultura, ao conhecimento; a subliteratura do “eu”, na qual relatos autobiográficos – que sofrem, aliás, da mais completa idiotia – são guindados à condição de best-sellers; o bairrismo dos grupelhos, transformado em uma espécie de nova luta de classes; o deslumbramento da academia com sua própria imagem – um fenômeno, aliás, rotineiro; e a crítica que se pretende um novo, e absoluto, gênero literário, substituindo julgamentos claros por metáforas lucubrantes: todos esses elementos estão no texto de Pécora, habilmente ironizados. Abstenho-me, portanto, de completar qualquer um deles. E, principalmente, de discordar.

Na verdade, o diagnóstico de Pécora expõe um doente cujos males tendem apenas a piorar. Uma democracia rasteiramente populista e filistina só pode produzir mais populismo e mais vulgaridade – em doses cavalares.

Se havia alguma dúvida em relação a este país, agora temos certeza que Euclides da Cunha estava realmente certo: "(...) Estou na reserva desde os vinte anos, quadra em que me assaltou o pessimismo incurável com que vou atravessando esta existência no pior dos piores países possíveis e imagináveis. Talvez não acredites: ando nas ruas desta aldeia de avenidas, com as nostalgias de um inglês smart perdido numa enorme aringa da África Central. Nostalgia e revolta: tu não imaginas como andam propícios os tempos a todas as mediocridades. Estamos no período hilariante dos grandes homens-pulhas, dos Pachecos empavesados e dos Acácios triunfantes. Nunca se berrou tão convictamente tanta asneira sob o sol! [...] É asfixiante! A atmosfera moral é magnífica para batráquios. Mas apaga o homem. [...]". (Carta a Otaviano Vieira, em 8 de agosto de 1909.)

O mal, infelizmente, contaminou a literatura.