janeiro 14, 2013

Vanguardeiros autistas

O ensaio de Luis Dolhnikoff na Revista Sibila, sobre o estado atual da literatura brasileira, nasce das matérias publicadas na Folha de S. Paulo há alguns dias, ambas escritas por Marco Rodrigo Almeida: “Eles não chegam lá” e “Ficção perdeu os leitores, diz autor de 'O Filho Eterno'”. O raciocínio proposto pelo ensaísta toca no centro de uma importante questão da nossa literatura, sobre a qual, aliás, venho falando há tempo: “Os romancistas brasileiros escrevem, de fato, ‘para os amigos’, mas não como motivo primário. Na verdade, eles não escrevem para o público, que desprezam”.

O texto de Dolhnikoff, que merece leitura atenta, pode ser sintetizado neste parágrafo acertadíssimo: “A incapacidade dos escritores brasileiros de criarem livros ao mesmo tempo bons e prazerosos é apenas a incapacidade dos escritores brasileiros de criarem livros ao mesmo tempo prazerosos e bons. Eles são, como regra, chatos, porque, como regra, são pretensiosos. E são pretensiosos por ignorarem o público leitor. Se não o ignorassem, não poderiam ser chatos, sob o risco do fracasso. Cria-se assim uma literatura satisfeita para ninguém, ou quase ninguém. Satisfeita talvez, mas não satisfatória. A menos que se considere a criação literária um hobby, que, de fato, só interessa para quem o pratica. Mas se se pretende algo além de um hobby, a literatura não pode satisfazer somente quem se dedica a ela. O público tem de ser posto na equação. Ou nas equações. Pois há uma simples e uma complexa”.

Denunciando uma literatura que se pretende de vanguarda, mas que na verdade não passa de literatura “autista”, o texto retoma, parcialmente, o que apontei há alguns anos, no jornal Rascunho, no ensaio “Mazelas da narratofobia”: “Parcela dos escritores brasileiros contemporâneos sofre de uma estranha patologia: escrevem não para satisfazer seus impulsos criativos, mas, principalmente, para cumprir determinados preceitos. Dito de outra forma, alguns escritores submetem a criatividade às regras difundidas por supostos expertos, ou, pior, ao gosto das panelinhas. A escrita se afasta, assim, do seu verdadeiro caráter — o de exercício de comunicação —, transformando-se num fetiche. A literatura produzida segundo tais critérios não é só exclusivista, mas pedante e artificial, além de subserviente: nasce para agradar a uns poucos, para corresponder àquelas teorias que certos literatos diluíram e transformaram em receitas aparentemente infalíveis”.
 
As consequências dessa atitude subdesenvolvida – mas que é tratada como supostamente vanguardista – não se esgotam, repito, “na leitura obscura, forçosamente aflitiva. Nossos poucos leitores, ávidos por uma literatura que os conduza para longe da mesmice e da banalidade, encontram, nas livrarias, as seções de literatura brasileira abarrotadas de textos herméticos. É fatal, portanto, que sejam raptados para o mundo da subliteratura, tornando-se reféns dos romancinhos kardecistas e de outras tantas panaceias na forma de brochura”.

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