novembro 18, 2014

11 dicas para novos escritores

Não seja passivo(a) em relação à escrita. Não espere a fada-madrinha dos escritores entrar pela janela
Você quer ser escritor — mas não sabe como começar.

Sentado na frente da folha em branco ou da tela do computador, as idéias não chegam.

Fiz esta lista de 11 dicas pensando em você — numa forma de diminuir sua angústia e mostrar que você pode, sim, se tornar um escritor.

Leia com atenção cada item.

Depois, coragem: comece a escrever!

1. Acredite no poder das sinapses. Os neurônios conversam entre si, criam conexões inusitadas a cada milésimo de segundo. Mas precisam ser estimulados. 

Não, você não precisa se submeter a um tratamento de eletrochoques, mas deve estar aberto à realidade. 

Certa música, certa obra de arte, uma situação, uma frase solta que você escuta no ônibus ou no balcão da padaria: tudo pode desencadear a imaginação. Todos nós temos gatilhos emocionais que liberam ondas de fantasia. Não despreze nenhum deles — inclusive os que parecem infantis ou óbvios. 

Lembre-se do exemplo sináptico de Victor Hugo, que já se tornou clássico: no prefácio de O Corcunda de Notre-Dame, o escritor conta que o livro nasceu quando ele encontrou, ao explorar a Catedral de Notre-Dame de Paris, a palavra “fatalidade” gravada à mão numa parede. A forte impressão causada por essa descoberta fez com que começasse a imaginar a história.

2. Todo escritor é, antes de tudo, bom observador. Mas não se trata apenas de espreitar. É preciso dialogar, em silêncio, com os fatos, com as pessoas. 

Coloque-se na pele delas e tente compreender suas reações. Depois, imagine como você reagiria. E imagine como um escritor descreveria você. Esse exercício constante — analisar o real e você mesmo — aperfeiçoará seu poder de observação.

3. Abandone a idéia de que a vida é simples e de que tudo é evidente. Nada é simples. Por trás de cada gesto feito de maneira impensada há centenas de influências, escolhas, certezas, temores, dúvidas, interesses, desejos.

4. Anote tudo. Sempre. Não se preocupe se, no fim do dia, as anotações parecem incoerentes, sem nexo. Guarde-as em algum lugar. No final de trinta, quarenta dias, coloque-as sobre a escrivaninha: você descobrirá semelhanças — ou uma tendência. Por que não segui-la?

5. Leia. Leia muito. E não tenha receio, inclusive, de se inspirar no que lê. Eu disse “inspirar”, não “copiar”.

6. Não tenha medo de contar histórias. Não tenha medo, inclusive, do que pensarão sobre suas histórias. Comece com tramas simples e poucos personagens. Pode ser um único personagem. Mas evite cair na tentação do discurso em primeira pessoa, pois ele tem uma aparência de facilidade completamente enganosa.

7. Repito: apenas conte uma história. Deixe as invencionices vanguardistas e os malabarismos lingüísticos para mais tarde, quando estiver seguro(a) do que é capaz. Lembre-se: Ulysses não foi o primeiro livro de James Joyce.

8. Tenha um plano, ele ajudará você. Mas sinta-se livre para mudá-lo. Nenhum escritor sabe, com todos os detalhes, o começo, o meio e o fim da sua história. 

O som e a fúria, de William Faulkner, começou, segundo o próprio escritor, “com uma simples imagem mental: os fundilhos enlameados da calcinha de uma menina pequena trepada numa pereira, de onde podia ver, por uma janela, o local onde se realizava o funeral de sua avó e descrever o que estava acontecendo aos seus irmãos, no chão, embaixo”. Depois, Faulkner tentou contar a história que nasceu dessa imagem utilizando quatro narradores diferentes — e, ainda insatisfeito, adicionou um apêndice 15 anos depois de o livro ter sido publicado.

9. Ao escrever, não se preocupe em seguir a ordem lógica — ou cronológica — do seu enredo. Você tem poder absoluto sobre sua criação: pode matá-la e, sete meses depois, contar seu nascimento.

10. Não seja passivo(a) em relação à escrita — não espere a fada-madrinha dos escritores entrar pela janela. Escolha um local, crie seu ambiente. (Minha vizinha, quando eu era menino, estudava com o rádio ligado e tirava ótimas notas. Eu, ao contrário, sempre precisei de silêncio.) Depois, estabeleça um horário e cumpra-o. Não importa se você apenas ficar olhando para o papel em branco.

11. Voltando ao primeiro ponto, não despreze a realidade.

Mas lembre-se do que Henry James escreveu: “A experiência nunca é limitada e nunca é completa; ela é uma imensa sensibilidade, uma espécie de vasta teia de aranha, da mais fina seda, suspensa no quarto de nossa consciência, apanhando qualquer partícula do ar no seu tecido. É a própria atmosfera da mente; e quando a mente é imaginativa — muito mais quando acontece de ela ser a mente de um gênio — ela leva para si mesma os mais tênues vestígios de vida, ela converte as próprias pulsações do ar em revelações”.

Este é o começo. Confie em você e vá em frente. Há milhares de leitores esperando por um bom escritor — alguém disposto a contar boas histórias.

11 comentários:

Unknown disse...

Muito agradecido por estas observações. Sinceramente, eu fiquei até com vontade de voltar a escrever. Creio que amanhã eu irei procurar velhos escritos dispersos em arquivos. Valeu mesmo! Saúde e Paz!

digo disse...

Fico feliz por sua decisão, Acton. Vá em frente! Coragem para a luta!

Miguel disse...

Escrevi um romance e, por intuição, creio que segui alguns destes seus conselhos. Sou-lhe grato por todos.
Me deu muito prazer escrevê-lo e, de vez em quando, sinto saudades dos cenários e situações que vivi junto com meus personagens. É uma nostalgia estranha, de algo que nunca veio à realidade mas que, de certa forma, existiu com muita intensidade em minha imaginação. De tão boa, gostaria de compartilha-la.
De novo, obrigado pelos conselhos.
Se quiser conhecer um pouco deste romance, segue link:
www.alyena.com.br

A filha de Eva disse...

Olá, Rodrigo, tenho seis ou mais livros escritos, mas não publicados. Os tenho em meu blog, em forma de E-book. Pergunto, tu poderias fazer a crítica de um deles? Se preferir me passa essa informação inbox. Obrigada, Ligia de Beatriz

digo disse...

Miguel:
Obrigado pelo comentário. Volte a escrever. Não fique apenas na nostalgia.

A filha de Eva: por favor, entre em contato comigo no e-mail disponível nesta página, no alto, à esquerda. Obrigado

Unknown disse...

Olá Rodrigo, analisando os comentários, vi em sua solicitude e maneira humilde como auxilia os amantes da escrita. Por isso me sinto realmente à vontade para lhe pedir uma opinião sobre uma dúvida que carrego há tempos.
Quando escrevo meus romances, sempre tive vontade de descrever determinados objetos usados por meus personagens. Como a arma ou veículo, mas sempre fiquei apreensivo sobre isso. Para esse tipo de descrição é necessário uma prévia autorização ou não.
Desde já agradeço sua atenção.

digo disse...

Caro Luís Otávio:
O principal, antes de tudo, é saber se a trama realmente pede esse tipo de informação. Se ela realmente for necessária, use-a. Não creio que você venha a ser processado, por exemplo, por afirmar que seu personagem usa determinada marca de carro. Um abraço!

Jorge Deichmann disse...

Este é meu segundo comentário:
Rodrigo, você avaliaria um conto meu, bem curtinho, somente para me dizer se sou ou não um escritor em potencial?

digo disse...

Jorge, meu caro: seu eu fizer para você, terei de fazer também para as dezenas de pessoas que me escrevem, todas as semanas, pedindo o mesmo favor. Espero que você me compreenda. Um abraço!

Jorge Deichmann disse...

Com certeza compreendo. Obrigado pela sua atenção.

Luefe Khayari disse...

Ola. Caro Rodrigo Gurgel
Começo por dizer que achei a matéria bastante interessante e pude aprender mais alguma coisa.
Tenho alguns livros escritos, apesar de nenhum publicado.
A minha principal questão é uma, gosto de viajar pelo tempo nas tramas e é pra mim, muito fácil, desenvolver os personagens ao longo do tempo. Em contrapartida, tenho tendência a não situar a história nalgum lugar específico, como pais, cidade, etc. Há algum problema nisso?