agosto 29, 2013

Ana Maria Machado e sua delicada inverdade

Em entrevista concedida ao jornal Zero Hora (edição de hoje, dia 29), a escritora Ana Maria Machado refere-se à nota zero que dei ao seu romance, Infâmia, na última edição do Prêmio Jabuti. Comete, entretanto, terrível injustiça. Ou delicada inverdade.

Em certo trecho da entrevista, citando-me, a presidente da Academia Brasileira de Letras diz: “– No caso dele, o que se estranhou, pelo que se contou depois, foi que na primeira rodada ele deu nota alta para o meu livro. Na segunda, quando viu que os outros haviam dado 9 ou 10, ele mudou. Ele tinha o direito de fazer isso? Tinha, sempre tem. Mas exerceu um poder em nome de uma coisa direcionada”.

Ora, ou Ana Maria Machado pretende ocultar a verdade dos leitores gaúchos ou, o que é ainda mais surpreendente, não foi informada sobre o que ocorreu no Prêmio Jabuti. E a verdade, a absoluta verdade, é que seu romance – por ser mal escrito e não passar de uma peça de proselitismo ideológico – sequer constou na minha primeira lista de escolhidos. Diferente do que ela fala, portanto, não mudei minha nota de uma rodada a outra.

Para os que desejarem conhecer os fatos – e não as versões dos ressentidos –, sugiro que leiam a entrevista que dei ao jornal O Globo, em 3 de dezembro de 2012. Entrevista, aliás, que Ana Maria Machado, ao que parece, não quis ler. Ali, respondendo às perguntas, deixo clara minha posição: “Na minha lista de dez finalistas da fase classificatória, Infâmia, de Ana Maria Machado, nem constou”. E quando a jornalista me pergunta “Isso significa que você nem avaliou o romance de Ana Maria Machado na primeira etapa?”, respondo: “Não, eu o avaliei, mas o avaliei mal, tão mal que ele sequer ficou na minha lista de dez melhores”.

Assim, se, como diz Ana Maria Machado, “exerci um poder em nome de uma coisa direcionada”, de fato o fiz; e na direção certa: na direção de não permitir que um romance mal escrito passasse à segunda fase do Jabuti. Essa é a verdade. O resto, caros leitores, inclui-se no que dizia o Dr. Samuel Johnson: “É difícil contentar aqueles que desconhecem o que exigem ou aqueles que exigem propositalmente o que julgam impossível obter”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Meu irmão tem 11 anos e as escolas dele sempre pedem pra ele ler esta moça aí. É muito complicado achar literatura infantil de alta qualidade, você tem alguma dica?

Obrigada, desde já. É sempre bom vir aqui.

Dario Pouso disse...

O debate acerca da relação entre arte e política é interessante. O artista, para mim, deve estar acima ou fora dos interesses dos grupos a que pertence ou defende. O professor poderia apontar uma ou duas obras escritas no terreno do proselitismo político, mas de alto nível? Como o senhor avalia a peça Pedro y El Capitan de Mário Benedetti? Obrigado