julho 22, 2013

“Surda ao implacável relógio da atualidade” – a crítica literária segundo Milan Kundera

“Nunca falarei mal da crítica literária. Pois nada é pior para um escritor do que se defrontar com sua ausência. Refiro-me à crítica literária em seu aspecto de meditação, de análise; da crítica literária que sabe ler várias vezes o livro do qual quer falar (como uma grande música que podemos reescutar infinitamente, também os grandes romances são feitos para leituras repetidas); da crítica literária que, surda ao implacável relógio da atualidade, está pronta a discutir as obras nascidas há um ano, trinta anos, trezentos anos; da crítica literária que tenta captar a novidade de uma obra para deste modo inscrevê-la na memória histórica. Se uma tal meditação não acompanhasse a história do romance, hoje nada saberíamos sobre Dostoiévski, sobre Joyce ou sobre Proust. Sem ela, toda a obra está entregue aos julgamentos arbitrários e ao esquecimento rápido. [...] A crítica literária, imperceptivelmente, inocentemente, pela força das coisas, pela evolução da sociedade, da imprensa, transformou-se em uma simples (muitas vezes inteligente, sempre apressada) informação sobre a literatura da atualidade.” (Milan Kundera, em Os testamentos traídos.)

6 comentários:

Anônimo disse...

Muito muito bom!

Anônimo disse...

Queria ver um post aqui da sua opinião em relação aos críticos literários - os melhores e os piores (mesmo sabendo que são termos discutíveis).
Eu sou formada em Direito e Letras, professora de línguas e até hoje só ouvi dicas horríveis de professores. Não sei se sou meio radical pra isso, mas não consigo ler um livro se um crítico que admiro fala que é ruim. Nunca entendi, por exemplo, como conseguem indicar Caio Fernando Abreu.
Eu gosto muito do Harold Bloom, do Carpeaux, alguma coisa do Walter Benjamin e Habermas (apesar de eu não gostar da Escola de Frankfurt), T. S. Eliot, Jorge Luis Borges... Sei que você também é um crítico, então resolvi me abrir (apesar de não ser psicólogo também).

digo disse...

Os melhores: Álvaro Lins, Edmund Wilson, Lionel Trilling, Northrop Frye, Wilson Martins, Lúcia Miguel Pereira, T. S. Eliot, Charles Moeller, George Steiner. São apenas alguns.
Quanto aos piores... bem... que os mortos enterrem seus mortos.

Anônimo disse...

Muito obrigada!

Anônimo disse...

Professor, o que achas dos New Critics?

digo disse...

É possível encontrar coisas boas -- ou pelo menos interessantes -- em muitas linhas de análise literária. Só não podemos ficar de joelhos diante delas.