julho 27, 2013

O que salvou Edmund Wilson da falácia milenarista

Acabo de ler o ensaio de Paul Johnson – em Os intelectuais – sobre Edmund Wilson. Texto lúcido, apresenta o homem escondido sob o intelectual e as contradições típicas do esquerdista que defende o Estado absoluto mas não aceita quando o mesmo Estado decide sugar seus lucros com direitos autorais. Mas Johnson percebe a sinceridade que impulsionava Wilson, virtude que acabou por libertá-lo do comunismo. Aliás, uma boa dose de realidade pode ser, em alguns casos, um antídoto poderoso: o período que passou internado num hospital soviético, pobre e decadente, ajudou-o a acordar para a verdade escondida sob o brilho sedutor da ideologia. A seguir, coloco o belo trecho final do ensaio:

“Wilson, na melhor das hipóteses, teve como diretriz de seu pensamento a compreensão de que os livros não são entidades desencarnadas mas nascem dos corações e cérebros de homens e mulheres vivos e que o segredo para compreendê-los está na interação entre o tema e o autor. A crueldade das idéias está na suposição de que os seres humanos podem ser modificados para se adequar a elas. O benefício da grande arte consiste na maneira como ela surge a partir da iluminação individual para a generalidade. Comentando a respeito de Edna St. Vincent Millay, sobre quem ele escreveu com um brilhantismo renovado, Wilson deu a definição perfeita de como um poeta deve atuar:

Ao dar expressão suprema a uma experiência pessoal sentida em profundidade, ela foi capaz de se identificar com a experiência humana mais geral e se mostrar como um porta-voz para o espírito humano, anunciando seus impasses, suas vicissitudes, porém, como um mestre da expressão humana, pelo esplendor da própria expressão, colocando-se mais além dos embaraços comuns, das opressões e dos pânicos comuns.

Foi esse humanismo de Wilson que, permitindo-lhe compreender tais processos, o salvou da falácia milenarista.”

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