agosto 13, 2011

Recuperar Ernest Hello


Crítico de Ernest Renan e René Descartes, Ernest Hello (1828-1885) é um nome infelizmente pouco lembrado nos dias de hoje. Filósofo, ensaísta, crítico literário, biógrafo e tradutor (de Ângela de Foligno e Van Ruysbroeck), foi influenciado por Barbey d'Aurevilly e por São João Maria Batista Vianney, o Cura d’Ars, a quem conheceu pessoalmente e que dele diria: “Monsieur Hello a reçu de Dieu le génie”.

Ernest Hello marcou o pensamento de Leon Bloy (que o considerava seu mestre), Georges Bernanos, Paul Claudel e vários outros. Foi depois de ler seu livro O Homem que Garrigou-Lagrange decidiu abandonar a medicina e ingressar na Ordem dos Dominicanos, tornando-se, mais tarde, notável filósofo e teólogo.

São nomes como esse que precisamos recuperar, por razões evidentes para quem é leitor deste blog.

A seguir, algumas citações atualíssimas de Hello – apenas um aperitivo, para estimular a inteligência e a sensibilidade dos amigos:   

O homem medíocre

Ao medíocre agradam-lhe os escritores que não dizem nem sim nem não sobre nenhum tema, que nada afirmam e que tratam com respeito todas as opiniões contraditórias. Toda afirmação lhe parece insolente, pois exclui a proposição contrária. Mas se alguém é um pouco amigo e um pouco inimigo de todas as coisas, o medíocre o considerará sábio e reservado, admirará sua delicadeza de pensamento e elogiará o talento das transições e dos matizes.

Para escapar da censura de intolerante, feita pelo medíocre a todos os que pensam solidamente, seria necessário se refugiar na dúvida absoluta; e, ainda nesse caso, seria preciso não chamar a dúvida pelo seu nome. É necessário formulá-la em termos de opinião modesta, que preserva os direitos da opinião oposta, tomar ares de dizer alguma coisa e não dizer nada. É preciso acrescentar a cada frase uma perífrase açucarada: “parece que”, “ousaria dizer que”, “se é permitido expressar-se assim”.

O gélido fantasma da fealdade

É importante estudar a lógica do delírio. Temos de segui-la passo a passo. Se o homem sempre tivesse associado em sua mente a beleza com o bem, a beleza continuaria sendo a beleza e o bem seguiria sendo o bem; o homem, permanecendo fiel à primeira, teria sentido, então, que permanecia fiel ao segundo. Mas, tendo o homem dito, tendo permitido aos escritores dizer que os tipos do belo deviam se encontrar ali onde o bem já não se encontrava, isto é, nos crimes audazes, nos escândalos de repercussão; que a desordem e o gênio eram a mesma coisa; havendo, pois, pensado o homem que a ideia do belo e a ideia do bem eram duas ideias contraditórias, concluiu que a ideia do belo era contraditória consigo mesma e terminou por dizer: o belo é o feio! Magnífica homenagem prestada à unidade pelos que haviam perdido a noção de unidade! Eles nos provaram que a ideia do belo, quando não está associada com a ideia da ordem, do verdadeiro, do bem, nega-se a si mesma e já não se reconhece. Eles nos provaram que quando o homem quer colocar suas mãos na beleza, desprendida da ordem, associada à ideia de desordem, a beleza que deseja alcançar escapa em eterna fuga; o objeto vacila e, na mão do homem enganado, resta o gélido fantasma da fealdade.

Crítica ao laxismo

O nome da caridade se volta contra a luz sempre que, ao invés de esmagar o erro, pactua com ele, sob o pretexto de se comportar prudentemente em relação aos homens. O nome da caridade se volta contra a luz todas as vezes em que é empregado para fraquejar na execração do mal. 

O homem transige na presença da debilidade que quer invadi-lo quando adquiriu o hábito de chamar de caridade o acomodamento universal de toda debilidade, ainda que remota.

A ausência de horror para com o erro, para com o mal, para com o Inferno, para com o demônio, esta ausência parece que chega a ser uma desculpa para o mal que cada um leva em si mesmo. Quanto menos se detesta o mal em si mesmo, mais se prepara um meio de desculpar o que se acaricia na própria alma.

2 comentários:

Pedrita disse...

nossa, eu mesma não conhecia. beijos, pedrita

Alexmarketing disse...

Excelente, Prezado Rodrigo!