novembro 02, 2013

Alcides Maia – o filho tardio de Alencar

No Rascunho deste mês, analiso Alma bárbara, coletânea de contos do gaúcho Alcides Maia, publicada em 1922. A seguir, um trecho do ensaio:

“Água parada”, que abre o volume, já anuncia o saudosismo do autor e seu apego aos adjetivos. A narrativa idílica, que não chega a criar um conto, fixa-se no tema bucólico e aí permanece, definindo certa idealizada lagoa como “profunda, singular, diferente de todas”, com águas também “profundas”, novamente “diferentes” e, por fim, “atraentes”. Vencidos poucos parágrafos, a água torna-se “calada, solitária, arrastadora”, mais uma vez “atraente” e, a seguir, “indiferente”. Sob o domínio de tal adjetivação, o discurso pernóstico, de nítida influência alencariana, é conseqüência inevitável: “Lá embaixo, bem no fundo, estremeceria ainda, na algidez dos seus desejos torpentes, alguma iara sonolenta, das que outrora seduziam os guerreiros com seus olhos cerúleos e as suas verdes madeixas?”, pergunta-se o narrador. Não faltam — elementos indispensáveis nesse tipo de texto — os lugares-comuns, na forma de “beijos de brisas perfumadas pelas flores da encosta”.

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