dezembro 02, 2006


O caminho do leitor


Acaba de ser publicado na Espanha o romance Onde os velhos não têm vez, de Cormac McCarthy (foto), com o título de No es país para viejos. A editora é a mesma, a Alfaguara, que iniciou suas atividades aqui há poucos meses.

Terminei de ler, há poucos minutos, a resenha publicada hoje no El País, escrita pelo escritor espanhol José María Guelbenzu, e ela me fez pensar, primeiro, no duro caminho que um leitor empreende para construir seu próprio juízo crítico. E, logo depois, em uma verdade quase sempre esquecida: que a crítica literária não é uma ciência exata e que, portanto, seu discurso jamais pode ser considerado definitivo.

Onde os velhos não têm vez serve como um exemplo interessante para compreendermos a multiplicidade de argumentos críticos que podem surgir da leitura de uma única obra, e de como toda a produção de resenhas, artigos ou teses nunca consegue dar conta de todos os aspectos de um livro, ainda que alguns críticos tenham essa pretensão, o que não me parece ser o caso, saliento, dos dois nomes citados aqui.

Se compararmos o texto de Guelbenzu, no qual ele elogia o romance, com, por exemplo, uma das resenhas publicadas no Brasil, escrita por Bernardo Carvalho, veremos que um mundo ideal de leitores seria aquele no qual cada um elaborasse sua própria crítica, sem escutar nenhuma outra voz, a não ser a da sua consciência.

Apenas a título de ilustração, seguem abaixo os parágrafos finais de Guelbenzu e de Carvalho:

"McCarthy ha escrito una novela en la que prescinde casi por completo de una de sus mejores bazas literarias: la creación de imágenes de belleza y plasticidad únicas y fascinantes. Aquí escribe con una desnudez extrema, es una escritura ascética de una contundencia demoledora. El sentido del ritmo y el selecto uso de la elipsis son tan potentes que cualquier autor de thriller daría un brazo por llegar a escribir con una tensión tan absorbente. No hay manera de soltar el libro. Es duro, duro e impactante."

"A leitura fácil de Onde os velhos não têm vez, se não deixa de ser prazerosa, também não impõe nenhum desafio. É possível que não haja nada errado nisso. Mas, se é a resistência que nos dá a dimensão da liberdade, talvez não reste outra opção senão se resignar ao fato de que, no mundo concebido pelo desencanto tardio e radical de McCarthy, não são só os velhos que não têm vez. A literatura também não."

Nenhum comentário: