novembro 18, 2012

O que importa é ser “cool”

Pessoas que chegam à maturidade e lutam para não ter certezas destilam melancolia. Encontro-as sempre – e quanto mais intelectualizado o grupinho, mais estão presentes, sorrisos largos, abertos em exagero, semelhantes a um decalque pronto a descolar, incapaz de suster os olhinhos reluzentes que imploram um tiquinho de atenção. São quarentonas, as rugas em volta dos olhos não enganam, mas vestem-se como crianças, eternas escolares. Há o tipo básico feminino: cabelo mal penteado, sapatinho boneca, saia acima do joelho – e o discurso relativista, a cansativa repetição das fórmulas que todos encontram, com uma passada de olhos, em Sartre, Foucault e Deleuze. Mas sob as palavras, só angústia. A cada noite, o vazio que defendem em seu blá-blá-blá decorado esmaga-as sem dó nem piedade. No dia seguinte estão lá, um pouco trêmulas, sempre incapazes de pensar contra a corrente. A verdade pode fazê-las tropeçar na próxima esquina, mas não importa. O que importa é ser cool.

4 comentários:

Leandro disse...

Lembro de um conto da Márcia Denser, "Tigresa",que dá o diagnóstico correto desse tipo cool de comportamento: o desespero da sinceridade; a fácil adaptação às superfícies aparentemente significativas;a síndrome maléfica de Peter Pan; a descrença na maturidade. Eu e um amigo meu costumávamos chamar essa geração de "modernaigem", hoje eles rotulam de geração "facebook", mas é tudo uma mesma coisa. Belo texto.

Marco Bissoli disse...

Infelizmente esse é o tipo de intelectual que pulula na universidades de hoje. Não há esperança cristã nos olhos dessa gente, mas o negrume da vaidade.

Silvio Ricardo disse...

Puxa vida, sr. Gurgel,

creio que essa realidade sinistra retratada no texto é um pouco a vivida por mim. Trabalho como agente de proteção em um aeroporto e parece que estou vendo tudo isso descrito. O brasileiro 'médio' me parece um tipo de idiota deslumbrado, e se tem um pouco de dinheiro no bolso parece sempre pronto a humilhar o outro ou no falso direito de quebrar as mais simples regras, como formar a fila ou ainda jogar no lixeiro a sapatilha descartável...

José Sem Metafísica disse...

Gurgel, leio em seu livro Muita Retórica Pouca Literatura "o melhor realismo e os mais importantes ficcionistas pós-Semana ds Arte Moderna". Quem seriam eles?