Os campanários de Martinville formam o momento libertador em que a imaginação se torna palavra escrita |
Como o desejo de escrever se transforma em ato concreto?
No primeiro volume
de Em busca do tempo perdido, de
Marcel Proust, o narrador conta sua experiência: ele recorda sua infância,
quando escrever era um anseio atormentador.
Cada detalhe
inspira o garoto. No entanto, há um abismo entre o pensamento e o gesto de
empunhar o lápis. Sua angústia o persegue — e ser incapaz de concretizar o
desejo de escrever muitas vezes o aniquila:
“Parecia-me então
que eu existia da mesma forma que os outros homens, envelheceria e morreria
como eles e que, no meio deles, apenas pertencia ao número dos que não têm
pendor para escrever. E assim, desanimado, renunciava para sempre à literatura
[…]”.
A aflição cresce. A
realidade está sempre a chamá-lo.
Como todo
candidato a escritor que aguarda a inspiração genial ou o tema perfeito, ele se
confunde. Os elementos, entretanto, acumulam-se — até que, num transbordamento, tudo se precipita
quando, certo dia, vê as torres da igreja de Martinville.
Os campanários de
Martinville formam esse momento
libertador, em que, finalmente, imagens, sons, odores e sentimentos se
transformam em palavras escritas.
O trecho interessará a quem deseja escrever e
está acostumado à ansiedade de não
conseguir saltar do sentimento ao texto. Pode ser lido neste link.
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