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Ler bons escritores e aprender com eles não significa copiá-los a vida inteira |
Entre 2011 e 2012,
um jovem amigo me procurou para falar sobre o curso que havia feito: um workshop de criação literária, cujo
professor era — ainda é — um escritor de fama razoável. Notei, ao telefone, que
havia certa urgência na voz dele; e marcamos um café para o dia seguinte.
Meu amigo estava
angustiado. Como todo o jovem que escreve e deseja se aperfeiçoar, ele queria
mais do que um curso: queria um norte, alguém experiente que lhe dissesse “siga
por aqui”. Mas o workshop, que havia
durado 4 horas, fora decepcionante.
Logo que sentamos
à mesa, ele disse: “Sabe como o curso começou? Sabe qual foi a primeira coisa
que ele falou?”. Eu respondi: “O quê?”. Meu amigo, com os olhos saltando e a
boca cheia de indignação: “Ele foi para o meio da classe, ergueu os braços e
falou como se fosse Moisés no alto do Monte Sinai: — Esqueçam tudo que vocês
leram até hoje! Esqueçam todos os escritores que existiram antes de vocês!
Vocês são os primeiros escritores na face da Terra! E hoje vão aprender que não
existe, nunca existiu e jamais existirá um escritor melhor do que vocês!”. Eu
já estava rindo, mas respondi: “Não acredito...”.
Os detalhes do
cursinho, alguns insanos, não cabem aqui. Mas depois do café, no metrô de volta
para casa, comecei a pensar em tudo. Não era possível que um escritor se
dispusesse a começar seu workshop
enganando os alunos. Aquela proclamação inicial não havia sido um conjunto de
frases de efeito — ele realmente insistiu que os jovens deveriam parar de ler,
pois “não podiam seguir modelos”.
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