Mestre Graciliano
Acabo de ler dois ótimos artigos sobre Graciliano Ramos e seu Vidas secas (que completa setenta anos de publicação e acaba de ganhar magnífica reedição pela Record): o de Reinaldo Azevedo - "Graciliano, o grande" -, na Veja, e o de Ronaldo Correia de Brito, em O Estado de S. Paulo - "Vidas Secas". Os dois reafirmam - o que nunca é demais - a qualidade do estilo de Graciliano, sua linguagem purificada, seu absoluto domínio da língua.
Reinaldo Azevedo salienta o repúdio do escritor ao "engajamento" na arte e dá pistas sobre os motivos de Graciliano ser colocado abaixo de Guimarães Rosa (típica injustiça, fruto de modismos, que o tempo haverá de corrigir). Mas Reinaldo faz, principalmente, uma bela análise da ética que perpassa a obra de Graciliano - muito distante do relativismo moral e cultural que impera atualmente -, compondo um artigo que merece não só leitura, mas reflexão.
Ronaldo Correia de Brito recorda outras qualidades de Graciliano - por exemplo, sua sábia distância do movimento modernista - e recoloca em pauta a questão do regionalismo, termo difuso, que tem servido para diminuir certos autores e enaltecer outros, tratando como universalistas apenas os que seguem a cartilha da vanguardice.
Ao falarem sobre Graciliano, Azevedo e Brito sinalizam o caminho daqueles que pretendem criar literatura - e não somente repetir as fórmulas emboloradas das vanguardas européias.