novembro 26, 2010

O riso da dobrez – e outro riso

Presente, passado remoto, futuro e passado próximo se alternam nos dois primeiros parágrafos do conto “A causa secreta”, de Machado de Assis, para introduzir o leitor na história que só pode ser contada, sem dissimulações, agora (conforme o presente a partir do qual o narrador fala) que os três personagens estão mortos. História de algum modo embaraçosa, portanto, e também complexa, pois exige que o narrador recue “à origem da situação”. Assim Machado fisga o leitor: jogando com o tempo, sugerindo a gravidade dos fatos que levaram à cena inicial do conto – “[...] os dedos de Maria Luísa parecem ainda trêmulos, ao passo que há no rosto de Garcia uma expressão de severidade” – e escondendo de nós o que sente o terceiro personagem, Fortunato, que, “na cadeira de balanço, olhava para o teto”.

A partir do terceiro parágrafo, será Fortunato o centro da narrativa. Mas quem é, realmente, o homem que Garcia, então estudante de medicina, vê, en passant, saindo da Santa Casa? Um médico? Um samaritano? Mais tarde saberá que se trata de um “capitalista, solteiro” – e conhecerá, lentamente, muito mais.

Quando reencontra o homem que, por algum motivo, o impressionou, está no teatro, teatrinho de periferia, à qual “só os mais intrépidos ousavam estender os passos”. O “dramalhão cosido a facadas” hipnotiza Fortunato – e sua exagerada atenção desperta a curiosidade de Garcia. Este segue o primeiro, vendo-o caminhar “cabisbaixo, parando às vezes, para dar uma bengalada em algum cão que dormia”.

Antes, porém, o narrador nos oferece um detalhe curioso: Fortunato abandona o teatro assim que o drama termina, indiferente à peça seguinte, uma farsa. As sutilezas de Machado, bem sabemos, nunca são ornamentos inúteis, e não é diferente neste caso, em que o fato de o personagem desprezar uma peça cômica, mas redobrar sua atenção nos “lances dolorosos” do drama, é a primeira, tênue característica de Fortunato, complementada, logo a seguir, pelos cães que ele deixa ganindo enquanto caminha.

No próximo encontro, surpreendente, Garcia descobrirá que esse homem pode não apenas salvar um estranho esfaqueado, mas também se desvelar à cabeceira do ferido, com “rara dedicação”. Há algo perturbador, contudo, pois a fácies de Fortunato não corresponde aos seus gestos: “Os olhos eram claros, cor de chumbo, moviam-se devagar, e tinham a expressão dura, seca e fria”. Para completar o quadro, ficamos sabendo que a vítima da agressão encontra apenas desdém quando, recuperada, vai agradecer ao seu salvador. E o leitor se pergunta: Por que, então, ele foi bom? Por que despreza com arrogância o agradecimento?

Anos depois, quando Garcia começa a se tornar íntimo desse enigmático personagem e passa a frequentar a casa que ele divide com a esposa, Maria Luísa, a lembrança da dedicação de Fortunato retorna, e o amigo o descreve com elogios à mulher atenta. Esta, que em relação ao marido tem “uns modos que transcendiam o respeito e confinavam na resignação e no temor”, ouve a história, primeiro “espantada”, depois “risonha e agradecida”. A reação do marido, contudo, é diversa. Fortunato complementa o relato de Garcia com a narração da visita do esfaqueado; e o faz de maneira incomum, rindo muito. E o narrador observa: “Não era o riso da dobrez. A dobrez é evasiva e oblíqua; o riso dele era jovial e franco”. Parece haver, realmente, uma terrível contradição nesse homem: na aparência caridoso, é capaz de zombar de quem ele próprio ajudou.

Esse é o centro da trama psicológica criada por Machado, para quem os homens ocultam, sempre, uma segunda intenção em cada gesto. A bondade de Fortunato, o leitor descobrirá, guarda um propósito detestável – o bem que ele pratica possui um só objetivo: satisfazer a sua perversão. À medida que o conto se desenrola e a personalidade desse curioso benfeitor ganha novos contornos, o leitor acordará para uma espécie sui generis de mal, sem jamais poder acusar Fortunato de ser mau. Machado nos oferece a oportunidade de refletir sobre as possíveis gradações da busca do prazer, “um vasto prazer, quieto e profundo”, no qual não há “nem raiva, nem ódio”, mas que, forjado no que parece ao leitor um antagonismo atroz, transforma o personagem numa “redução de Calígula”. Portanto, como se trata de Machado, talvez Fortunato seja, de alguma forma, mau...

Em uma de suas crônicas, “Antonieta Rudge”, Manuel Bandeira diz que o autor de Dom Casmurro tem “o gosto doentio de espiar o sofrimento alheio”. E completa: “A psicologia dura, derrotista, insultante de quase toda a obra. Sempre o móvel egoísta, e ainda que limpo, inconfessável. [...] Em suma eu achava, e ainda hoje acho, que Machado de Assis era um monstro. Um monstro que não fazia mal a ninguém, que nunca haveria de fazer mal a ninguém, mas não obstante um monstro”. Ora, quem sonda as filigranas dos homens está fadado a descobrir monstruosidades e santidades, mas isso não faz dele, necessariamente, um monstro ou um santo. O “gosto doentio” de Machado resume-se à investigação das zonas escuras do ser humano, nada mais. E se ele encontra máculas, também consegue ver, na mesma pessoa – neste caso, em Fortunato –, o devotamento amoroso.

Na verdade, nada é simples ou plano no Bruxo do Cosme Velho. Ele afastou de si as generalizações – e não se satisfez apenas com a busca do que Nabokov chamava de “o pormenor incongruente”, mas a forma por meio da qual expressou suas descobertas também fugiu a todos os estereótipos, pois é possível ouvir ao fundo, enquanto o leitor se revolta ou escandaliza, o seu riso algo diabólico, sempre instigante, que nunca julga, jamais condena.

novembro 18, 2010

O romance, uma espécie de abrigo temporário

“Sem uma arte que não se esquive diante de qualquer horror pessoal ou coletivo, ele [Proust] insiste, não podemos conhecer a nós mesmos nem aos outros. Apenas a arte penetra no que o orgulho, a paixão, a inteligência e o hábito edificam por toda parte – as realidades aparentes deste mundo. Existe uma outra realidade, e genuína, a qual perdemos de vista. Esta outra realidade está sempre nos enviando sinais, que, sem a arte, não podemos receber. Proust denomina estes sinais de nossas ‘impressões verdadeiras’. Sem a arte, as impressões verdadeiras, nossas intuições persistentes, ficarão escondidas para nós, e não nos restará mais nada senão uma ‘terminologia para fins práticos, a que falsamente chamamos vida’.

[...]

Ninguém que tenha gasto anos escrevendo romances pode ser indiferente a isso. O romance não pode ser comparado ao épico, nem aos monumentos do drama poético. Mas é o melhor que podemos fazer agora. É uma espécie de abrigo temporário, uma choupana onde o espírito vem buscar guarida. Um romance se equilibra entre algumas poucas impressões autênticas e a multidão de impressões falsas que mascaram aquilo a que chamamos vida. O romance nos diz que para cada ser humano há uma variedade de existências, que a existência isolada é ela mesma em parte ilusão, que essas várias existências significam alguma coisa, tendem a alguma coisa, preenchem alguma coisa; o romance nos promete sentido, harmonia, e até justiça. O que Conrad disse era verdade: a arte tenta descobrir no universo, na matéria bem como nos fatos da vida, aquilo que é fundamental, duradouro, essencial.”

Saul Bellow, Discurso do Prêmio Nobel

novembro 12, 2010

O presente e o futuro

"Nunca estamos em nós; estamos sempre além. O temor, o desejo, a esperança jogam-nos sempre para o futuro, sonegando-nos o sentimento e o exame do que é, para distrair-nos com o que será, embora então já não sejamos mais." (Montaigne)

"As expectativas sempre fazem com que nós, os seres humanos, negligenciemos o presente." (Freud)

novembro 05, 2010

"O modelito da mordaça"

Enquanto os esquerdistas moralizadores e os ditadorzinhos dissimulados pretendem censurar Monteiro Lobato, a sempre lúcida Marisa Lajolo, decana dos estudos lobatianos no Brasil, acaba de escrever o preciso, brilhante artigo que coloco a seguir. Vejam o que ela diz: "o modelito da mordaça" que querem nos impor agora "talvez seja mais pernicioso do que a ostensiva queima de livros em praça pública [...], pois desta vez a censura não quer determinar apenas o que se pode ou não se pode ler, mas é mais sutil, determinando como se deve ler o que se lê!".

Leiam com atenção:

Quem paga a música escolhe a dança?

Marisa Lajolo

“Caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato, está em pauta e é bom que esteja, pois é um livro maravilhoso.

Narra as aventuras da turma do sítio de Dona Benta primeiro às voltas com a bicharada da floresta próxima e, depois, com uma comissão do governo encarregada de caçar um rinoceronte fugido de um circo. Nos dois episódios prevalecem o respeito ao leitor, a visão crítica da realidade, o humor fino e inteligente.

Na primeira narrativa, a da caçada da onça, as armas das crianças são improvisadas e na hora agá não funcionam. É apenas graças à esperteza e inventividade dos meninos que eles conseguem matar a onça e arrastá-la até a casa do sítio. A morte da onça provoca revolta nos bichos da floresta e eles planejam vingança numa assembléia muito divertida: felinos ferozes invadem o sítio e – de novo – é apenas graças à inventividade e esperteza das crianças (particularmente de Emília) que as pessoas escapam de virar comida de onça.

Na segunda narrativa, a fuga de um rinoceronte de um circo e seu refúgio no sítio de dona Benta leva para lá a Comissão que o governo encarregou de lidar com a questão. Os moradores do sítio desmascaram a corrupção e o corpo mole da comissão, aliam-se ao animal cioso da liberdade conquistada e espantam seus proprietários. E, batizado Quindim, o rinoceronte fica para sempre incorporado às aventuras dos picapauzinhos.

Estas histórias constituem o enredo do livro que parecer recente do Conselho Nacional de Educação (CNE), a partir de denúncia recebida, quer proibir de integrar acervos com os quais programas governamentais compram livros para bibliotecas escolares. O CNE acredita que o livro veicula conteúdo racista e preconceituoso e que os professores não têm competência para lidar com tais questões. Os argumentos que fundamentam as acusações de racismo e preconceito são expressões pelas quais Tia Nastácia é referida no livro, bem como a menção à África como lugar de origem de animais ferozes.
Sabe-se hoje que diferentes leitores interpretam um mesmo texto de maneiras diferentes. Uns podem morrer de medo de uma cena que outros acham engraçada. Alguns podem sentir-se profundamente tocados por passagens que deixam outros impassíveis. Para ficar num exemplo brasileiro já clássico, uns acham que Capitu (D. Casmurro, Machado de Assis, 1900) traiu mesmo o marido, e outros acham que não traiu, que o adultério foi fruto da mente de Bentinho. Outros ainda acham que Bentinho é que namorou Escobar...!

É um grande avanço nos estudos literários esta noção mais aberta do que se passa na cabeça do leitor quando seus olhos estão num livro. Ela se fundamenta no pressuposto segundo o qual, dependendo da vida que teve e que tem, daquilo em que acredita ou desacredita, da situação na qual lê o que lê, cada um entende uma história de um jeito. Mas essa liberdade do leitor vive sofrendo atropelamentos. De vez em quando, educadores de todas as instâncias – da sala de aula ao Ministério de Educação – manifestam desconfiança da capacidade de os leitores se posicionarem de forma correta face ao que leem.

Infelizmente, estamos vivendo um desses momentos.

Como os antigos diziam que quem paga a música escolhe a dança, talvez se acredite hoje ser correto que quem paga o livro escolhe a leitura que dele se vai fazer. A situação atual tem sua (triste) caricatura no lobo de Chapeuzinho Vermelho que não é mais abatido pelos caçadores, e pela dona Chica-ca que não mais atira um pau no gato-to. Muda-se o final da história e re-escreve-se a letra da música porque se acredita que leitores e ouvintes sairão dos livros e das canções abatendo lobos e caindo de pau em bichanos. Trata-se de uma ideia pobre, precária e incorreta que além de considerar as crianças como tontas, desconsidera a função simbólica da cultura. Para ficar em um exemplo clássico, a psicanálise e os estudos literários ensinam que a madrasta malvada de contos de fada não desenvolve hostilidade contra a nova mulher do papai, mas – ao contrário ¬– pode ajudar a criança a não se sentir muito culpada nos momentos em que odeia a mamãe, verdadeira ou adotiva...

Não deixa de ser curioso notar que esta pasteurização pretendida para os livros infantis e juvenis coincide com o lamento geral – de novo, da sala de aula ao Ministério da Educação – pela precariedade da leitura praticada na sociedade brasileira. Mas, como quem tem caneta de assinar cheques e de encaminhar leis tem o poder de veto, ao invés de refletir e discutir, a autoridade veta. E veta porque, no melhor dos casos e muitas vezes com a melhor das intenções, estende suas reações a certos livros a um numeroso e anônimo universo de leitores.

No caso deste veto a “Caçadas de Pedrinho”, a conselheira relatora Nilma Lino Gomes acolhe denúncia de Antonio Gomes da Costa Neto que entende como manifestação de preconceito e intolerância “de maneira mais específica a personagem feminina e negra Tia Anastácia e as referências aos personagens animais tais como urubu, macaco e feras africanas” ; (...) aponta “menção revestida de estereotipia ao negro e ao universo africano , que se repete em vários trechos do livro analisado” e exige “da editora responsável pela publicação a inserção no texto de apresentação de uma nota explicativa e de esclarecimentos ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos na literatura”.

Independentemente do imenso equívoco em que, de meu ponto de vista, incorrem o denunciante e o CNE, que aprova por unanimidade o parecer da relatora, o episódio torna-se assustador pelo que endossa, anuncia e recomenda de patrulhamento da leitura na escola brasileira. A nota exigida transforma livros em produtos de botica, que devem circular acompanhados de bula com instruções de uso.

O que a nota exigida deve explicar? O que significa “esclarecer ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos na literatura”? A quem deve a editora encomendar a nota explicativa? Qual seria o conteúdo da nota solicitada? A nota deve fazer uma auto-crítica (autoral, editorial?), assumindo que o livro contém estereótipos? A nota deve informar ao leitor que “Caçadas de Pedrinho” é um livro racista? Quem decidirá se a nota explicativa cumpre efetivamente o esclarecimento exigido pelo MEC?

As questões poderiam se multiplicar. Mas não vale a pena. O panorama que a multiplicação das questões delineia é por demais sinistro. Como fecho destas melancólicas maltraçadas aponte-se que qualquer nota no sentido solicitado – independente da denominação que venha a receber, do estilo em que seja redigida, e da autoria que assumir – será um desastre. Dará sinal verde para uma literatura autoritariamente auto-amordaçada. E este modelito da mordaça de agora talvez seja mais pernicioso do que a ostensiva queima de livros em praça pública, número medonho mas que de vez em quando entra em cartaz na história desta nossa Pátria amada idolatrada salve salve. E salve-se quem puder... pois desta vez a censura não quer determinar apenas o que se pode ou não se pode ler, mas é mais sutil, determinando como se deve ler o que se lê!

Marisa Lajolo é professora titular (aposentada) da UNICAMP; professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie; Pequisadora Sênior do CNPq.; Ex-Secretária de Educação de Atibaia (SP); Organizadora (com João Luís Ceccantini) do livro "Monteiro Lobato livro a livro (obra infantil)", obra que recebeu o Prêmio Jabuti 2009 como melhor livro de Não Ficção.
  

novembro 02, 2010

Qualquer discurso criminoso de "democratizar" a mídia através de órgãos tutelares do governo deve ser rechaçado se não quisermos virar uma República da banana



Guerra

Luiz Felipe Pondé

"DEMOCRACIA" é uma palavra quase tão gasta quanto a palavra "energia". Quer ver?

Pode-se falar em democracia na escola (papo furado para não dar aula ou seduzir os alunos que não gostam de ter aula), democracia dos afetos (hoje transo seres humanos, amanhã, labradores, nada de "especismo", porque cachorro é gente), democracia corintiana (dessa nem falo porque sou um palmeirense ressentido), democracia na família (mesmo que os pais paguem as contas, eles devem obedecer à base popular, isto é, os filhos), enfim, qualquer um pode inventar a sua própria democracia.

Cuba se acha democrática, quando na realidade é uma ilha sitiada por um sistema da idade da pedra. A Alemanha comunista, logo ditadura da pior espécie, se chamava "República Democrática Alemã".

Chávez e Evo Morales (anões bolivarianos) também acham que é democrático ficar mudando a Constituição para ficarem no poder 200 anos. Não é o voto popular que garante sozinho a democracia (só pensa isso quem é analfabeto ou mentiroso). Esta é a nova esquerda que, como sempre quis, quer dominar a América Latina.

Nenhum regime de esquerda é democracia porque os esquerdinhas são essencialmente autoritários como os talebans.

Basta ver o que intelectuais de esquerda fazem no seu mundinho da universidade: destroem carreiras, inviabilizam pesquisas, aniquilam alunos promissores, constrangem moralmente a dissidência, só para perpetuar o domínio institucional. Eles são maioria absoluta e destroem toda liberdade intelectual em nome do "bem coletivo".

Estão preparando no Brasil um dos maiores abusos em nome (adivinhe?) da democracia: o controle da mídia. E esta é uma forma de controle da cultura.
Alguns Estados se preparam para criar órgãos de controle da mídia. Claro que os que assim agem afirmam não ser intenção deles controlar a mídia, mas, como eu não acredito em Papai Noel, sei que não dizem a verdade.
O que é a democracia? Antes de tudo é uma palavra do grego arcaico. Depois, ganhou cidadania na filosofia política em geral para se referir a um sistema de governo baseado na "soberania popular", e aí, meu amigo, a coisa vai para o brejo.

Por exemplo, eu posso ser um tonto, analfabeto de pai e mãe, e meu voto vale tanto quanto o seu, pessoa culta, esforçada para compreender o mundo e fazê-lo menos estúpido do que já é. Eis o brejo...

Logo, voto popular não basta para garantir coisa nenhuma. Todo mundo sabe que, como mostra o maravilhoso filme "Tropa de Elite 2" (que merece um texto à parte), voto é mercadoria barata, qualquer bandido pode migrar do tráfico de drogas para o tráfico de influência (corrupção) e comercializar votos.

E, na democracia, voto vale ouro para quem o recebe e nada para quem o dá. A sobrevida da democracia depende de mecanismos finos de pesos e contrapesos que sustentam a liberdade e que vão muito além do simples voto de qualquer um. E é aí que a democracia brasileira está a um passo do abismo.

Qualquer discurso criminoso de "democratizar" a mídia através de órgãos tutelares do governo (seja ele qual for, mesmo um em que eu votei) deve ser rechaçado se não quisermos virar uma República da banana.
A mídia (TV, cinema, rádio, jornais, publicidade) deve ser absolutamente livre. Deve ter seus próprios mecanismos de autorregulação e jamais ser objeto de "fiscalização externa" (que será sempre ideológica, mesmo que contem historinhas de fadas para dizer que não é).

As melhores intenções neste caso serão sempre criminosas a serviço do "mal". Mídia boa é mídia incômoda. Para além de qualquer crítica que se possa fazer à mídia, ela é a principal arma contra sistemas totalitários que amam a burrice pública da unanimidade.

A pior forma de controle da mídia é aquela que se diz em nome do "combate democrático aos preconceitos" ou da "democratização social" porque se faz invisível usando a palavra mágica "democracia".

Querem uma mídia democrática? Deixem-nos em paz e aguentem o tranco. Esses órgãos de controle da mídia devem ser encarados como uma declaração de guerra. Você tem medo da liberdade?

(Folha de S. Paulo, 1º de novembro de 2010)

novembro 01, 2010

Em defesa de Monteiro Lobato

Convido todos os que, como eu, consideram um despautério a censura de Monteiro Lobato pelo Conselho Nacional de Educação a assinar o abaixo-assinado "Em defesa de Monteiro Lobato".