Prefiro não
imaginar o que Alexis de Tocqueville diria se conhecesse a atual literatura
brasileira.
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maio 25, 2013
Alexis de Tocqueville, literatura e democracia
“By and large the literature of a democracy will never
exhibit the order, regularity, skill, and art characteristic of aristocratic
literature; formal qualities will be neglected or actually despised. The style
will often be strange, incorrect, overburdened, and loose, and almost always
strong and bold. Writers will be more anxious to work quickly than to perfect
details. Short works will be commoner than long books, wit than erudition,
imagination than depth. There will be a rude and untutored vigor of thought
with great variety and singular fecundity. Authors will strive to astonish more
than to please, and to stir passions rather than to charm taste.” (em Democracy in America)
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janeiro 17, 2013
Bruno Tolentino e a “esterilidade palavrosa”
A tese de que a
Semana de 22, quando analisada no contexto da literatura brasileira, foi um
evento não só desnecessário, mas completamente dispensável, ganha força a cada
parágrafo do ensaio Banquete de ossos,
publicado em 1998. “[...] Tragicamente nos apalhaçamos em 22 no vão intuito de
dar o salto que afinal nem demos nem precisávamos dar: o salto mortal (ou
letal?) no trapézio dos andradóides não nos levou mais alto do que andáramos
até então”, denuncia Tolentino, mostrando, logo a seguir, como tudo que houve
de melhor após 1922 nasceu dos autores geniais que existiam muito antes da
Semana de Arte Moderna.
Ensaio para ser lido e estudado. Ensaio que devemos guardar dentro da carteira, numa folha dobradinha, para reler nos momentos de desespero, quando, depois de olhar a estante de literatura brasileira nas livrarias ou ler a opinião de certos críticos nos cadernos culturais, quase massacrados pelo amontoado de estultices, devemos, precisamos lembrar que “não somos uma variante afro-cafuza da lusofonia, nosso dilema não é ‘tupi or not tupi’, é, ainda e sempre, ser ou não ser o que de fato somos: uma grande e sempre por si mesma renovada civilização lusófona”.
O que Tolentino
chama de “ruidoso abalo símio de 1922” na verdade não teria passado – e
realmente não passou – de “um frisson nosso todo particular, de natureza,
fôlego e alcance decididamente paroquiais. Nada nos deu de verdadeiramente
universal que enriquecesse a língua que se queria subitamente ‘autofágica’ já
que o banquete devorou sobretudo nossa gramática. Pouco se acrescentou à ‘realidade’
além de uma amputação gradual das regências verbais, entre outros gracejos;
fenômenos que constituiriam um escândalo em qualquer língua [...]. Presentinho
de grego dos desossados balbucios populistas dos rapazes de 22…”
Ensaio para ser lido e estudado. Ensaio que devemos guardar dentro da carteira, numa folha dobradinha, para reler nos momentos de desespero, quando, depois de olhar a estante de literatura brasileira nas livrarias ou ler a opinião de certos críticos nos cadernos culturais, quase massacrados pelo amontoado de estultices, devemos, precisamos lembrar que “não somos uma variante afro-cafuza da lusofonia, nosso dilema não é ‘tupi or not tupi’, é, ainda e sempre, ser ou não ser o que de fato somos: uma grande e sempre por si mesma renovada civilização lusófona”.
janeiro 14, 2013
Vanguardeiros autistas
O ensaio de Luis Dolhnikoff na Revista Sibila, sobre o
estado atual da literatura brasileira, nasce das matérias publicadas na Folha de S. Paulo há alguns dias, ambas
escritas por Marco Rodrigo Almeida: “Eles não chegam lá” e “Ficção perdeu os leitores, diz autor de 'O Filho Eterno'”.
O raciocínio proposto pelo ensaísta toca no centro de uma importante questão da
nossa literatura, sobre a qual, aliás, venho falando há tempo: “Os romancistas
brasileiros escrevem, de fato, ‘para os amigos’, mas não como motivo primário.
Na verdade, eles não escrevem para o público, que desprezam”.
As consequências dessa atitude subdesenvolvida – mas que é tratada como supostamente vanguardista – não se esgotam, repito, “na leitura obscura, forçosamente aflitiva. Nossos poucos leitores, ávidos por uma literatura que os conduza para longe da mesmice e da banalidade, encontram, nas livrarias, as seções de literatura brasileira abarrotadas de textos herméticos. É fatal, portanto, que sejam raptados para o mundo da subliteratura, tornando-se reféns dos romancinhos kardecistas e de outras tantas panaceias na forma de brochura”.
O texto de Dolhnikoff,
que merece leitura atenta, pode ser sintetizado neste parágrafo acertadíssimo: “A
incapacidade dos escritores brasileiros de criarem livros ao mesmo tempo bons e
prazerosos é apenas a incapacidade dos escritores brasileiros de criarem livros
ao mesmo tempo prazerosos e bons. Eles são, como regra, chatos, porque, como
regra, são pretensiosos. E são pretensiosos por ignorarem o público leitor. Se
não o ignorassem, não poderiam ser chatos, sob o risco do fracasso. Cria-se assim
uma literatura satisfeita para ninguém, ou quase ninguém. Satisfeita talvez,
mas não satisfatória. A menos que se considere a criação literária um hobby, que, de fato, só interessa para
quem o pratica. Mas se se pretende algo além de um hobby, a literatura não pode satisfazer somente quem se dedica a
ela. O público tem de ser posto na equação. Ou nas equações. Pois há uma
simples e uma complexa”.
Denunciando uma
literatura que se pretende de vanguarda, mas que na verdade não passa de
literatura “autista”, o texto retoma, parcialmente, o que apontei há alguns
anos, no jornal Rascunho, no ensaio “Mazelas da narratofobia”: “Parcela dos escritores brasileiros contemporâneos sofre de
uma estranha patologia: escrevem não para satisfazer seus impulsos criativos,
mas, principalmente, para cumprir determinados preceitos. Dito de outra forma,
alguns escritores submetem a criatividade às regras difundidas por supostos
expertos, ou, pior, ao gosto das panelinhas. A escrita se afasta, assim, do seu
verdadeiro caráter — o de exercício de comunicação —, transformando-se num
fetiche. A literatura produzida segundo tais critérios não é só exclusivista,
mas pedante e artificial, além de subserviente: nasce para agradar a uns
poucos, para corresponder àquelas teorias que certos literatos diluíram e
transformaram em receitas aparentemente infalíveis”.
As consequências dessa atitude subdesenvolvida – mas que é tratada como supostamente vanguardista – não se esgotam, repito, “na leitura obscura, forçosamente aflitiva. Nossos poucos leitores, ávidos por uma literatura que os conduza para longe da mesmice e da banalidade, encontram, nas livrarias, as seções de literatura brasileira abarrotadas de textos herméticos. É fatal, portanto, que sejam raptados para o mundo da subliteratura, tornando-se reféns dos romancinhos kardecistas e de outras tantas panaceias na forma de brochura”.
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maio 09, 2012
Literatura, subjetivismo e covardia
Vivemos uma
época de simplismos. Ou melhor, um tempo no qual o simplismo e o raciocínio esquemático
pretendem substituir os caminhos do espírito que, demonstrando coragem e
maturidade, olha para si mesmo, em seguida, prolongadamente, para o real,
volta-se mais uma vez para o seu próprio eu – e só então expressa suas ideias,
seus sentimentos.
Esta é uma época na qual a imprudência e a precipitação brilham a cada textinho de quatro ou seis parágrafos, escrito com a arrogância de ser não só uma reflexão, mas de apontar caminhos, soluções, regras, quando não verdades.
Um tempo em que os textos fedem a rascunho, a esboço. A boa menina faz seu resuminho escolar com capricho, usa canetinhas coloridas para as flores das margens, numera as linhas – e fecha a página do caderno com delicada iluminura. Mas o texto continua um resumo. O esquematismo refulge a cada linha.
Assim, a coluninha de jornal se transforma em ensaio, o conto estendido em romance, as trinta linhas repetindo lições de Derrida em crítica literária.
Ora, quando o centro da consciência já não é a verdade, mas apenas o gosto efêmero, então o subjetivismo comanda. É o império dos croniqueiros, coelhinhos de olhar róseo, tiques nervosos e pelagem branca, apressados e superficiais. Tempo triste, desolador – não só para a literatura –, no qual os homens, sem perceber, se transformam em covardes, pois só têm uma única resposta aos seus desejos pessoais e ao senso comum: – Sim.
Esta é uma época na qual a imprudência e a precipitação brilham a cada textinho de quatro ou seis parágrafos, escrito com a arrogância de ser não só uma reflexão, mas de apontar caminhos, soluções, regras, quando não verdades.
Um tempo em que os textos fedem a rascunho, a esboço. A boa menina faz seu resuminho escolar com capricho, usa canetinhas coloridas para as flores das margens, numera as linhas – e fecha a página do caderno com delicada iluminura. Mas o texto continua um resumo. O esquematismo refulge a cada linha.
Assim, a coluninha de jornal se transforma em ensaio, o conto estendido em romance, as trinta linhas repetindo lições de Derrida em crítica literária.
Ora, quando o centro da consciência já não é a verdade, mas apenas o gosto efêmero, então o subjetivismo comanda. É o império dos croniqueiros, coelhinhos de olhar róseo, tiques nervosos e pelagem branca, apressados e superficiais. Tempo triste, desolador – não só para a literatura –, no qual os homens, sem perceber, se transformam em covardes, pois só têm uma única resposta aos seus desejos pessoais e ao senso comum: – Sim.
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Subliteratura
fevereiro 08, 2012
– Professor, o que é subliteratura?
“La
sub-literatura es el conjunto de libros estimables que cada nueva generación
lee con deleite, pero que nadie puede releer.” – Nicolás Gómez Dávila (Escolios a un texto implícito)
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