dezembro 31, 2008

2008/2009


A fim de celebrar o início de 2009 - e agradecer por todos os gestos de atenção e carinho que recebi de meus leitores em 2008 -, publico o belíssimo lied "September", de Richard Strauss, na voz da magnífica soprano lírica finlandesa, Soile Isokoski. "September" pertence ao ciclo Vier letzte Lieder (Quatro últimas canções) e foi composto sobre um poema de Hermann Hesse.

Que possamos assistir ao fim de 2008 com a certeza de que a vida sempre se renova.



September

Hermann Hesse

Der Garten trauert,
kühl sinkt in die Blumen der Regen.
Der Sommer schauert
still seinem Ende entgegen.

Golden tropft Blatt um Blatt
nieder vom hohen Akazienbaum.
Sommer lächelt erstaunt und matt
in den sterbenden Gartentraum.

Lange noch bei den Rosen
bleibt er stehen, sehnt sich nach Ruh.
Langsam tut er die großen
müdgewordnen Augen zu.

*

Il giardino è triste,
fredda cade la pioggia sui fiori.
Rabbrividisce l'estate,
silenziosa verso la sua fine.

In pioggia d'oro, una dopo l'altra,
si staccano le foglie dall'alta acacia;
l'estate sorride attonita e spossata
nel sogno morente del giardino.

A lungo ancora resta vicino alle rose,
sospirando il riposo.
Lentamente chiude [i grandi]
gli occhi stanchi.

*

El jardín se entristece,
fría cae sobre las flores la lluvia.
El verano asiste
silenciosamente a la llegada de su fin.

Una tras otra, van cayendo
las doradas hojas de la alta acacia.
El verano sonríe, entre sorprendido y fatigado,
en el moribundo sueño del jardín.

Largo tiempo permanece él todavía junto a las rosas,
quieto, anhelando el reposo;
lentamente va cerrando
sus ojos fatigados.

*

The garden is mourning,
the rain sinks coolly into the flowers.
Summer shudders
as it meets its end.

Leaf upon leaf drops golden
down from the lofty acacia.
Summer smiles, astonished and weak,
in the dying garden dream.

For a while still by the roses
it remains standing, yearning for peace.
Slowly it closes its large
eyes grown weary.

*

Le jardin pleure,
Froide, la pluie coule sur les fleurs.
L'été frémit,
Muet à l'approche de sa fin.

L'or goutte de feuille en feuille,
Tombe du grand acacia.
L'été sourit, étonné et alangui,
Dans le rêve mourant du jardin.

Longtemps encore, auprès des roses
Il reste là, aspirant au repos.
Lentement il ferme ses grands yeux
Qui s'ensommeillent.

dezembro 07, 2008

Mestre Graciliano


Acabo de ler dois ótimos artigos sobre Graciliano Ramos e seu Vidas secas (que completa setenta anos de publicação e acaba de ganhar magnífica reedição pela Record): o de Reinaldo Azevedo - "Graciliano, o grande" -, na Veja, e o de Ronaldo Correia de Brito, em O Estado de S. Paulo - "Vidas Secas". Os dois reafirmam - o que nunca é demais - a qualidade do estilo de Graciliano, sua linguagem purificada, seu absoluto domínio da língua.

Reinaldo Azevedo salienta o repúdio do escritor ao "engajamento" na arte e dá pistas sobre os motivos de Graciliano ser colocado abaixo de Guimarães Rosa (típica injustiça, fruto de modismos, que o tempo haverá de corrigir). Mas Reinaldo faz, principalmente, uma bela análise da ética que perpassa a obra de Graciliano - muito distante do relativismo moral e cultural que impera atualmente -, compondo um artigo que merece não só leitura, mas reflexão.

Ronaldo Correia de Brito recorda outras qualidades de Graciliano - por exemplo, sua sábia distância do movimento modernista - e recoloca em pauta a questão do regionalismo, termo difuso, que tem servido para diminuir certos autores e enaltecer outros, tratando como universalistas apenas os que seguem a cartilha da vanguardice.

Ao falarem sobre Graciliano, Azevedo e Brito sinalizam o caminho daqueles que pretendem criar literatura - e não somente repetir as fórmulas emboloradas das vanguardas européias.