maio 27, 2010
A prevalência da generalização
Um dos ensaios que mais gosto de reler é o que fecha o volume do Curso de Literatura Europeia de Vladimir Nabokov: “A arte da literatura e o senso comum”. São tantos os insights, as colocações acertadas e esclarecedoras do autor de Lolita, que seria possível escrever vários ensaios sobre eles – ou apenas, o que sempre faço, desfrutá-los, saboreando o estilo, a ironia, os longos parágrafos em que Nabokov tece as mais inesperadas associações. Todo escritor, principiante ou não, deveria ler esse texto e as aulas de Nabokov, principalmente para abandonar um erro cada vez mais comum, ao menos na literatura brasileira contemporânea: o de conceder prevalência às generalizações aparentemente dominantes – e não ao que realmente importa, o que realmente pode descrever um fato ou um personagem: o pormenor incongruente.
Marcadores:
Crítica literária,
Vladimir Nabokov
maio 26, 2010
Convite aos amigos
Estarei no 2º Festival Internacional da Leitura de Campinas (SP), no próximo dia 3 de junho, às 18 h, no Largo do Rosário, participando de uma mesa sobre Ficção Científica, ao lado do escritor, meu querido amigo, Carlos Orsi Martinho. Será uma ótima oportunidade para debatermos sobre a crítica literária no Brasil e sua relação com um gênero até hoje desprezado entre nós. Até lá!
Marcadores:
Carlos Orsi Martinho,
Crítica literária,
ficção científica
maio 14, 2010
Censura no Irã
O governo brasileiro demonstra, mais uma vez, seu inequívoco apoio à ditadura iraniana, agora num momento especial. Não, não me refiro ao programa nuclear da teocracia que pretende destruir Israel, nega o Holocausto e financia o terrorismo em todo o mundo, mas à 23ª Feira Internacional do Livro de Teerã, que termina em 16 de maio. Matéria de hoje do El País radiografa o mercado editorial no Irã, onde, à semelhança do que ocorre na maioria dos países muçulmanos, a religião é indissociável das estruturas políticas, sociais e econômicas.
Nas palavras de um editor que, é claro, não quis se identificar, com a chegada, em 2005, de Mahmoud Ahmadinejad ao poder, centenas de escritores, poetas, historiadores e pensadores foram censurados. A reportagem não deixa dúvidas: “Apesar de os porta-vozes oficiais demonstrarem que só no ano passado se publicaram 3.000 novos títulos, fontes do setor recordam que, nos dois primeiros anos da nova administração, 70% dos livros antes autorizados foram proibidos”.
São quase 200 mil títulos expostos na feira, mas a maioria é formada por obras religiosas e técnicas. Quanto à literatura, além dos autores nacionais censurados no todo ou parcialmente, as traduções de escritores estrangeiros passam por um processo de, digamos, depuração, adaptando os livros ao gosto dos censores, às vezes cortando parágrafos inteiros. O mesmo ocorre em relação aos clássicos da literatura persa. Um professor universitário afirma nunca comprar edições modernas desses livros, mas apenas as publicadas antes da revolução.
As informações do El País só confirmam o que Eli Barnavi relata em seu As religiões assassinas:
Em dez séculos, o mundo árabe-muçulmano traduziu menos obras estrangeiras do que a Espanha de hoje em um único ano! Censura política e religiosa, falta de curiosidade, desprezo pelo que se faz em outras partes do mundo, tudo se combina para transformar uma civilização no passado brilhante e dominante em um vasto gueto. [...] Hoje, praticamente já não se pode ensinar as ciências em árabe e os diplomas das universidades do mundo muçulmano não valem nem o papel em que estão impressos. [...] Em resumo, a experiência científica muçulmana consiste em uma idade do ouro do século IX até o século XIV, à qual se segue um longo eclipse; em um modesto renascimento no século XIX; por último, nos últimos decênios do século XX, em um fosso aparentemente infranqueável entre, de um lado, o Islã, e, de outro, ciência e modernidade.
Apesar da repugnância, quando vejo o Brasil defendendo países desse tipo junto à comunidade internacional, recordo-me de uma das falas do nosso governante máximo: “A liberdade individual está subordinada à liberdade coletiva. Na medida em que você cria parâmetros aceitos pela coletividade, o individualismo desaparece. Ou seja, não há razão para a defesa da liberdade individual”. – De repente, tudo se esclarece.
Nas palavras de um editor que, é claro, não quis se identificar, com a chegada, em 2005, de Mahmoud Ahmadinejad ao poder, centenas de escritores, poetas, historiadores e pensadores foram censurados. A reportagem não deixa dúvidas: “Apesar de os porta-vozes oficiais demonstrarem que só no ano passado se publicaram 3.000 novos títulos, fontes do setor recordam que, nos dois primeiros anos da nova administração, 70% dos livros antes autorizados foram proibidos”.
São quase 200 mil títulos expostos na feira, mas a maioria é formada por obras religiosas e técnicas. Quanto à literatura, além dos autores nacionais censurados no todo ou parcialmente, as traduções de escritores estrangeiros passam por um processo de, digamos, depuração, adaptando os livros ao gosto dos censores, às vezes cortando parágrafos inteiros. O mesmo ocorre em relação aos clássicos da literatura persa. Um professor universitário afirma nunca comprar edições modernas desses livros, mas apenas as publicadas antes da revolução.
As informações do El País só confirmam o que Eli Barnavi relata em seu As religiões assassinas:
Em dez séculos, o mundo árabe-muçulmano traduziu menos obras estrangeiras do que a Espanha de hoje em um único ano! Censura política e religiosa, falta de curiosidade, desprezo pelo que se faz em outras partes do mundo, tudo se combina para transformar uma civilização no passado brilhante e dominante em um vasto gueto. [...] Hoje, praticamente já não se pode ensinar as ciências em árabe e os diplomas das universidades do mundo muçulmano não valem nem o papel em que estão impressos. [...] Em resumo, a experiência científica muçulmana consiste em uma idade do ouro do século IX até o século XIV, à qual se segue um longo eclipse; em um modesto renascimento no século XIX; por último, nos últimos decênios do século XX, em um fosso aparentemente infranqueável entre, de um lado, o Islã, e, de outro, ciência e modernidade.
Apesar da repugnância, quando vejo o Brasil defendendo países desse tipo junto à comunidade internacional, recordo-me de uma das falas do nosso governante máximo: “A liberdade individual está subordinada à liberdade coletiva. Na medida em que você cria parâmetros aceitos pela coletividade, o individualismo desaparece. Ou seja, não há razão para a defesa da liberdade individual”. – De repente, tudo se esclarece.
maio 11, 2010
Para que servem os críticos literários – e por que não é bom matá-los
Encontrei esta edificante historinha no blog da Livraria Pó dos Livros, de Lisboa, e decidi compartilhar com vocês:
A importância de um bom crítico
No quarto de um célebre escritor, vivia um rato que não se alimentava de outra coisa senão dos textos que o famoso escritor produzia durante o dia. Este rato era a sua desgraça. Nem mesmo um gato vigilante conseguia chegar-lhe ao pêlo, nem as mais estranhas invenções, as mais variadas e engenhosas ratoeiras, conseguiam evitar a destruição de páginas inteiras de prosa, escrita no mais doce papel que o escritor se via obrigado a reescrever continuamente. Certo dia o escritor decide, em vez de escrever ficção, passar a escrever poesia, na esperança que o rato não gostasse do género. Entusiasmado, inspirado com tal ideia, escreve num só dia um livro inteiro. Cansado vai dormir. No dia seguinte, para seu espanto, jazia em cima de um dos seus poemas o rato.
– Finalmente morreste! – pensou o escritor – Que sorte a minha, apenas tiveste tempo de roer o meu primeiro verso.
Reza a história que desde aí nunca mais o escritor teve sucesso. Nem na prosa, muito menos na poesia.
Anos mais tarde, ao perguntarem-lhe qual teria sido a causa da sua desgraça enquanto escritor, terá respondido:
– Matei o meu melhor e mais exigente crítico, com apenas um mau poema.
Nota: esta história foi inspirada numa fábula da literatura espanhola.
Jaime Bulhosa
A importância de um bom crítico
No quarto de um célebre escritor, vivia um rato que não se alimentava de outra coisa senão dos textos que o famoso escritor produzia durante o dia. Este rato era a sua desgraça. Nem mesmo um gato vigilante conseguia chegar-lhe ao pêlo, nem as mais estranhas invenções, as mais variadas e engenhosas ratoeiras, conseguiam evitar a destruição de páginas inteiras de prosa, escrita no mais doce papel que o escritor se via obrigado a reescrever continuamente. Certo dia o escritor decide, em vez de escrever ficção, passar a escrever poesia, na esperança que o rato não gostasse do género. Entusiasmado, inspirado com tal ideia, escreve num só dia um livro inteiro. Cansado vai dormir. No dia seguinte, para seu espanto, jazia em cima de um dos seus poemas o rato.
– Finalmente morreste! – pensou o escritor – Que sorte a minha, apenas tiveste tempo de roer o meu primeiro verso.
Reza a história que desde aí nunca mais o escritor teve sucesso. Nem na prosa, muito menos na poesia.
Anos mais tarde, ao perguntarem-lhe qual teria sido a causa da sua desgraça enquanto escritor, terá respondido:
– Matei o meu melhor e mais exigente crítico, com apenas um mau poema.
Nota: esta história foi inspirada numa fábula da literatura espanhola.
Jaime Bulhosa
Marcadores:
Crítica literária,
Jaime Bulhosa
maio 05, 2010
O que parcela da crítica literária quer?
O que se esconde no substrato do texto prolixo e confuso de Flora Sussekind é uma determinada concepção de literatura – uma concepção excludente, preconceituosa e autoritária.
Concepção, aliás, defendida por significativa parcela da crítica literária brasileira contemporânea. Para esses críticos, ou a literatura se transforma num vanguardismo eterno – no qual a linguagem é elevada à condição de única protagonista da obra, o que gera livros sem enredo e sem personagens, narrativas nas quais enredo, personagens, fluxo de tempo, configuração do espaço etc. amontoam-se num verdadeiro caos –, ou abraça cegamente o dogma do politicamente correto – e cria obras em que as chamadas minorias sociais são sempre apresentadas como boas, justas, belas, corretas e bem-aventuradas. Ou, ainda, une as duas possibilidades e dá vida a narrativas que, além de incompreensíveis, são também demagógicas.
Para tais críticos, a obra literária que não se incluir em alguma dessas categorias já está classificada, de antemão, como mero exercício beletrista, ultrapassado e, portanto, condenado ao desprezo absoluto desses luminares.
Não importa que, ao seguir esses dogmas absurdos, a produção literária se distancie radicalmente do leitor, transformando-o em um ser incapacitado para decodificar o texto, condenando-o a ler sem entender, ou ler defrontando-se com dificuldades sobre dificuldades. O que importa para tais críticos é a mistificação de que a verdadeira obra de arte literária é, necessariamente, enigmática, difícil de ser compreendida. Ou seja, a leitura, para ser uma experiência realmente libertadora, deve se tornar, necessariamente, um exercício obscuro, aflitivo – uma nova forma de tortura.
Além de expulsar o leitor do sistema literário-cultural, essas concepções críticas reforçam um fenômeno exótico: o dos escritores que se bajulam mutuamente em suas seitas particulares, repetindo o que Antonio Candido já detectou nos primórdios da vida cultural brasileira: a situação artificial em que os próprios escritores são “ao mesmo tempo grupo criador, transmissor e receptor; grupo multifuncional de ressonância limitada e dúbia caracterização, onde a literatura acabava por abafar a si mesma, esterilizando-se por falta de um ponto de apoio”.
É óbvio, portanto, que esses mandarins pretendam assassinar duplamente Wilson Martins (como propõe Flora Sussekind). Isso não é nenhuma novidade, pois já assassinam, no nascedouro, qualquer narrativa que não siga os limites estreitos que eles pretendem impor à literatura nacional.
Concepção, aliás, defendida por significativa parcela da crítica literária brasileira contemporânea. Para esses críticos, ou a literatura se transforma num vanguardismo eterno – no qual a linguagem é elevada à condição de única protagonista da obra, o que gera livros sem enredo e sem personagens, narrativas nas quais enredo, personagens, fluxo de tempo, configuração do espaço etc. amontoam-se num verdadeiro caos –, ou abraça cegamente o dogma do politicamente correto – e cria obras em que as chamadas minorias sociais são sempre apresentadas como boas, justas, belas, corretas e bem-aventuradas. Ou, ainda, une as duas possibilidades e dá vida a narrativas que, além de incompreensíveis, são também demagógicas.
Para tais críticos, a obra literária que não se incluir em alguma dessas categorias já está classificada, de antemão, como mero exercício beletrista, ultrapassado e, portanto, condenado ao desprezo absoluto desses luminares.
Não importa que, ao seguir esses dogmas absurdos, a produção literária se distancie radicalmente do leitor, transformando-o em um ser incapacitado para decodificar o texto, condenando-o a ler sem entender, ou ler defrontando-se com dificuldades sobre dificuldades. O que importa para tais críticos é a mistificação de que a verdadeira obra de arte literária é, necessariamente, enigmática, difícil de ser compreendida. Ou seja, a leitura, para ser uma experiência realmente libertadora, deve se tornar, necessariamente, um exercício obscuro, aflitivo – uma nova forma de tortura.
Além de expulsar o leitor do sistema literário-cultural, essas concepções críticas reforçam um fenômeno exótico: o dos escritores que se bajulam mutuamente em suas seitas particulares, repetindo o que Antonio Candido já detectou nos primórdios da vida cultural brasileira: a situação artificial em que os próprios escritores são “ao mesmo tempo grupo criador, transmissor e receptor; grupo multifuncional de ressonância limitada e dúbia caracterização, onde a literatura acabava por abafar a si mesma, esterilizando-se por falta de um ponto de apoio”.
É óbvio, portanto, que esses mandarins pretendam assassinar duplamente Wilson Martins (como propõe Flora Sussekind). Isso não é nenhuma novidade, pois já assassinam, no nascedouro, qualquer narrativa que não siga os limites estreitos que eles pretendem impor à literatura nacional.
Marcadores:
Crítica literária,
Wilson Martins
maio 03, 2010
Em defesa de Wilson Martins
Transcrevo abaixo, com a autorização de Affonso Romano de Sant'Anna, o artigo que ele publicou hoje em seu blog, resposta sóbria, lúcida e destemida ao artigo de Flora Sussekind:
Crítica do necrológio e necrológio da crítica
Affonso Romano de Sant'Anna
1. Crítica do necrológio
Quando Wilson Martins morreu, várias pessoas escreveram lembrando sua obra. E algumas lamentaram sua morte. Mas Flora Sussekind lamenta que Wilson Martins tivesse vivido. Por isto, no no texto publicado n’O Globo (23.04.2010), afirma expressamente que talvez seja necessário “matar uma vez mais Wilson Martins”. Ou seja, além da morte física, ela se esforça por extirpar os textos de Wilson da literatura brasileira.
No texto de Flora, em que tantos leitores já acusaram estilística e retoricamente um pensamento tortuoso e mal formulado, é possível, com mais paciência, desentranhar vestígios de questões que poderiam ser mais claramente expostas. Ao que parece, ela pretende fazer uma análise da situação da crítica literária no país. E aí logo surge a questão: será que realiza o seu intento? Dentro deste propósito ela se detém não exatamente sobre a obra do crítico Wilson Martins, mas sobre o seu suposto necrológio feito especialmente por três críticos: Alcir Pécora, Miguel Sanchez Neto e Sérgio Rodrigues.
Vou tratar aqui da “maltratada” questão do “necrológio” e do mito do “herói solitário”, deixando para outra oportunidade outros equívocos da autora.
Aos ingênuos poderia parecer uma simples metáfora essa de “matar uma vez mais Wilson Martins”, pois o objetivo dela seria uma reflexão para se rever a crítica literária no país. Não é bem assim. “Matar” é tirar a vida, eliminar, apagar, limpar os vestígios. E a ensaísta está tão incomodada com o nome ou o fantasma de Wilson Martins rondando seu imaginário que investiu contra aqueles que escreveram sobre ele quando ele faleceu. Não basta ter ocultado, censurado o nome do crítico nos cursos de literatura quando ele era vivo, agora é necessário também censurar (quem sabe “matar”?) os que escrevem sobre ele.
Se algum estudante de linguística, de literatura ou psicolinguística aplicar a técnica da “análise de conteúdo” à diatribe que ela escreveu, vai notar que palavras como “ressentimento”, “agressivamente”, “virulência”, “truculência”, “exacerbado” pavimentam sintomaticamente o seu texto.
Isto consubstancia uma “pulsão de morte” sub specie crítica que no plano político e social aproxima-se de ideologias e regimes que incitam a matar, extirpar nomes e imagens de adversários como forma de apropriar-se da história.
Dito isto, tenho que me demorar ainda mais um pouco sobre a questão do necrológio, já que a autora do interessante ensaio “O sapateiro Silva” insiste em sapatear sobre a sepultura de Wilson Martins. Consideremos o sentido do necrológio tanto na sociedade primitiva quanto na civilizada. Diga-se logo, que ao negar aos outros que façam o necrológio afetivo ou intelectual de Wilson Martins, talvez Flora esteja escrevendo um epitáfio para si mesma enquanto crítica, além de promover uma desleitura do que significam os necrológios na antropologia e na sociologia.
A celebração, a evocação dos mortos não é uma aberração nem pode ser abolida pela pretensa racionalidade de alguém, pois são exigência do imaginário humano. As sociedades recorrem a esses rituais para elaborar sentimentos, remorsos, fantasias e até dialogar com a morte. Diz L. V. Thomas que “o homem é um animal que enterra seus mortos”. Acrescenta Françoise Charpentier que “nenhum grupo humano se desinteressa de seus cadáveres”. E Michel Ragon (“L'espace de la mort”) arrola umas 15 maneiras que as diversas culturas elaboraram de lidar com seus mortos: fazendo tumbas, incinerando, praticando o canibalismo, expondo-os às bestas ferozes, jogando ao mar, lançando ao fogo, colocando em urnas, árvores, nichos etc.
Na tragédia Antígona, Sófocles narra a patética estória da heroína procurando enterrar seu irmão Polinice, ao qual o rei Creonte negava o direito de sepultura. Antígona enfrenta o poder e enterra o irmão. Negar a sepultura e o ritual necrológio a Polinice foi o princípio crítico da decadência de Creonte, como advertiu o sábio Tirésias.
Só nos regimes e mentalidades autoritários destroem-se cemitérios, apaga-se a história, faz-se tabula rasa do passado. Os familiares dos mortos na última ditadura que tivemos (e eu vivi este período) ainda clamam pelo direito de enterrar seus “desaparecidos”. De resto, neste caso, é bom lembrar aquele imperador chinês, que mandou não só matar todos os sábios da corte, mas queimar seus livros, e decretou que a história começasse com ele mesmo.
Por sua vez, a cultura barroca, refazendo os costumes arcaicos, elaborou uma oratória, um “elogio fúnebre” que era um gênero literário dos mais considerados e com uma função social específica. Phillippe Ariès nota que uma das características da sociedade industrial “contemporânea” (e Flora se quer “contemporânea”), é perverter, disfarçar e até interditar o sentimento de morte. No entanto, mesmo modernamente, o “necrológio”, sobre ser um fato socioantropológico, é também um gênero jornalístico e literário cultivado com singularidade pelo The Times e The New York Times, que têm redatores especializados no assunto.
Lembro essas coisas, mas me dou conta que o incômodo que a figura de Wilson Martins provoca em Flora é de tal ordem, que ela está execrando até mesmo os necrológios feitos sobre cadáver recente.
Talvez se devesse lhe dizer: Flora, você não tem que levar flores à tumba de Wilson Martins. Mas também não tem que dar chutes nem tentar destruir sua lápide.
2. O mito do herói solitário
No processo de decomposição da imagem de Wilson Martins, Flora Sussekind refere-se, por duas vezes, ao fato que alguns o consideram um “herói solitário”. Ela ironiza essa expressão ou idéia que estaria expressa ou subentendida nos textos escritos sobre ele.
Aqui a questão torna-se constrangedora e pode-se supor que ela desconhece não só a obra como a própria vida desse anti-herói. É querer ignorar que ele abriu mão de agremiações literárias, abriu mão de grupelhos e de partidos e centrou-se desde sempre no seu fazer crítico. É não saber que por ter as opiniões críticas que tinha, foi despedido de vários jornais. E no último jornal em que trabalhou, ou não recebia pagamento ou tinha que se esforçar para tal. É querer negar o que há de solitário e heróico em realizar, sozinho, uma obra complexa como História da Inteligência Brasileira, em 7 volumes. É querer invalidar além dos 2 volumes de A crítica literária no Brasil, os 17 volumes de críticas jornalísticas. É querer negar que ele é o único historiador e crítico que fez uma leitura abrangente de nossa cultura de 1500 até 2010. Ninguém fez isto entre nós. E noutras literaturas não sei de nada semelhante. Durante sua trajetória, alguns críticos evidentemente surgiram, mas trabalharam apenas alguns anos e pararam ou foram desestimulados. Ele persistiu desde 1942 até 2010, portanto, quase 70 anos. E é isto que a autora de “Até segunda ordem não risquem nada”, com meia dúzia de argumentos mal alinhavados, quer jogar no lixo.
Alguém pode até dizer malevolamente: melhor se Wilson Martins tivesse lido menos e pensado mais. Como tirada tem lá sua graça momentânea, mas não se ajusta a ele. Quem pretende ser crítico e historiador tem mesmo que ler “tudo” e não pode resumir-se a elogiar seus confrades e a operar pela exclusão (coisa que é muito familiar à autora de “Papéis colados”). E Wilson Martins, crítico semanal, estava na “linha de fogo” opinando sobre obras ainda não canonizadas. Como escrevi em outra ocasião, ao longo de cinco décadas de atividade crítica ele pode ter feito um inimigo por semana, ou seja, uns 2.600 ao longo de 50 anos. E certamente Flora é um deles, pois Wilson Martins mostrou o que ele chama de “falácias” de seu livro “O Brasil não é longe daqui”.
Lembremos, por outro lado, que essa obra extensiva e intensiva que Wilson Martins produziu, ele a elaborou não com uma equipe, mas individualmente, só, solitariamente, num tempo em que não havia Google ou internet. E mais, a executou apesar das suas deficiências físicas, movendo-se com dificuldade para chegar aos locais de trabalho e fazer suas pesquisas. Por isto, embora eu possa discordar dele quanto à leitura ou o julgamento de um autor ou outro, ou de uma idéia ou outra, diria que ele com sua deficiência física é mais imprescindível à cultura brasileira que outros com sua deficiência intelectual.
Uma das coisas mais irônicas, paradoxais, senão patéticas, que se pode constatar no texto de Flora é que ela, em alguns aspectos, está defendendo as mesmas teses de Wilson Martins, sem o saber. Em 1996, numa entrevista dada a José Castelo, o crítico já assinalava a “morte da crítica literária no Brasil”. Dizia, com a autoridade que tinha, que “nos jornais propagou-se com rapidez a idéia de que a crítica literária não tem mais importância”. Portanto, Flora está atrasadíssima no seu diagnóstico.
Garcia Marquez tem o conhecido romance, Crônica de uma morte anunciada, e vários autores têm livros onde falam da segunda morte de seus personagens. Isto me ocorre enquanto analiso o que está sucedendo nessa tentativa de novo assassinato de Wilson Martins. Na verdade, a “morte” de Wilson Martins já havia sido anunciada há muito. Ele mesmo se encarregou de divulgar isto, quando, naquela entrevista em 1996, disse que a morte da crítica literária estava em curso com as mudanças ocorridas na imprensa e na vida social. Neste sentido, o texto de Flora está atrasado 14 anos em relação ao de Wilson ao vir falar agora sobre “a perda de lugar social da crítica”. E mais: torna-se repetitivo. Quando Wilson assinalava, com tristeza e ironia, que a crítica literária estava sendo assassinada, havia um toque autobiográfico nisto, porque ele era crítico e estava, portanto, falando de seu próprio extermínio social. E essa que seria simbolicamente a morte de um gênero literário tornou-se algo mais concreto e físico quando o próprio Wilson foi demitido do jornal que, agora, sem crítico de literatura, alardeia o artigo de Flora sobre a morte da crítica literária.
Portanto, com a proposta de novo assassinato de Wilson Martins e diante desse desejo de “matar uma vez mais” o crítico, estamos diante de uma terceira morte. Mas como nas regras onde o mais é menos e o menos é mais, está ocorrendo um renascimento da obra do crítico, as pessoas estão procurando os seus volumes para entender a razão de tanto desejo de morte em relação a ele. A virulência desejada sobre seu nome está provocando interesse em torno de sua obra, para o tormento dos que querem autoritariamente controlar a vida e o sistema literário.
Crítica do necrológio e necrológio da crítica
Affonso Romano de Sant'Anna
1. Crítica do necrológio
Quando Wilson Martins morreu, várias pessoas escreveram lembrando sua obra. E algumas lamentaram sua morte. Mas Flora Sussekind lamenta que Wilson Martins tivesse vivido. Por isto, no no texto publicado n’O Globo (23.04.2010), afirma expressamente que talvez seja necessário “matar uma vez mais Wilson Martins”. Ou seja, além da morte física, ela se esforça por extirpar os textos de Wilson da literatura brasileira.
No texto de Flora, em que tantos leitores já acusaram estilística e retoricamente um pensamento tortuoso e mal formulado, é possível, com mais paciência, desentranhar vestígios de questões que poderiam ser mais claramente expostas. Ao que parece, ela pretende fazer uma análise da situação da crítica literária no país. E aí logo surge a questão: será que realiza o seu intento? Dentro deste propósito ela se detém não exatamente sobre a obra do crítico Wilson Martins, mas sobre o seu suposto necrológio feito especialmente por três críticos: Alcir Pécora, Miguel Sanchez Neto e Sérgio Rodrigues.
Vou tratar aqui da “maltratada” questão do “necrológio” e do mito do “herói solitário”, deixando para outra oportunidade outros equívocos da autora.
Aos ingênuos poderia parecer uma simples metáfora essa de “matar uma vez mais Wilson Martins”, pois o objetivo dela seria uma reflexão para se rever a crítica literária no país. Não é bem assim. “Matar” é tirar a vida, eliminar, apagar, limpar os vestígios. E a ensaísta está tão incomodada com o nome ou o fantasma de Wilson Martins rondando seu imaginário que investiu contra aqueles que escreveram sobre ele quando ele faleceu. Não basta ter ocultado, censurado o nome do crítico nos cursos de literatura quando ele era vivo, agora é necessário também censurar (quem sabe “matar”?) os que escrevem sobre ele.
Se algum estudante de linguística, de literatura ou psicolinguística aplicar a técnica da “análise de conteúdo” à diatribe que ela escreveu, vai notar que palavras como “ressentimento”, “agressivamente”, “virulência”, “truculência”, “exacerbado” pavimentam sintomaticamente o seu texto.
Isto consubstancia uma “pulsão de morte” sub specie crítica que no plano político e social aproxima-se de ideologias e regimes que incitam a matar, extirpar nomes e imagens de adversários como forma de apropriar-se da história.
Dito isto, tenho que me demorar ainda mais um pouco sobre a questão do necrológio, já que a autora do interessante ensaio “O sapateiro Silva” insiste em sapatear sobre a sepultura de Wilson Martins. Consideremos o sentido do necrológio tanto na sociedade primitiva quanto na civilizada. Diga-se logo, que ao negar aos outros que façam o necrológio afetivo ou intelectual de Wilson Martins, talvez Flora esteja escrevendo um epitáfio para si mesma enquanto crítica, além de promover uma desleitura do que significam os necrológios na antropologia e na sociologia.
A celebração, a evocação dos mortos não é uma aberração nem pode ser abolida pela pretensa racionalidade de alguém, pois são exigência do imaginário humano. As sociedades recorrem a esses rituais para elaborar sentimentos, remorsos, fantasias e até dialogar com a morte. Diz L. V. Thomas que “o homem é um animal que enterra seus mortos”. Acrescenta Françoise Charpentier que “nenhum grupo humano se desinteressa de seus cadáveres”. E Michel Ragon (“L'espace de la mort”) arrola umas 15 maneiras que as diversas culturas elaboraram de lidar com seus mortos: fazendo tumbas, incinerando, praticando o canibalismo, expondo-os às bestas ferozes, jogando ao mar, lançando ao fogo, colocando em urnas, árvores, nichos etc.
Na tragédia Antígona, Sófocles narra a patética estória da heroína procurando enterrar seu irmão Polinice, ao qual o rei Creonte negava o direito de sepultura. Antígona enfrenta o poder e enterra o irmão. Negar a sepultura e o ritual necrológio a Polinice foi o princípio crítico da decadência de Creonte, como advertiu o sábio Tirésias.
Só nos regimes e mentalidades autoritários destroem-se cemitérios, apaga-se a história, faz-se tabula rasa do passado. Os familiares dos mortos na última ditadura que tivemos (e eu vivi este período) ainda clamam pelo direito de enterrar seus “desaparecidos”. De resto, neste caso, é bom lembrar aquele imperador chinês, que mandou não só matar todos os sábios da corte, mas queimar seus livros, e decretou que a história começasse com ele mesmo.
Por sua vez, a cultura barroca, refazendo os costumes arcaicos, elaborou uma oratória, um “elogio fúnebre” que era um gênero literário dos mais considerados e com uma função social específica. Phillippe Ariès nota que uma das características da sociedade industrial “contemporânea” (e Flora se quer “contemporânea”), é perverter, disfarçar e até interditar o sentimento de morte. No entanto, mesmo modernamente, o “necrológio”, sobre ser um fato socioantropológico, é também um gênero jornalístico e literário cultivado com singularidade pelo The Times e The New York Times, que têm redatores especializados no assunto.
Lembro essas coisas, mas me dou conta que o incômodo que a figura de Wilson Martins provoca em Flora é de tal ordem, que ela está execrando até mesmo os necrológios feitos sobre cadáver recente.
Talvez se devesse lhe dizer: Flora, você não tem que levar flores à tumba de Wilson Martins. Mas também não tem que dar chutes nem tentar destruir sua lápide.
2. O mito do herói solitário
No processo de decomposição da imagem de Wilson Martins, Flora Sussekind refere-se, por duas vezes, ao fato que alguns o consideram um “herói solitário”. Ela ironiza essa expressão ou idéia que estaria expressa ou subentendida nos textos escritos sobre ele.
Aqui a questão torna-se constrangedora e pode-se supor que ela desconhece não só a obra como a própria vida desse anti-herói. É querer ignorar que ele abriu mão de agremiações literárias, abriu mão de grupelhos e de partidos e centrou-se desde sempre no seu fazer crítico. É não saber que por ter as opiniões críticas que tinha, foi despedido de vários jornais. E no último jornal em que trabalhou, ou não recebia pagamento ou tinha que se esforçar para tal. É querer negar o que há de solitário e heróico em realizar, sozinho, uma obra complexa como História da Inteligência Brasileira, em 7 volumes. É querer invalidar além dos 2 volumes de A crítica literária no Brasil, os 17 volumes de críticas jornalísticas. É querer negar que ele é o único historiador e crítico que fez uma leitura abrangente de nossa cultura de 1500 até 2010. Ninguém fez isto entre nós. E noutras literaturas não sei de nada semelhante. Durante sua trajetória, alguns críticos evidentemente surgiram, mas trabalharam apenas alguns anos e pararam ou foram desestimulados. Ele persistiu desde 1942 até 2010, portanto, quase 70 anos. E é isto que a autora de “Até segunda ordem não risquem nada”, com meia dúzia de argumentos mal alinhavados, quer jogar no lixo.
Alguém pode até dizer malevolamente: melhor se Wilson Martins tivesse lido menos e pensado mais. Como tirada tem lá sua graça momentânea, mas não se ajusta a ele. Quem pretende ser crítico e historiador tem mesmo que ler “tudo” e não pode resumir-se a elogiar seus confrades e a operar pela exclusão (coisa que é muito familiar à autora de “Papéis colados”). E Wilson Martins, crítico semanal, estava na “linha de fogo” opinando sobre obras ainda não canonizadas. Como escrevi em outra ocasião, ao longo de cinco décadas de atividade crítica ele pode ter feito um inimigo por semana, ou seja, uns 2.600 ao longo de 50 anos. E certamente Flora é um deles, pois Wilson Martins mostrou o que ele chama de “falácias” de seu livro “O Brasil não é longe daqui”.
Lembremos, por outro lado, que essa obra extensiva e intensiva que Wilson Martins produziu, ele a elaborou não com uma equipe, mas individualmente, só, solitariamente, num tempo em que não havia Google ou internet. E mais, a executou apesar das suas deficiências físicas, movendo-se com dificuldade para chegar aos locais de trabalho e fazer suas pesquisas. Por isto, embora eu possa discordar dele quanto à leitura ou o julgamento de um autor ou outro, ou de uma idéia ou outra, diria que ele com sua deficiência física é mais imprescindível à cultura brasileira que outros com sua deficiência intelectual.
Uma das coisas mais irônicas, paradoxais, senão patéticas, que se pode constatar no texto de Flora é que ela, em alguns aspectos, está defendendo as mesmas teses de Wilson Martins, sem o saber. Em 1996, numa entrevista dada a José Castelo, o crítico já assinalava a “morte da crítica literária no Brasil”. Dizia, com a autoridade que tinha, que “nos jornais propagou-se com rapidez a idéia de que a crítica literária não tem mais importância”. Portanto, Flora está atrasadíssima no seu diagnóstico.
Garcia Marquez tem o conhecido romance, Crônica de uma morte anunciada, e vários autores têm livros onde falam da segunda morte de seus personagens. Isto me ocorre enquanto analiso o que está sucedendo nessa tentativa de novo assassinato de Wilson Martins. Na verdade, a “morte” de Wilson Martins já havia sido anunciada há muito. Ele mesmo se encarregou de divulgar isto, quando, naquela entrevista em 1996, disse que a morte da crítica literária estava em curso com as mudanças ocorridas na imprensa e na vida social. Neste sentido, o texto de Flora está atrasado 14 anos em relação ao de Wilson ao vir falar agora sobre “a perda de lugar social da crítica”. E mais: torna-se repetitivo. Quando Wilson assinalava, com tristeza e ironia, que a crítica literária estava sendo assassinada, havia um toque autobiográfico nisto, porque ele era crítico e estava, portanto, falando de seu próprio extermínio social. E essa que seria simbolicamente a morte de um gênero literário tornou-se algo mais concreto e físico quando o próprio Wilson foi demitido do jornal que, agora, sem crítico de literatura, alardeia o artigo de Flora sobre a morte da crítica literária.
Portanto, com a proposta de novo assassinato de Wilson Martins e diante desse desejo de “matar uma vez mais” o crítico, estamos diante de uma terceira morte. Mas como nas regras onde o mais é menos e o menos é mais, está ocorrendo um renascimento da obra do crítico, as pessoas estão procurando os seus volumes para entender a razão de tanto desejo de morte em relação a ele. A virulência desejada sobre seu nome está provocando interesse em torno de sua obra, para o tormento dos que querem autoritariamente controlar a vida e o sistema literário.
Marcadores:
Affonso Romano Sant'anna,
Wilson Martins
maio 02, 2010
“Poderoso esforço de síntese e de notável erudição”
O historiador Gunter Axt também acompanha os debates em torno do texto de Flora Sussekind – e conclui: “História da Inteligência Brasileira [de Wilson Martins] é resultado de um poderoso esforço de síntese e de notável erudição. Não é e nem precisa ser a interpretação última e mais acabada da cultura e da literatura brasileiras. É mais uma. E, em minha modesta opinião, muito útil, para todo aquele que deseja alcançar uma aproximação razoável ao Brasil”.
Vale a pena ler outros intelectuais que se manifestaram, parcial ou totalmente, contra o texto da ensaísta:
Affonso Romano de Sant'anna
Deonísio da Silva
Luís Antônio Giron
Sérgio Rodrigues
Vale a pena ler outros intelectuais que se manifestaram, parcial ou totalmente, contra o texto da ensaísta:
Affonso Romano de Sant'anna
Deonísio da Silva
Luís Antônio Giron
Sérgio Rodrigues
maio 01, 2010
Diplomacia contra a truculência
Hoje foi a vez de Sérgio Rodrigues responder à metralhada de Flora Sussekind. Para o meu gosto pessoal, usou de muita cordialidade. Nem sempre a diplomacia é a melhor resposta à truculência. Mas, enfim, sempre me esqueço, este é um país cordial. Sérgio não deixa de apontar, com acerto, ao menos dois graves problemas de parcela da crítica literária contemporânea: a “rendição incondicional à antropologia”, enaltecendo os escritores que se preocupam apenas em ser porta-vozes dos “despossuídos literários: mulheres, negros, gays, favelados”, e o endeusamento da “transgressão”, do “escrever mal”. É uma pena que, ao fazê-lo, tenha se sentido obrigado a diminuir o valor de Wilson Martins, que, em sua opinião, “se ao morrer andou sendo saudado por aí como um gigante, em evidente exagero, isso parece se dever menos à sua estatura do que ao cenário liliputiano construído ao seu redor” – afirmação com a qual não posso, de forma alguma, concordar.
No entanto, temos de saudar o fato de o violento artigo da mandarina ter sido contestado por alguns no transcorrer da última semana: além de Sérgio Rodrigues, Affonso Romano de Sant'anna, Deonísio da Silva e Luís Antônio Giron.
No entanto, temos de saudar o fato de o violento artigo da mandarina ter sido contestado por alguns no transcorrer da última semana: além de Sérgio Rodrigues, Affonso Romano de Sant'anna, Deonísio da Silva e Luís Antônio Giron.
Assinar:
Postagens (Atom)