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Não seja passivo(a) em relação à escrita. Não espere a fada-madrinha dos escritores entrar pela janela |
Você quer ser escritor — mas não sabe como começar.
Sentado na frente da folha
em branco ou da tela do computador, as idéias não chegam.
Fiz esta lista de 11 dicas pensando em você — numa forma de diminuir sua angústia e mostrar que você pode, sim, se tornar um escritor.
Leia com atenção cada item.
Depois, coragem: comece a escrever!
1.
Acredite no poder das sinapses. Os neurônios conversam entre si, criam conexões
inusitadas a cada milésimo de segundo. Mas precisam ser estimulados.
Não, você
não precisa se submeter a um tratamento de eletrochoques, mas deve estar aberto
à realidade.
Certa música, certa obra de arte, uma situação, uma frase solta
que você escuta no ônibus ou no balcão da padaria: tudo pode desencadear a
imaginação. Todos nós temos gatilhos emocionais que liberam ondas de fantasia.
Não despreze nenhum deles — inclusive os que parecem infantis ou óbvios.
Lembre-se do exemplo sináptico de Victor Hugo, que já se tornou clássico: no
prefácio de O Corcunda de Notre-Dame,
o escritor conta que o livro nasceu quando ele encontrou, ao explorar a
Catedral de Notre-Dame de Paris, a palavra “fatalidade” gravada à mão numa
parede. A forte impressão causada por essa descoberta fez com que começasse a
imaginar a história.
2.
Todo escritor é, antes de tudo, bom observador. Mas não se trata apenas de
espreitar. É preciso dialogar, em silêncio, com os fatos, com as pessoas.
Coloque-se na pele delas e tente compreender suas reações. Depois, imagine como
você reagiria. E imagine como um escritor descreveria você. Esse exercício
constante — analisar o real e você mesmo — aperfeiçoará seu poder de
observação.
3.
Abandone a idéia de que a vida é simples e de que tudo é evidente. Nada é
simples. Por trás de cada gesto feito de maneira impensada há centenas de
influências, escolhas, certezas, temores, dúvidas, interesses, desejos.
4.
Anote tudo. Sempre. Não se preocupe se, no fim do dia, as anotações parecem
incoerentes, sem nexo. Guarde-as em algum lugar. No final de trinta, quarenta
dias, coloque-as sobre a escrivaninha: você descobrirá semelhanças — ou uma
tendência. Por que não segui-la?
5.
Leia. Leia muito. E não tenha receio, inclusive, de se inspirar no que lê. Eu
disse “inspirar”, não “copiar”.
6.
Não tenha medo de contar histórias. Não tenha medo, inclusive, do que pensarão
sobre suas histórias. Comece com tramas simples e poucos personagens. Pode ser
um único personagem. Mas evite cair na tentação do discurso em primeira pessoa,
pois ele tem uma aparência de facilidade completamente enganosa.
7.
Repito: apenas conte uma história. Deixe as invencionices vanguardistas e os
malabarismos lingüísticos para mais tarde, quando estiver seguro(a) do que é
capaz. Lembre-se: Ulysses não foi o
primeiro livro de James Joyce.
8.
Tenha um plano, ele ajudará você. Mas sinta-se livre para mudá-lo. Nenhum
escritor sabe, com todos os detalhes, o começo, o meio e o fim da sua história.
O som e a fúria, de William Faulkner,
começou, segundo o próprio escritor, “com uma simples imagem mental: os
fundilhos enlameados da calcinha de uma menina pequena trepada numa pereira, de
onde podia ver, por uma janela, o local onde se realizava o funeral de sua avó
e descrever o que estava acontecendo aos seus irmãos, no chão, embaixo”.
Depois, Faulkner tentou contar a história que nasceu dessa imagem utilizando
quatro narradores diferentes — e, ainda insatisfeito, adicionou um apêndice 15
anos depois de o livro ter sido publicado.
9.
Ao escrever, não se preocupe em seguir a ordem lógica — ou cronológica — do seu
enredo. Você tem poder absoluto sobre sua criação: pode matá-la e, sete meses
depois, contar seu nascimento.
11. Voltando ao primeiro ponto, não despreze a realidade.
Mas
lembre-se do que Henry James escreveu: “A experiência nunca é limitada e nunca
é completa; ela é uma imensa sensibilidade, uma espécie de vasta teia de
aranha, da mais fina seda, suspensa no quarto de nossa consciência, apanhando
qualquer partícula do ar no seu tecido. É a própria atmosfera da mente; e
quando a mente é imaginativa — muito mais quando acontece de ela ser a mente de
um gênio — ela leva para si mesma os mais tênues vestígios de vida, ela
converte as próprias pulsações do ar em revelações”.
— Este é o começo. Confie em você e vá em frente. Há milhares de leitores esperando por um bom escritor — alguém disposto a contar boas histórias.