O que move o bom escritor é apenas o desejo de contar sua história da melhor forma possível |
Em Os Testamentos Traídos, Milan Kundera
conta a história do seu professor de música, um judeu perseguido pelos nazistas
que, antes de partir para o Campo de Concentração de Terezin, é obrigado a
mudar de uma residência a outra, sempre levando consigo seu pequeno piano.
Esse professor,
certo dia, no final da aula, diz ao menino: “Há muitos trechos
surpreendentemente fracos em Beethoven. Mas são os trechos fracos que dão
destaque aos trechos fortes. É como um campo sem o qual a bela árvore que nele
cresce não nos daria prazer”.
Ora, não é assim
com as obras literárias? Não é assim com o conjunto da obra de um escritor?
Quando alguém
começa a escrever, sonha em criar obras indispensáveis, perfeitas e inovadoras em seus
mínimos detalhes — mas essa preocupação muitas vezes inibe sua criatividade e
estraga o que poderia ser espontâneo.
O bom escritor, ao
contrário, sabe que é impossível ser genial o tempo inteiro. Sabe também que a
chamada originalidade é uma quimera.
Aliás, o que move o bom escritor é apenas o
desejo de contar sua história da melhor forma possível. Assim ele planta seu
campo, de forma espontânea — e ali podem surgir algumas árvores raras.
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