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"Minhas dúvidas formam um círculo em torno de cada palavra." — Franz Kafka |
O trabalho diário
com as palavras não é fácil. Em abril de 1852, enquanto compõe Madame Bovary,
Flaubert escreve a Louise Colet: “Estou mais cansado do que se empurrasse
montanhas. Há momentos em que tenho vontade de chorar. É preciso uma vontade
sobre-humana para escrever e eu sou apenas um homem”.
Esse tormento
renasce, maior ou menor, no coração de cada escritor. Kafka anota, em novembro
de 1910: “Quando sento-me diante da escrivaninha, meus ânimos não são melhores
do que os do indivíduo que cai no meio da ‘Place de l’Opéra’ e quebra as duas
pernas”.
Mas por que Kafka
insistiu, ainda que escutasse “as consoantes se chocando com ruído metálico”?
“Minhas dúvidas formam um círculo em torno de cada palavra; vejo-as antes que a
palavra […]”, ele afirma e prossegue, cheio de incertezas. Sentindo-se “estéril
como uma pedra”, Flaubert também foi adiante. E hoje, quando lemos o resultado
dessas angústias, perguntamos qual o motivo de terem feito o que não é
prazeroso.
Para um tempo como o nosso, em que o hedonismo
quase sempre dita as escolhas, é difícil compreender. Mas o escritor sabe a
resposta. Sabe que o prazer é o que menos importa na felicidade — como lembra
Ortega y Gasset em seu ensaio “Sobre la caza” —, porque a felicidade consiste
sempre “numa atuação, numa energia e num esforço”.
2 comentários:
Hemingway tem uma visão parecida, voltada ao esforço, e a felicidade nasce desse prazer.
"Você começa às seis da manhã, digamos, e pode continuar até o meio-dia ou seguir após isso. Quando você termina, está tão esgotado e ao mesmo tempo tão carregado, que é como se estivesse feito amor com alguém que você ama. Nada pode machucá-lo, nada pode acontecer, nada importa até o próximo dia quando você faz isso de novo. A espera até o próximo dia que é a parte difícil.” Hemingway
Grande Hemingway!
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