junho 25, 2013

Novo curso: A Descoberta do Ensaio

Neste novo curso, que começa em agosto, estudaremos o ensaio, gênero literário maleável, que oferece incrível liberdade de trabalho.

Nosso método de estudo consistirá na leitura crítica de 13 ensaístas, com o objetivo de conhecer procedimentos estilísticos diversos e reunir elementos que contribuam à formação do estilo pessoal de cada aluno. Serão, ao todo, 14 aulas.

Ao final do curso, proporei um exercício de redação – e comentarei, por escrito, os trabalhos apresentados. O Cedet fornecerá um certificado de participação para quem cumprir essa atividade.

As inscrições estão abertas – e podem ser feitas por telefone (19-3249-80) ou por e-mail: livros@cedet.com.br.

Vejam a ementa:

1ª aula: O ensaio, forma que se recusa a ser exaustiva.
2ª aula: Nascimento do ensaio moderno – Michel de Montaigne.
3ª aula: A busca da totalidade – Santa Teresa D’Ávila.
4ª aula: Temas ou pretextos para um ensaio – Charles Lamb.
5ª aula: Reflexões sobre a formação do próprio “eu” – Edmund Wilson.
6ª aula: A crítica literária muito além da obra analisada – Erich Auerbach.
7ª aula: Reflexões sobre a própria obra – Henry James.
8ª aula: Quando a oratória não é apenas retórica – Jorge Luis Borges.
9ª aula: Crítica social: desnudando as circunstâncias – Olavo de Carvalho.
10ª aula: O impacto do encontro – Isaiah Berlin.
11ª aula: Ensaio e jornalismo – Joseph Roth.
12ª aula: A prosa poética como locus amoenus – Claudio Magris.
13ª aula: A recusa da irreflexão: desconfiar das ideologias – Russell Kirk.
14ª aula: Reler os clássicos – T. S. Eliot.

Os textos a serem estudados em cada aula permanecerão disponíveis, com antecedência, na página do Cedet, na qual se encontram também informações sobre preço, formas de pagamento e inscrições.
 
Os cursos anteriores – “Bases da Criação Literária” e “Prática de Leitura e Formação do Estilo” – ainda podem ser feitos por quem se interessar, pois as aulas foram gravadas.

junho 22, 2013

Reflexões sobre a sinceridade (fragmentos de um diário)

Neste final de sábado, depois de muito trabalho, leio Roberto Alvim Corrêa. Editor – na França, publicou Mauriac, Maritain e muitos outros; no Brasil, atuou como um dos coordenadores, na Editora Agir, da famosa Coleção Nossos Clássicos –, além de ensaísta e crítico literário (vale a pena conhecer Anteu e a crítica, de 1948, e O mito de Prometeu, lançado em 1951), foi homenageado na Revista Tempo Brasileiro, nº 55, de 1978, da qual retirei estes excertos do seu Diário, comoventes exercícios de sinceridade:

Já me aconteceu acreditar ser sincero, e, mais tarde verificar o ter sido muito menos do que pensava.

“Procuro agir de acordo com meus pensamentos”. Ótimo. Mas se meus pensamentos não empenham aquele que sou? Além do mais carrego em mim tendências contrárias. Quando, portanto, sou sincero? Nas horas de orgulho ou de humildade, de covardia ou de intrepidez, de desespero ou euforia, de dúvida ou fé, de conformismo ou revolta, de fraqueza ou força? Pode-se falar em sinceridades sucessivas?

A sinceridade, essa desconhecida.

Apesar do seu nome incomparável, Lúcifer perdeu o desejo da luz. E sem esse desejo, como ser sincero?

Essa frase de Mauriac, segundo os dias me abala ou me conforta: “Na origem de um santo há, não raro, um vício jugulado”.

Em paz comigo mesmo, eu me incomodaria menos com sinceridade. No Paraíso, a gente deve ser sincera como se respira.

Sinceros só os santos, que vivem para amar integralmente.

Desde que me conheço, para ser aquele que precisava ser, eu te procurei, ó sinceridade, minha frágil mas indispensável companheira, embora em teu nome eu tenha (involuntariamente, claro) praticados muitos erros e injustiças, enunciado coisas inverídicas. Tantas sinceridades demasiadamente relativas, duvidosas, inglórias nos prejudicaram, a ti e a mim, fizeram com que te escondesses, e eu não conseguisse mais te identificar.
 
Nem sempre me reconheço nestas páginas, mas erradamente. É com aquilo que escrevemos sem o saber que nos parecemos.

junho 20, 2013

A descoberta da literatura

Ainda tenho viva na lembrança a primeira vez que li Tchekhov. Não recordo para onde eu viajava, mas comprei o livrinho na velha rodoviária de São Paulo, com seu teto de acrílico multicolorido, ao lado da Estação Júlio Prestes. “Treze estórias maravilhosas criadas por um dos maiores gênios da literatura”, prometia a capa. Sentado no ônibus, minutos depois, saquei do bolso a brochura de papel miserável – e teve início a alegria, o contentamento que jamais experimentara com nenhum autor brasileiro. Como era possível ser simples e, ao mesmo tempo, grandioso? Como era possível escrever sem artificialidade e, principalmente, sem o cinismo machadiano? Havia tristeza, sim, mas não o amargor do ceticismo. Havia lirismo, sim, mas não a pieguice dos nossos românticos. Tive certeza – não racional, mas violenta intuição – de que estava diante da literatura.

Para comemorar esse dia tão distante, coloco a seguir o conto que abre o volume. Espero que vocês gostem.




junho 18, 2013

No mercado editorial, os medíocres financiam os bons

Michael Krüger, editor da Carl Hanser Verlag, mostra-se mal informado nesta entrevista a Publishing Perspectives. Rápida pesquisa pela Web apresenta edições norte-americanas de Robert Walser da década de 1980, por exemplo... Seria estranho que o maior mercado editorial do mundo, que só perde para o de língua hispânica, ainda não tivesse traduzido Walser.

Os comentários de Krüger também chovem no molhado. Dizer que “a vida é muito curta para se perder tempo com livros ruins” é um lugar-comum – se não para todos, ao menos para a minoria que preza a própria inteligência.

Qual a novidade em afirmar que as pessoas leem livros de segunda categoria, os críticos elogiam obras de terceira e as livrarias estão abarrotadas de subliteratura? Sempre foi assim – e continuará sendo, cada vez mais, principalmente agora, com os sistemas de autopublicação digital.

Sim, “os livros horríveis são mais estimados que os bons” e os editores realmente não gostam de ler a maior parte das obras que publicam. É a lei do mercado. Os medíocres financiam os bons – e garantem a permanência e o desenvolvimento do sistema literário.
 
Um editor experiente não pode se surpreender com o fato de as pessoas amarem os livros ruins. Na verdade, graças a eles, aquele mínimo de boa literatura, no qual encontram-se os clássicos, continua sendo publicado. Nosso agradecimento pela nova tradução de Cervantes ou Platão vai, portanto, para centenas de títulos médios. Aliás, se as editoras publicassem apenas o que é ótimo, ainda estaríamos imprimindo livros com os tipos móveis de Gutenberg.

junho 17, 2013

Olavo de Carvalho: quando a verdade substitui a opinião

Na edição de hoje do Jornal de Londrina e da Gazeta do Povo, o cronista Paulo Briguet escreve sobre o filósofo Olavo de Carvalho e relata um pouco do que foi o nosso encontro em Richmond (EUA), entre  3 e 7 de junho deste ano (logo, logo as gravações das quatro tertúlias estarão disponíveis na Web). O depoimento de Briguet resgata muito do que todos nós experimentamos – nós, que tivemos a lucidez de, na década de 1990, depois de ler O imbecil coletivo, começar o longo processo de amadurecimento e de libertação da mentira esquerdista; ou, como bem sintetiza Briguet, citando Gustavo Corção, substituir a atividade pela contemplação, o apetite pelo juízo, a opinião pela verdade. Bravo, meu caro Briguet!

junho 15, 2013

Técnica de escrever, experimentos e vaidade

O romancista Evelyn Waugh fala, na entrevista a Paris Review, o que muitos pensam em relação a James Joyce, mas poucos têm coragem de verbalizar:

junho 14, 2013

Cultura pretensiosa e inútil

“A vida inculta é barbárie, mas a cultura desvitalizada, isto é, desligada da vida, é bizantinismo.” – Ernst Robert Curtius, no ensaio dedicado a Ortega y Gasset

junho 11, 2013

Injustamente esquecido

Este mês, na edição do Rascunho, escrevo sobre Os caboclos, primeiro livro do paulista Valdomiro Silveira. O volume reúne vinte narrativas — produção inicial de um contista que se aperfeiçoaria nas décadas seguintes, com Nas serras e nas furnas (1931), Mixuangos (1937) e Leréias (1945, póstumo). Como afirmo em meu ensaio, Valdomiro Silveira foi abandonado por parte da crítica literária num limbo nada honroso, mas merece leitura atenta — inclusive para lembrarmos que a literatura não deve espelhar apenas derrotismo, misantropia e tédio.