A condição poética
Como se tivesse
em vez de olhos binóculos ao contrário, o mundo
se distancia e
pessoas, árvores, ruas, tudo diminui, mas nada,nada perde a clareza, fica mais denso.
Já tive antes
momentos assim, escrevendo poemas; conheço então
a distância, a
contemplação desinteressada, sei assumirum eu que é não-eu, mas agora é sempre assim e me pergunto
o que significa isso, se entrei numa permanente condição poética.
As coisas difíceis
antes, agora são fáceis, mas não sinto desejo
forte de
transmiti-las por escrito.
Só agora estou
sadio, e era doente, porque o meu tempo
galopava e
afligia-me o medo do que viria.
A cada momento o
espetáculo do mundo é para mim de novo
surpreendente e
tão cômico que não entendo como a literaturapodia querer dominá-lo.
Sentindo
fisicamente, ao alcance da mão, cada momento, amanso
o sofrimento e
não suplico a Deus que queira afastá-lo de mim:por que o afastaria de mim se não o afasta dos outros?
Sonhei que me
encontrava numa estreita borda sobre o oceano
onde se viam
nadando enormes peixes marítimos.Tive medo que, se olhasse, cairia. Virei então,
agarrei-me nas asperezas da parede rochosa,
e movendo-me lentamente, de costas para o mar, cheguei
a um lugar seguro.
Eu era
impaciente e irritava-me a perda de tempo com coisas triviais
incluindo entre
elas a faxina e a preparação da comida. Agoracorto com cuidado a cebola, espremo os limões, preparo
vários tipos de molho.
(Tradução de Ana Cristina César e Grazyna Drabik)