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Boris Pasternak |
“[...] Ele
falava formulando magníficos períodos em câmara lenta, com ocasionais torrentes
intensas de palavras. Sua fala freqüentemente transbordava as margens da
estrutura gramatical – passagens lúcidas eram seguidas por imagens loucas, mas
sempre maravilhosamente vívidas e concretas –, e essas poderiam ser seguidas
por palavras obscuras, quando era difícil acompanhá-lo – e então de repente ele
voltava a entrar numa clareira. Seu discurso era sempre o de um poeta, assim
como seus escritos. Alguém disse certa vez que há poetas que são poetas quando
escrevem poesia e prosadores quando escrevem prosa; outros são poetas em tudo o
que escrevem. Pasternak era um poeta de gênio em tudo que fazia e era. Quanto a
sua conversa, nem me atrevo a descrever sua qualidade. Só conheci uma outra
pessoa que falasse como ele: Virginia Woolf, que fazia a mente do interlocutor
disparar assim como ele conseguia fazer, obliterando no ouvinte a visão normal
da realidade do mesmo modo inebriante e, às vezes, estarrecedor.
Uso a palavra ‘gênio’ de caso pensado. Às vezes me
perguntam o que quero dizer com esse termo impreciso, mas altamente evocativo.
Em resposta, só posso afirmar o seguinte: perguntaram certa vez ao bailarino
Nijinsk como ele conseguia saltar tão alto. Parece que ele teria respondido que
não via grande problema nisso. A maioria das pessoas, quando pulava no ar,
descia à terra imediatamente. ‘Por que descer imediatamente? Pode-se ficar um
pouco no ar antes de retornar à terra, por que não?’, dizem ter sido a
resposta. Um dos critérios para definir o gênio
me parece ser precisamente isto: o poder de fazer algo perfeitamente simples e
visível, que as pessoas comuns não conseguem realizar e sabem que não podem
fazer – nem sabem como é realizado, nem por que não podem nem sequer imaginar
como fazer. Pasternak às vezes falava em grandes saltos; seu emprego das
palavras era o mais imaginativo que já encontrei; arrebatado e muito comovente.
Há sem dúvida muitas variedades de gênio
literário: Eliot, Joyce, Yeats, Auden, Russell (pela minha experiência) não
falavam assim. [...]”