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Capa |
Acabo de
adquirir o livro História do Cachimbo,
publicado em 1970. Segundo informações que recebi de um membro da Confraria dos
Amigos do Cachimbo, Cláudio Carvalho, “tecnicamente foi o primeiro livro a
tratar do tema no Brasil”. É uma brochura de poucas páginas, sem autoria, mas
agradavelmente ilustrada, contendo informações básicas sobre a história do
cachimbo, a arte de fumar e outras curiosidades.
Dois pontos
chamaram minha atenção: primeiro, o autor desconhecido não partilha da tese de
que existe a “maldição dos cachimbeiros”, segundo a qual estaríamos
condenados a não sentir o aroma dos tabacos enquanto fumamos. Quando fui
informado da “maldição” fiquei perplexo, pois, nestes poucos meses em que me
dedico ao cachimbo, sempre senti, ainda que momentaneamente e em diferentes
escalas, o aroma dos meus tabacos. Agora, neste livro, vejo que não estou só. O
autor afirma, de maneira clara – e quase lírica:
“O homem tem
cinco sentidos. O fumante inteligente precisa de todos os cinco para fruir
plenamente de um cachimbo:
o paladar – porque ele saboreia a fumaça do tabaco
na língua;
o olfato – porque ele aspira o perfume pelo
nariz;
a visão – porque o cachimbo e as tênues nuvens de fumaça encantam
os olhos;
o tato – porque é gostoso envolver o cachimbo com a mão e apalpar
o fornilho;
a audição – porque o suave crepitar da brasa é
música para o ouvido do fumante”.
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Como vemos pelo texto desta página, em 1970 o Brasil ainda desconhecia "a ira dos intolerantes" |
O livro termina
oferecendo ao leitor algumas informações curiosas sobre fumantes célebres, das
quais selecionei as que mais me agradaram exatamente por sua singularidade:
“William
Thackeray [importante romancista inglês do século XIX] certa vez escreveu: ‘O
cachimbo faz sair a sabedoria da boca do filósofo e fecha a boca do tolo’.”
“Thomas Yewat,
um grande industrial de Ohio, quebrou por infelicidade um de seus cachimbos
prediletos. Por causa disto durante três meses vestiu traje de luto.”
E a última, carregada
de delicioso humor:
“São por demais conhecidas,
mas tão espirituosas que merecem ser repetidas, as palavras do célebre
caricaturista Paul Gavarni, dirigidas a um amigo, pouco antes de morrer: ‘Deixo-te
meu cachimbo e minha mulher; cuide bem do cachimbo’.”
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Uma das ilustrações de Paul Gavarni |