Por que voltar aos
ensaios de T. S. Eliot? Foi o que me perguntei quando selecionava os textos que
pretendia analisar no curso “A Descoberta do Ensaio”. Os trechos abaixo,
retirados de “O que é um clássico?” – originalmente escrito como um discurso à
Virgil Society, proferido em 1944 –, respondem à pergunta; e também corroboram
o que Russell Kirk disse a respeito de Eliot: “É possível que em uma distante
época futura, quando a história do século XX parecer bárbara e desconcertante
como as crônicas da Escócia medieval, a aguda perspicácia de Eliot deva ser
lembrada como a luz mais clara que resistiu às trevas universais”. Pensamento que
me leva a repetir o que afirmo a alguns amigos: esta é a hora para reler Eliot.
Evolução da língua e maturidade da
literatura
A maturidade de
uma literatura é um reflexo da sociedade dentro da qual ela se manifesta: um
autor individual – especialmente Shakespeare e Virgílio – pode fazer muito para
desenvolver sua língua, mas não pode conduzir essa língua à maturidade a menos
que a obra de seus antecessores a tenha preparado para seu retoque final. Por
conseguinte, uma literatura amadurecida tem uma história atrás de si – uma
história que não é apenas uma crônica, um acúmulo de manuscritos e textos dessa
espécie, mas uma ordenada, embora inconsciente, evolução de uma língua capaz de
realizar suas próprias potencialidades dentro de suas próprias limitações.
Criatividade
A persistência
da criatividade em qualquer povo consiste [...] na manutenção de um equilíbrio coletivo
entre a tradição no sentido mais amplo – a personalidade coletiva, por assim
dizer, consubstanciada na literatura do passado – e a originalidade da geração
que se encontra viva.
Presente, passado e futuro
[...] Enquanto
estivermos dentro de uma literatura,
enquanto falarmos a mesma língua e tivermos fundamentalmente a mesma cultura
que produziu a literatura do passado, desejaremos conservar duas coisas: o
orgulho de que nossa literatura já se cumpriu e a crença de que pode ainda
cumprir-se no futuro. Se deixássemos de acreditar no futuro, o passado deixaria
de ser plenamente o nosso passado: tornar-se-ia
o passado de uma civilização morta.
Nefasto provincianismo
Em nossa época,
quando os homens parecem mais do que propensos a confundir sabedoria com
conhecimento, e conhecimento com informação, e a tentar resolver problemas da
vida em termos de engenharia, começa a emergir na existência uma nova espécie
de provincianismo que talvez mereça um novo nome. É um provincianismo, não de
espaço, mas de tempo, aquele para o qual a história é simplesmente a crônica
dos projetos humanos que têm estado a serviço de suas reviravoltas e que foram
reduzidos à sucata, aquele para o qual o mundo constitui a propriedade
exclusiva dos vivos, a propriedade da qual os mortos não partilham.
dezembro 13, 2013
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