abril 30, 2009
Estranhos Sísifos
O prazer da leitura – mas não de qualquer leitura. Refiro-me àqueles livros em que nos reencontramos, como se estivéssemos, durante longo tempo, apartados do que é essencial para nós, sem que percebêssemos esse estado, essa condição menor. Então, por acaso, abrimos certa obra – e mal a primeira página foi encerrada, as sinapses, milhares delas, começam a espocar. Saltamos, de página a página, impulsionados pela febre. Quase um delírio, no qual nosso cérebro apenas reitera, incansável: “é isso!”, “exatamente!”, “perfeito!”. E quando, por algum inesperado motivo, nos damos conta de que avançamos dezenas de páginas sem fazer qualquer anotação, redescobrimos essa forma de amor à primeira vista, capaz de nos consumir em uma madrugada, sem que, para nosso desespero, consigamos chegar ao final do volume. Mas é somente o primeiro passo. Faz-se necessário retornar ao início, recomeçar a leitura, agora movidos pela pretensão de saborear lentamente cada uma das descobertas que nos hipnotizaram. Dissecá-las sem piedade, como se o corpo a ser estudado ainda se debatesse, preso à mesa de autópsia. É preciso, então, controlar nosso ímpeto e agir como o cientista que confere incansáveis vezes sua descoberta. A leitura da paixão, da fúria apaixonada, torna-se, assim, um exercício minucioso, um adágio – e, em nossas anotações, reformulamos a descoberta de outrem, transformando-a na verdade que, agora, nos pertence. Damos seqüência, assim, à incansável tarefa da palavra: transmutar-se a cada pensamento, a cada reflexão, conservando-se a mesma, mas desdobrando-se para dar vida a um novo estágio de consciência. Só quando esse exercício extenuante termina podemos dizer que realmente lemos, que somamos à nossa vida a experiência de alguém que se antecipou, sem saber, aos nossos pensamentos, aos nossos sonhos. Só então o ato de amor está completo. Mas, como sói ocorrer, restará sempre um engano, uma dúvida: não nos apossamos de tudo. Na verdade, grande parte do que nos empolgou ainda permanece lá, intocável, intraduzível. E se, passado algum tempo, reiniciarmos a leitura, um novo mundo se revelará. Esse é o fado dos verdadeiros leitores: somos estranhos Sísifos, condenados a um prazer infindável, devotados ao exercício que nos concede, poucas vezes, a magia da identificação.
abril 29, 2009
Estado de Israel, 61 anos
"A criação do Estado de Israel prestou o maior serviço que qualquer instituição humana pode executar pelos indivíduos - restituiu aos judeus não somente sua dignidade pessoal e seu status como seres humanos, mas, o que é muitíssimo mais importante, seu direito de escolher como indivíduos de que forma devem viver - a liberdade básica da escolha, o direito de viver ou morrer, salvar-se ou danar-se à sua maneira, sem o que a vida é uma forma de escravidão, como tem sido realmente para a comunidade judaica por quase 2 mil anos."
- Isaiah Berlin, in "Escravidão e emancipação judaicas" (A força das idéias, Editora Cia. das Letras)
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Reflexões
abril 28, 2009
Cartas e civilização
O artigo de João Pereira Coutinho, na Folha de hoje, me levou a revisitar um dos gêneros que mais aprecio: a epístola. Cartas são diálogos, francos ou não, em que revelamos facetas da personalidade – boas e más. Um epistolário, portanto, pode chegar a ser “uma autobiografia não premeditada, transmitida por mil casualidades, sobrevivente por puro milagre”, como bem definiu Hermann Kesten, ao falar sobre as cartas de Joseph Roth.
No Brasil, as missivas de Mário de Andrade e Monteiro Lobato apresentam não apenas o ser humano, muitas vezes num despojamento comprometedor, mas também a lenta e permanente elaboração de uma cultura tão extravagante quanto imatura, frágil. Elas formam a radiografia do país que ainda não encontrou seu centro, com suas qualidades e mazelas, ainda que os brasileiros se acreditem exemplos de cordialidade e civilização, vaidosos como índios se admirando a primeira vez num espelho.
Bem sei que talvez não tenhamos leitores para as dez mil cartas de Voltaire e outros tantos volumes de Madame de Sévigné, mas por que só publicamos, de Flaubert, uma pequena coletânea? É verdade que Marco Lucchesi nos presenteou com a correspondência de Giacomo Leopardi, traduzida por Maurício Dias, mas quando poderemos ler, em português, as cartas de John Keats, com a admirável introdução de Lionel Trilling? E as missivas de Diderot a Sophie Volland? Sim, temos as Cartas do cárcere, de Gramsci, plenas de amor paterno, documentos que, descontando-se o esquerdismo do militante, retratam a angústia da luta contra a própria decadência física. Mas, e as cartas de Cícero, de Petrarca? Ou, para ficar entre brasileiros, quando teremos as missivas, por exemplo, de Ribeiro Couto?
A Academia Brasileira de Letras tem procurado superar o atraso, e já publicou as cartas de Alphonsus de Guimaraens, José Honório Rodrigues e Casimiro de Abreu. Mas ainda há muito Brasil para ser revelado. Não o Brasil que sabe apenas olhar-se no espelho, mas aquele que, observando os outros, vê a grande distância que ainda deve percorrer para dar a si mesmo o nome de civilização.
No Brasil, as missivas de Mário de Andrade e Monteiro Lobato apresentam não apenas o ser humano, muitas vezes num despojamento comprometedor, mas também a lenta e permanente elaboração de uma cultura tão extravagante quanto imatura, frágil. Elas formam a radiografia do país que ainda não encontrou seu centro, com suas qualidades e mazelas, ainda que os brasileiros se acreditem exemplos de cordialidade e civilização, vaidosos como índios se admirando a primeira vez num espelho.
Bem sei que talvez não tenhamos leitores para as dez mil cartas de Voltaire e outros tantos volumes de Madame de Sévigné, mas por que só publicamos, de Flaubert, uma pequena coletânea? É verdade que Marco Lucchesi nos presenteou com a correspondência de Giacomo Leopardi, traduzida por Maurício Dias, mas quando poderemos ler, em português, as cartas de John Keats, com a admirável introdução de Lionel Trilling? E as missivas de Diderot a Sophie Volland? Sim, temos as Cartas do cárcere, de Gramsci, plenas de amor paterno, documentos que, descontando-se o esquerdismo do militante, retratam a angústia da luta contra a própria decadência física. Mas, e as cartas de Cícero, de Petrarca? Ou, para ficar entre brasileiros, quando teremos as missivas, por exemplo, de Ribeiro Couto?
A Academia Brasileira de Letras tem procurado superar o atraso, e já publicou as cartas de Alphonsus de Guimaraens, José Honório Rodrigues e Casimiro de Abreu. Mas ainda há muito Brasil para ser revelado. Não o Brasil que sabe apenas olhar-se no espelho, mas aquele que, observando os outros, vê a grande distância que ainda deve percorrer para dar a si mesmo o nome de civilização.
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Reflexões
abril 26, 2009
Euclides da Cunha: leitor de Rimbaud?
Leopoldo Bernucci já demonstrou (em A imitação dos sentidos, Edusp/University of Colorado at Boulder), ao tratar do problema da mimese na obra de Euclides da Cunha – mimese não como representação da semelhança, mas, sim, da diferença –, as relações intertextuais que Os sertões mantém com, entre outros, Victor Hugo e Domingo Sarmiento.
Sabe-se, também, da influência que teve – não só no que se refere a sugestões de leitura, mas, ainda que de maneira indireta, na própria elaboração de Os sertões – o intendente de São José do Rio Pardo, Francisco Escobar. Entre 1898 e 1901, período durante o qual Euclides viveu nessa cidade, ocupando-se da reconstrução da ponte que ruíra, os dois estabeleceram profunda relação de amizade, prolongada depois em razoável número de cartas.
Escobar foi um autodidata extremamente culto, além de bibliófilo. Se os números apresentados por Ângelo Caio Mendes Correa Jr. estão corretos, sua biblioteca, com sete mil volumes, deve ter representado um universo sem precedentes para Euclides. Há quem afirme, inclusive, que Escobar apresentou ao amigo os clássicos de Portugal, como Alexandre Herculano, por exemplo, além de inúmeros outros escritores, exercendo, assim, influência sobre o estilo do autor de Os sertões.
Pergunto-me, no entanto, que outros livros Escobar teria emprestado a Euclides. A resposta talvez possa ser encontrada na biblioteca do intendente, que, anos depois, foi prefeito de Poços de Caldas. Onde estariam esses livros? Que surpresas esses alfarrábios, que pertenceram a um homem de vasta cultura, à frente do seu tempo e do seu atrasado país, escondem? Que pistas eles poderiam oferecer sobre aqueles anos fecundos em São José do Rio Pardo, que permitiram a Euclides elaborar, dar forma definitiva a Os sertões?
Há bom tempo guardo comigo uma suspeita: Escobar apresentou Rimbaud a Euclides.
Um poema de Rimbaud, “Le dormeur du val” (“O adormecido do vale”), sempre me interessou pela semelhança que guarda em relação a um dos trechos mais belos de Os sertões, conhecido pelo título de “Higrômetros singulares”.
O poema aparece em duas primeiras edições: Reliquaire, poésies, L. Genonceaux, Paris, 1891 (prefácio de Rodolphe Darzens) e Poésies completes, L. Vanier, 1895 (prefácio de Paul Verlaine). Um desses livros faria parte da biblioteca de Francisco Escobar?
A semelhança entre os textos (que coloco abaixo) é fascinante. Em Euclides, “um velho jardim em abandono”, com uma “árvore única, uma quixabeira alta, sobranceando a vegetação franzina”. Em Rimbaud, na tradução de Ivo Barroso, “um recanto verde onde um regato canta / doidamente a enredar nas ervas seus pendões / De prata”.
Em Euclides, “o sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo chão”. Em Rimbaud, “o sol, no monte que suplanta, / Brilha: um pequeno vale a espumejar clarões”.
Se o soldado, em Os sertões, tem “os braços largamente abertos, rosto voltado para os céus, para os sóis ardentes, para os luares claros, para as estrelas fulgurantes...”, no poema ele apresenta a “boca aberta, fronte ao vento, / [...] estendido sobre as relvas, ao relento, branco em seu leito verde onde chovia luz”.
Euclides fala da “ilusão exata de um lutador cansado, retemperando-se em tranqüilo sono, à sombra daquela árvore benfazeja”. No poema de Rimbaud, o verbo dormir surge duas vezes.
A transposição me parece clara. Euclides tirou o soldado do vale verdejante de Rimbaud e colocou-o na aridez da caatinga, concedendo-lhe um novo e mais elaborado contexto, descrevendo-o no seu estilo às vezes hiperbólico, que em nada se assemelha ao de Rimbaud.
Escobar teria importado um dos volumes? Ele acompanhava os lançamentos editoriais franceses, hábito comum entre os brasileiros cultos daquela época? Ou trata-se apenas de um tema recorrente na literatura, mera coincidência, como em vários outros casos?
Fico com a primeira hipótese. E não apenas pela semelhança entre os textos, mas pelo fato de que grande parte do que é descrito em Os sertões não pertence ao gênero histórico, mas à pura ficção.
O adormecido do vale
Era um recanto verde onde um regato canta
Doidamente a enredar nas ervas seus pendões
De prata; e onde o sol, no monte que suplanta,
Brilha: um pequeno vale a espumejar clarões.
Jovem soldado, boca aberta, fronte ao vento,
E a refrescar a nuca entre os agriões azuis,
Dorme; estendido sobre as relvas, ao relento,
Branco em seu leito verde onde chovia luz.
Os pés nos juncos, dorme. E sorri no abandono,
De uma criança que risse, enferma, no seu sono:
Tem frio, ó Natureza – aquece-o no teu leito.
Os perfumes não mais lhe fremem as narinas;
Dorme ao sol, suas mãos a repousar supinas
Sobre o corpo. E tem dois furos rubros no peito.
Outubro de 1870.
(in Poesia completa, 2ª edição revista, Editora Topbooks, 1994, tradução de Ivo Barroso)
Higrômetros singulares
[...]
Percorrendo certa vez, nos fins de setembro, as cercanias de Canudos, fugindo à monotonia de um canhoneio frouxo de tiros espaçados e soturnos, encontramos, no descer de uma encosta, anfiteatro irregular, onde as colinas se dispunham circulando um vale único. Pequenos arbustos, icozeiros virentes viçando em tufos intermeados de palmatórias de flores rutilantes, davam ao lugar a aparência exata de algum velho jardim em abandono. Ao lado uma árvore única, uma quixabeira alta, sobranceando a vegetação franzina.
O sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo chão e protegido por ela – braços largamente abertos, face volvida para os céus – um soldado descansava.
Descansava... havia três meses.
Morrera no assalto de 18 de julho. A coronha da mannlicher estrondada, o cinturão e o boné jogados a uma banda, e a farda em tiras, diziam que sucumbira em luta corpo a corpo com adversário possante. Caíra, certo, derreando-se à violenta pancada que lhe sulcara a fronte, manchada de uma escara preta. E ao enterrar-se, dias depois, os mortos, não fora percebido. Não compartira, por isto, a vala comum de menos de um côvado de fundo em que eram jogados, formando pela última vez juntos, os companheiros abatidos na batalha. O destino que o removera do lar desprotegido fizera-lhe afina uma concessão: livrara-o da promiscuidade lúgubre de um fosso repugnante; e deixara-o ali há três meses – braços largamente abertos, rosto voltado para os céus, para os sóis ardentes, para os luares claros, para as estrelas fulgurantes...
E estava intacto. Murchara apenas. Mumificara conservando os traços fisionômicos, de modo a incutir a ilusão exata de um lutador cansado, retemperando-se em tranqüilo sono, á sombra daquela árvore benfazeja. Nem um verme – o mais vulgar dos trágicos analistas da matéria – lhe maculara os tecidos. Volvia ao turbilhão da vida sem decomposição repugnante, numa exaustão imperceptível. Era um aparelho revelando de modo absoluto, mas sugestivo, a secura extrema dos ares.
[...]
(in Os sertões – Campanha de Canudos, Ateliê Editorial/Imprensa Oficial – SP/Arquivo do Estado, 2002 – edição, prefácio, cronologia, notas e índices de Leopoldo M. Bernucci)
Sabe-se, também, da influência que teve – não só no que se refere a sugestões de leitura, mas, ainda que de maneira indireta, na própria elaboração de Os sertões – o intendente de São José do Rio Pardo, Francisco Escobar. Entre 1898 e 1901, período durante o qual Euclides viveu nessa cidade, ocupando-se da reconstrução da ponte que ruíra, os dois estabeleceram profunda relação de amizade, prolongada depois em razoável número de cartas.
Escobar foi um autodidata extremamente culto, além de bibliófilo. Se os números apresentados por Ângelo Caio Mendes Correa Jr. estão corretos, sua biblioteca, com sete mil volumes, deve ter representado um universo sem precedentes para Euclides. Há quem afirme, inclusive, que Escobar apresentou ao amigo os clássicos de Portugal, como Alexandre Herculano, por exemplo, além de inúmeros outros escritores, exercendo, assim, influência sobre o estilo do autor de Os sertões.
Pergunto-me, no entanto, que outros livros Escobar teria emprestado a Euclides. A resposta talvez possa ser encontrada na biblioteca do intendente, que, anos depois, foi prefeito de Poços de Caldas. Onde estariam esses livros? Que surpresas esses alfarrábios, que pertenceram a um homem de vasta cultura, à frente do seu tempo e do seu atrasado país, escondem? Que pistas eles poderiam oferecer sobre aqueles anos fecundos em São José do Rio Pardo, que permitiram a Euclides elaborar, dar forma definitiva a Os sertões?
Há bom tempo guardo comigo uma suspeita: Escobar apresentou Rimbaud a Euclides.
Um poema de Rimbaud, “Le dormeur du val” (“O adormecido do vale”), sempre me interessou pela semelhança que guarda em relação a um dos trechos mais belos de Os sertões, conhecido pelo título de “Higrômetros singulares”.
O poema aparece em duas primeiras edições: Reliquaire, poésies, L. Genonceaux, Paris, 1891 (prefácio de Rodolphe Darzens) e Poésies completes, L. Vanier, 1895 (prefácio de Paul Verlaine). Um desses livros faria parte da biblioteca de Francisco Escobar?
A semelhança entre os textos (que coloco abaixo) é fascinante. Em Euclides, “um velho jardim em abandono”, com uma “árvore única, uma quixabeira alta, sobranceando a vegetação franzina”. Em Rimbaud, na tradução de Ivo Barroso, “um recanto verde onde um regato canta / doidamente a enredar nas ervas seus pendões / De prata”.
Em Euclides, “o sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo chão”. Em Rimbaud, “o sol, no monte que suplanta, / Brilha: um pequeno vale a espumejar clarões”.
Se o soldado, em Os sertões, tem “os braços largamente abertos, rosto voltado para os céus, para os sóis ardentes, para os luares claros, para as estrelas fulgurantes...”, no poema ele apresenta a “boca aberta, fronte ao vento, / [...] estendido sobre as relvas, ao relento, branco em seu leito verde onde chovia luz”.
Euclides fala da “ilusão exata de um lutador cansado, retemperando-se em tranqüilo sono, à sombra daquela árvore benfazeja”. No poema de Rimbaud, o verbo dormir surge duas vezes.
A transposição me parece clara. Euclides tirou o soldado do vale verdejante de Rimbaud e colocou-o na aridez da caatinga, concedendo-lhe um novo e mais elaborado contexto, descrevendo-o no seu estilo às vezes hiperbólico, que em nada se assemelha ao de Rimbaud.
Escobar teria importado um dos volumes? Ele acompanhava os lançamentos editoriais franceses, hábito comum entre os brasileiros cultos daquela época? Ou trata-se apenas de um tema recorrente na literatura, mera coincidência, como em vários outros casos?
Fico com a primeira hipótese. E não apenas pela semelhança entre os textos, mas pelo fato de que grande parte do que é descrito em Os sertões não pertence ao gênero histórico, mas à pura ficção.
O adormecido do vale
Era um recanto verde onde um regato canta
Doidamente a enredar nas ervas seus pendões
De prata; e onde o sol, no monte que suplanta,
Brilha: um pequeno vale a espumejar clarões.
Jovem soldado, boca aberta, fronte ao vento,
E a refrescar a nuca entre os agriões azuis,
Dorme; estendido sobre as relvas, ao relento,
Branco em seu leito verde onde chovia luz.
Os pés nos juncos, dorme. E sorri no abandono,
De uma criança que risse, enferma, no seu sono:
Tem frio, ó Natureza – aquece-o no teu leito.
Os perfumes não mais lhe fremem as narinas;
Dorme ao sol, suas mãos a repousar supinas
Sobre o corpo. E tem dois furos rubros no peito.
Outubro de 1870.
(in Poesia completa, 2ª edição revista, Editora Topbooks, 1994, tradução de Ivo Barroso)
Higrômetros singulares
[...]
Percorrendo certa vez, nos fins de setembro, as cercanias de Canudos, fugindo à monotonia de um canhoneio frouxo de tiros espaçados e soturnos, encontramos, no descer de uma encosta, anfiteatro irregular, onde as colinas se dispunham circulando um vale único. Pequenos arbustos, icozeiros virentes viçando em tufos intermeados de palmatórias de flores rutilantes, davam ao lugar a aparência exata de algum velho jardim em abandono. Ao lado uma árvore única, uma quixabeira alta, sobranceando a vegetação franzina.
O sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo chão e protegido por ela – braços largamente abertos, face volvida para os céus – um soldado descansava.
Descansava... havia três meses.
Morrera no assalto de 18 de julho. A coronha da mannlicher estrondada, o cinturão e o boné jogados a uma banda, e a farda em tiras, diziam que sucumbira em luta corpo a corpo com adversário possante. Caíra, certo, derreando-se à violenta pancada que lhe sulcara a fronte, manchada de uma escara preta. E ao enterrar-se, dias depois, os mortos, não fora percebido. Não compartira, por isto, a vala comum de menos de um côvado de fundo em que eram jogados, formando pela última vez juntos, os companheiros abatidos na batalha. O destino que o removera do lar desprotegido fizera-lhe afina uma concessão: livrara-o da promiscuidade lúgubre de um fosso repugnante; e deixara-o ali há três meses – braços largamente abertos, rosto voltado para os céus, para os sóis ardentes, para os luares claros, para as estrelas fulgurantes...
E estava intacto. Murchara apenas. Mumificara conservando os traços fisionômicos, de modo a incutir a ilusão exata de um lutador cansado, retemperando-se em tranqüilo sono, á sombra daquela árvore benfazeja. Nem um verme – o mais vulgar dos trágicos analistas da matéria – lhe maculara os tecidos. Volvia ao turbilhão da vida sem decomposição repugnante, numa exaustão imperceptível. Era um aparelho revelando de modo absoluto, mas sugestivo, a secura extrema dos ares.
[...]
(in Os sertões – Campanha de Canudos, Ateliê Editorial/Imprensa Oficial – SP/Arquivo do Estado, 2002 – edição, prefácio, cronologia, notas e índices de Leopoldo M. Bernucci)
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abril 23, 2009
Falstaff na Osesp
Não gostei do Falstaff interpretado pelo barítono Albert Schagidullin. Sua voz tem um registro mais próximo do de um baixo. Voz quase monocórdia, sem inflexões sugestivas, imprópria para uma ópera verdiana – e principalmente para uma ópera-bufa. Leonardo Neiva, entretanto, no papel de Ford, foi uma surpresa agradabilíssima. Bela voz, de rica modulação, a desse barítono brasileiro. Ele também demonstrou ser um ótimo ator. Outro aspecto positivo foi a direção cênica: com poucos recursos, André Heller-Lopes criou a atmosfera adequada, de bom gosto, reservando, para o final, uma solução mais do que agradável.
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abril 21, 2009
Onde está Shakespeare?
No último número do Rascunho, escrevo sobre o Teatro completo de Shakespeare, na tradução de Carlos Alberto da Costa Nunes, obra originalmente publicada na década de 1950 e agora reeditada pela Agir.
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abril 19, 2009
Escolhas feitas
Próximo de completar 50 anos, sinto-me ranzinza, impaciente com tudo que envolve subcultura, futilidades que não estejam ligadas diretamente ao meu conforto e discursos repetitivos, cheios de lugares-comuns. Ler os jornais tornou-se, portanto, um exercício cada vez mais penoso. Depois do Google Reader, que me permite selecionar o que realmente me interessa, quase não há mais sentido em ler um jornal.
Aliás, o verbo é inadequado: não leio – dou uma passada de olhos. Mas até mesmo isso aborrece. Às vezes, o porteiro da manhã interfona, lembrando-me que os jornais estão na portaria há três ou quatro dias...
Do Estadão de hoje, por exemplo, o que se salva? O artigo de Demétrio Magnoli e o caderno de Economia. É verdade, leitor, você tem razão: minha ranzinzice alcançou níveis perigosos, próximos da intolerância. Mas, aos 50, não posso perder tempo com o que estou cansado de saber. Chegou a idade em que, calejado, sigo as dez ou quinze primeiras linhas de um texto – e sei o raciocínio do autor, conheço seus argumentos. Muitas vezes, nem isso é necessário, pois basta ver o nome do articulista para que eu vire a página rapidamente. Tenho certeza de que, em 99% das oportunidades, as pessoas repetirão o que vêm dizendo há anos – ou o que outros dizem há séculos.
Aos 50, não posso perder tempo com quem chove no molhado, com vacas de presépio, puxa-sacos, plagiadores, espíritos servis, demagogos, copiadores de releases, esquerdistas de todos os gêneros e, principalmente, com os que escrevem mal. Certa idéia pode ser extraordinária, mas se for escrita em português claudicante provoca no meu coração aquele prenúncio de angina pectoris que sinto quando, depois de admirar uma bela mulher, descubro que a concordância verbal não é um dos seus pontos fortes.
Minhas escolhas estão feitas. Eliminei do meu horizonte os temas que considero pequenos, insignificantes. Permaneço aberto ao novo, claro, mas desde que ele passe pelo crivo dos padrões de qualidade e de gosto pessoal que instituí para o meu universo. No âmbito da música, por exemplo, minha sensibilidade está fechada à maioria das manifestações contemporâneas. Sou atacado de profunda tristeza quando o Estadão passa uma semana sem publicar a crítica de Lauro Machado Coelho. E viverei os próximos dias, até quarta-feira, na expectativa de ouvir Falstaff com a Osesp.
Como vêem, além de relutar em seguir as novas regras de ortografia, tive a lucidez de não só abandonar a esquerda, mas tornar-me um conservador cético. Relendo as cartas de Jacob Burckhardt (a Editora Topbooks publicou uma ótima seleção há alguns anos), encontro a síntese do meu pensamento: "É uma longa história [...] a difusão da cultura e o decréscimo de sua originalidade e individualidade, da vontade e da capacidade; e um dia o mundo irá sufocar e cair sobre o estrume de seu próprio filisteísmo".
Apocalíptico demais? Não creio. Aliás, basta caminhar alguns quarteirões em São Paulo, dar uma espiada nos lançamentos das editoras ou ler um jornal: o futuro previsto por Burckhardt se tornou presente.
Aliás, o verbo é inadequado: não leio – dou uma passada de olhos. Mas até mesmo isso aborrece. Às vezes, o porteiro da manhã interfona, lembrando-me que os jornais estão na portaria há três ou quatro dias...
Do Estadão de hoje, por exemplo, o que se salva? O artigo de Demétrio Magnoli e o caderno de Economia. É verdade, leitor, você tem razão: minha ranzinzice alcançou níveis perigosos, próximos da intolerância. Mas, aos 50, não posso perder tempo com o que estou cansado de saber. Chegou a idade em que, calejado, sigo as dez ou quinze primeiras linhas de um texto – e sei o raciocínio do autor, conheço seus argumentos. Muitas vezes, nem isso é necessário, pois basta ver o nome do articulista para que eu vire a página rapidamente. Tenho certeza de que, em 99% das oportunidades, as pessoas repetirão o que vêm dizendo há anos – ou o que outros dizem há séculos.
Aos 50, não posso perder tempo com quem chove no molhado, com vacas de presépio, puxa-sacos, plagiadores, espíritos servis, demagogos, copiadores de releases, esquerdistas de todos os gêneros e, principalmente, com os que escrevem mal. Certa idéia pode ser extraordinária, mas se for escrita em português claudicante provoca no meu coração aquele prenúncio de angina pectoris que sinto quando, depois de admirar uma bela mulher, descubro que a concordância verbal não é um dos seus pontos fortes.
Minhas escolhas estão feitas. Eliminei do meu horizonte os temas que considero pequenos, insignificantes. Permaneço aberto ao novo, claro, mas desde que ele passe pelo crivo dos padrões de qualidade e de gosto pessoal que instituí para o meu universo. No âmbito da música, por exemplo, minha sensibilidade está fechada à maioria das manifestações contemporâneas. Sou atacado de profunda tristeza quando o Estadão passa uma semana sem publicar a crítica de Lauro Machado Coelho. E viverei os próximos dias, até quarta-feira, na expectativa de ouvir Falstaff com a Osesp.
Como vêem, além de relutar em seguir as novas regras de ortografia, tive a lucidez de não só abandonar a esquerda, mas tornar-me um conservador cético. Relendo as cartas de Jacob Burckhardt (a Editora Topbooks publicou uma ótima seleção há alguns anos), encontro a síntese do meu pensamento: "É uma longa história [...] a difusão da cultura e o decréscimo de sua originalidade e individualidade, da vontade e da capacidade; e um dia o mundo irá sufocar e cair sobre o estrume de seu próprio filisteísmo".
Apocalíptico demais? Não creio. Aliás, basta caminhar alguns quarteirões em São Paulo, dar uma espiada nos lançamentos das editoras ou ler um jornal: o futuro previsto por Burckhardt se tornou presente.
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abril 17, 2009
Individualismo
O que é a massa, senão loucura, fanatismo, embriaguez? A massa é sempre cega – e exatamente por isso, servil. O complemento indissociável de toda coletividade é a despersonalização.
Em meus tempos de militância na esquerda, cansei de ver os braços erguendo-se durante as votações, automáticos, hipnotizados pelo discurso passional ou dirigidos pelos acordos de bastidores. Assembléias são arremedos de democracia.
E as aglomerações em praça pública? Um demagogo verbaliza a palavra-chave ou faz o gesto apropriado, e o emocionalismo incita a massa em milésimos de segundos, numa onda incontrolável de autoenganação. É um frenesi, um êxtase, mas que extermina o indivíduo, apaga a consciência, aniquila o juízo crítico.
“O homem pode significar muito para si próprio, e quanto mais ele significa para si, mais significa para os outros”, escreveu Jacob Burckhardt. Ele estava certo. A ciência, a arte e a sabedoria só podem nascer do individualismo; se preservarmos, com todas as forças, a nossa autonomia, a nossa vontade. A multidão é a mentira. (Esta última frase não seria de Kierkegaard?)
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abril 15, 2009
Material para bons ficcionistas
É uma pena que a maior parte dos nossos escritores esteja preocupada apenas em ser mais vanguardeira que dadaístas empedernidos. No Brasil pululam fatos que, de tão irreais, bem que mereciam ganhar verossimilhança graças à ficção.
O que dizer, por exemplo, da estudante – de pai pardo e avô negro – que perdeu a vaga, conquistada por meio do sistema de cotas, na Universidade Federal de Santa Maria? Como sempre, quando o Estado decide inventar uma justiça espúria, acaba somente praticando novas injustiças. No caso, antecipando-se à votação que deve ocorrer no Senado dentro de alguns dias, a universidade criou uma comissão para julgar os casos de “reserva racial”. Submetida a questionamentos diversos – dentre eles, “sofreu algum tipo de preconceito?” –, a jovem foi reprovada, pois não possuía o perfil de vítima, ou seja, por comprovar, em sua própria vida, que o racismo apregoado pelas “minorias politicamente corretas” não passa de fantasmagoria.
Mas não se trata apenas disso. Há outras questões que incomodam: quem pode julgar quem? E com quais fundamentos? E quem estabelece esses fundamentos? O pequeno tribunal dessa universidade é tão sórdido quanto um tribunal kafkiano. Ele comprova que a divisão da sociedade por raças é arbitrária, injusta e absurda – e, manipulada em comissões cujos membros defendem critérios absolutamente subjetivos, só tende a produzir aberrações.
Para onde a segue a carruagem? Teremos de, em breve, fornecer, no ato de inscrição para o vestibular, o mapeamento de DNA? O Estado criará novos cartórios, especializados em atestar as raças dos recém-nascidos? Ou bastará que os atuais cartórios de registro civil contratem geneticistas?
Ora, não seria melhor, de uma vez por todas, ressuscitar Alfred Rosemberg?
Escritores brasileiros: mãos à obra! Há material à farta para bons ficcionistas!
O que dizer, por exemplo, da estudante – de pai pardo e avô negro – que perdeu a vaga, conquistada por meio do sistema de cotas, na Universidade Federal de Santa Maria? Como sempre, quando o Estado decide inventar uma justiça espúria, acaba somente praticando novas injustiças. No caso, antecipando-se à votação que deve ocorrer no Senado dentro de alguns dias, a universidade criou uma comissão para julgar os casos de “reserva racial”. Submetida a questionamentos diversos – dentre eles, “sofreu algum tipo de preconceito?” –, a jovem foi reprovada, pois não possuía o perfil de vítima, ou seja, por comprovar, em sua própria vida, que o racismo apregoado pelas “minorias politicamente corretas” não passa de fantasmagoria.
Mas não se trata apenas disso. Há outras questões que incomodam: quem pode julgar quem? E com quais fundamentos? E quem estabelece esses fundamentos? O pequeno tribunal dessa universidade é tão sórdido quanto um tribunal kafkiano. Ele comprova que a divisão da sociedade por raças é arbitrária, injusta e absurda – e, manipulada em comissões cujos membros defendem critérios absolutamente subjetivos, só tende a produzir aberrações.
Para onde a segue a carruagem? Teremos de, em breve, fornecer, no ato de inscrição para o vestibular, o mapeamento de DNA? O Estado criará novos cartórios, especializados em atestar as raças dos recém-nascidos? Ou bastará que os atuais cartórios de registro civil contratem geneticistas?
Ora, não seria melhor, de uma vez por todas, ressuscitar Alfred Rosemberg?
Escritores brasileiros: mãos à obra! Há material à farta para bons ficcionistas!
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Reflexões
abril 13, 2009
Nove anos de Rascunho
Rogério Pereira, editor do jornal Rascunho, concedeu uma entrevista, dividida em seis partes, ao blog Papo Original. Abaixo, coloco o primeiro trecho desse diálogo tranqüilo, em que Rogério fala sobre livros, internet, futebol e vários outros temas:
Rascunho from Papo Original on Vimeo.
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Figuras
abril 10, 2009
Igualitarismo nivelador
Os números foram divulgados ontem pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo: 82,5% dos alunos da 8ª série do ensino fundamental apresentam desempenho medíocre em língua portuguesa. Se essa é a realidade do ensino paulista, o que deve ocorrer, por exemplo, no estado mais querido de Nelson Rodrigues, o Piauí?
Ironia à parte, enquanto a escola seguir considerando as diferenças individuais não pela óptica do reconhecimento diferencial dos méritos, mas segundo a idéia marxista que advoga um igualitarismo nivelador, os índices continuarão piorando. A escola da progressão continuada é a escola do amorfismo. A ideologia que hoje norteia a educação no Brasil tenta esconder a verdade, mas não premiar o esforço, o empenho e, portanto, o mérito individual, serve apenas para criar cidadãos passivos e ignorantes.
Ironia à parte, enquanto a escola seguir considerando as diferenças individuais não pela óptica do reconhecimento diferencial dos méritos, mas segundo a idéia marxista que advoga um igualitarismo nivelador, os índices continuarão piorando. A escola da progressão continuada é a escola do amorfismo. A ideologia que hoje norteia a educação no Brasil tenta esconder a verdade, mas não premiar o esforço, o empenho e, portanto, o mérito individual, serve apenas para criar cidadãos passivos e ignorantes.
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Reflexões
abril 09, 2009
Terremoto em L'Aquila
Penso nos mortos do terremoto na Itália. Mas penso principalmente nos vivos, na herança de dor e saudade que terão de carregar, e no sentimento, sempre devastador, de que a vida é uma luta entre forças desproporcionais, onde, de um lado, está o homem – cheio de orgulho, mas frágil, patético –, caminhando tendo diante de si o fim iminente, e de outro o infortúnio, demorado ou abrupto, mas sempre inevitável.
Se viver exige um ato de coragem diário, o que será viver sustentando o ônus do fatídico – e, pior, o ônus de escapar da morte e, em troca, ser condenado a suportar o peso de todas as conseqüências provocadas pela fatalidade?
Se viver exige um ato de coragem diário, o que será viver sustentando o ônus do fatídico – e, pior, o ônus de escapar da morte e, em troca, ser condenado a suportar o peso de todas as conseqüências provocadas pela fatalidade?
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Reflexões
abril 08, 2009
abril 07, 2009
Double Concerto
Ouvir Brahms significa experimentar certo estado de transcendência. De repente, o real, o físico é ultrapassado - e quando voltamos às mazelas do dia-a-dia, a sensação de que estivemos livres do peso de viver se mantém e nos reconforta. Aqui, violino e violoncelo não disputam nenhuma primazia, mas apenas dialogam para muito além do lirismo, criando uma natureza íntima comum, uma realidade da qual ansiamos jamais nos separar:
abril 04, 2009
Novo visual e leituras
Fui praticamente forçado, por um grande amigo, a mudar a aparência do blog. De fato, está melhor assim, arejado, com as letras maiores, design leve. Devagar, acerto os detalhes que faltam.
Para os que gostam, há uma boa entrevista com John Le Carré no Babelia deste sábado. E uma resenha, interessante, sobre livros de viagens, falando de R. L. Stevenson e Joseph Roth, entre outros.
Para os que gostam, há uma boa entrevista com John Le Carré no Babelia deste sábado. E uma resenha, interessante, sobre livros de viagens, falando de R. L. Stevenson e Joseph Roth, entre outros.
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Reflexões
abril 01, 2009
Biblioclastia na Venezuela?
Notícias publicadas em vários blogs e revistas digitais denunciam a destruição de livros na Biblioteca Nacional da Venezuela - por motivos ideológicos -, bem como a transformação desse órgão público em mero divulgador de instrução partidária.
Segundo as notícias, um dos responsáveis pela destruição, Fernando Báez, que foi diretor da Biblioteca Nacional, é, ironicamente, autor de um livro intitulado Historia universal de la destrucción de libros.
E há mais: dentre os links que me enviaram, um fórum de discussão afirma que a queima de livros em bibliotecas públicas está se tornando uma rotina naquele país.
Seria mais uma das faces obscurantistas da Revolução Bolivariana?
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