Meus
amigos dirão que exagero. E os que não têm a nem sempre agradável experiência
de conviver comigo certamente afirmarão o mesmo. Mas cumprirei a tarefa de ser
previsível, ao menos no que se refere a esses pequenos prazeres que me concedo,
e afirmarei que o poder de se expressar a respeito de assuntos aparentemente
triviais, transformando-os de acordo com um conjunto particular de emoções, é uma
habilidade capaz de demonstrar o grau de aperfeiçoamento a que uma nação ou um
povo chegou. É o que sinto quando leio as crônicas de Gregory L. Pease, especialmente
a última, “It’s Not That Simple”. Ele transforma o ato de encher um fornilho
com tabaco, acendê-lo e fumar durante largos minutos num exercício de reflexão
e poesia. E não há, desculpem-me os sensíveis, ninguém que faça isso em língua
portuguesa. Em poucas linhas, Pease perscruta a relação do homem com o tabaco e
o cachimbo, analisando-a não como um passatempo – a malta antitabagista diria “vício”
–, mas como uma característica da sutileza, da complexidade e, por que não?, do
requinte a que nós, pobres humanos, podemos chegar. A crônica é, sem dúvida, o
gênero literário mais ingrato, transformada, quase sempre, em presa do efêmero
pelos escritores, mas Gregory L. Pease, ainda que fale de um gesto extremamente
fugaz, consegue torná-lo atemporal, histórico. Além, é claro, de conceder
alegria a este prosélito dos cachimbos.
novembro 28, 2013
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