abril 08, 2013

Ideias que obscurecem o que somos e sentimos

De um ensaio de T. S. Eliot sobre William Blake:

“Os Songs of innocence and of experience, assim como os poemas do manuscrito Rossetti, são poemas que revelam um profundo interesse pelas emoções humanas e um profundo conhecimento destas. As emoções são expostas sob forma extremamente simplificada e abstrata. Essa forma é uma ilustração da eterna luta da arte contra a educação, do artista literário contra a contínua decomposição da língua.

É importante que o artista deva ser altamente educado em sua própria arte; mas sua educação é aquela que atrapalha mais do que ajuda, pois ele a recebe através do processo comum da sociedade em que se resume a educação do homem comum. É que esse processo consiste amplamente na aquisição de ideias impessoais que obscurecem o que de fato somos e sentimos, o que realmente desejamos e o que na verdade instiga nosso interesse. Não se trata, é claro, da efetiva informação adquirida, mas do conformismo que o acúmulo de conhecimentos será capaz de impor, o que é nocivo. Tennyson nos dá o claríssimo exemplo de um poeta já totalmente incrustado na opinião do público, já completamente incorporado ao seu meio. Blake, por outro lado, sabia o que lhe interessava e, por conseguinte, apresenta apenas o essencial, apenas, na verdade, o que pode ser apresentado, e dispensa explicações. E porque não se perturbou, ou não se apavorou, ou não se ocupou de nada que não fossem concisas afirmações, pôde entender. Ele estava nu, e viu o homem nu, do centro do seu próprio cristal. Para ele não havia nenhuma razão pela qual Swedenborg fosse mais absurdo do que Locke. Ele aceitou Swedenborg, como eventualmente o rejeitou, por razões de estrito foro íntimo. Abordou tudo com a mente alheia às opiniões então vigentes. Não havia nele nada que sugerisse a pessoa superior. E isso o tornou aterrorizante.”
 
(Tradução de Ivan Junqueira)

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