abril 27, 2013

A luta contra a mesmice

Vozes dissonantes são sempre bem-vindas neste mar de bajulações, hermetismos e lugares-comuns em que se transformou a crítica literária brasileira.

Neste mês de abril, ao ler, no Rascunho, “Sobraram apenas os óculos e o bigode”, ensaio no qual Marcos Pasche desconstrói Paulo Leminski, percebi, com alegria, que as coisas realmente começam a mudar. Sentimento, aliás, que já havia experimentado com Cristiano Ramos, que, no ensaio “O curioso caso de José Lins do Rego” (partes 1 e 2), rebate com vigor a injusta depreciação crítica do romancista paraibano.

Sucede que, em meio a trabalhos e leituras, passei por cima da coletânea de críticas que Marcos Pasche publicou – De pedra e de carne (Editora Confraria do Vento) – e teve a gentileza de me enviar. Só hoje uni o sanguinário autor do ensaio sobre Leminski ao nome que está na capa do livro. E, numa passada de olhos, encontrei no volume, para minha alegria, ao menos dois outros textos que recomendo a leitura: “Na vitrine do shopping” e “Com rigor e com afeto”. O primeiro, publicado no Rascunho sob o título de “Perto do tempo, longe da arte”, demole a poesia de Fabrício Corsaletti – confirmando o que Luis Dolhnikoff (outra boa voz dissonante) já havia percebido e eu próprio afirmara, mas referindo-me à prosa desse que é mais um dos tenros queridinhos da literatura nacional.

Quanto ao segundo ensaio, “Com rigor e com afeto”, trata-se da entusiasmada análise de um livro que deveria ser leitura obrigatória em todas as nossas faculdades de Letras: A literatura em perigo, no qual Tzvetan Todorov faz a síntese do que começou a perceber em Critique de la critique, de 1984, não por acaso nunca traduzido no Brasil, onde os acadêmicos preferem acreditar – comportamento, aliás, bem cômodo, para não dizer desonesto – que Todorov parou de escrever em 1971, ao publicar A poética da prosa, obra ultrapassada e, sob vários aspectos, renegada pelo autor.
 
Este post, contudo, não pretende assumir, nas últimas linhas, um tom pessimista. Não. O objetivo é exatamente o de comemorar as vozes críticas que começam a surgir – aliadas, cada uma a seu modo, na luta contra a mesmice.

Nenhum comentário: