“Os Songs of innocence and of experience,
assim como os poemas do manuscrito Rossetti, são poemas que revelam um profundo
interesse pelas emoções humanas e um profundo conhecimento destas. As emoções são
expostas sob forma extremamente simplificada e abstrata. Essa forma é uma
ilustração da eterna luta da arte contra a educação, do artista literário
contra a contínua decomposição da língua.
É importante que
o artista deva ser altamente educado em sua própria arte; mas sua educação é
aquela que atrapalha mais do que ajuda, pois ele a recebe através do processo
comum da sociedade em que se resume a educação do homem comum. É que esse
processo consiste amplamente na aquisição de ideias impessoais que obscurecem o
que de fato somos e sentimos, o que realmente desejamos e o que na verdade
instiga nosso interesse. Não se trata, é claro, da efetiva informação
adquirida, mas do conformismo que o acúmulo de conhecimentos será capaz de
impor, o que é nocivo. Tennyson nos dá o claríssimo exemplo de um poeta já
totalmente incrustado na opinião do público, já completamente incorporado ao seu
meio. Blake, por outro lado, sabia o que lhe interessava e, por conseguinte,
apresenta apenas o essencial, apenas, na verdade, o que pode ser apresentado, e
dispensa explicações. E porque não se perturbou, ou não se apavorou, ou não se
ocupou de nada que não fossem concisas afirmações, pôde entender. Ele estava
nu, e viu o homem nu, do centro do seu próprio cristal. Para ele não havia
nenhuma razão pela qual Swedenborg fosse mais absurdo do que Locke. Ele aceitou
Swedenborg, como eventualmente o rejeitou, por razões de estrito foro íntimo.
Abordou tudo com a mente alheia às opiniões então vigentes. Não havia nele nada
que sugerisse a pessoa superior. E isso o tornou aterrorizante.”
(Tradução de Ivan Junqueira)
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