“[...] O grande
dano teve início no século passado, principalmente através de Rousseau, com sua
doutrina da bondade da natureza humana. Com base nisso, os plebeus e as pessoas
educadas destilaram a doutrina da idade do ouro que viria infalivelmente, desde
que as pessoas fossem deixadas por sua conta. O resultado, como qualquer
criança sabe, foi a completa desintegração da ideia de autoridade da cabeça dos
mortais, e é claro que, em consequência, periodicamente somos vítimas do poder absoluto.
Enquanto isso, a ideia da bondade natural do homem transformou-se, entre o
estrato inteligente da Europa, na ideia de progresso, isto é, fazer dinheiro e
desfrutar de confortos modernos sem perturbação, com a filantropia para acalmar
a consciência. [...]
A única salvação
concebível seria que esse insano otimismo, em menor ou maior grau,
desaparecesse do cérebro das pessoas. Mas, então, nosso atual cristianismo não
está à altura da incumbência; ele optou por isso e acabou se misturando ao
otimismo nos últimos duzentos anos. Uma mudança terá de vir, mas só Deus sabe à
custa de que sofrimentos. Nesse meio tempo você está construindo escolas – pelo
menos você pode assumir essa responsabilidade perante Deus; enquanto eu instruo
meus alunos e meu público. Não faço grande segredo de minha filosofia a meus
alunos; os mais inteligentes me entendem, e, ao mesmo tempo que faço tudo o que
posso para honrar a verdadeira felicidade que o estudo e o conhecimento
oferecem – por menos que possam ser –, sou capaz de dar a cada um algum grau de
consolo.”
(2 de Julho de 1871)
Roger Scruton avança bem na questão no obrigatório "Uses of Pessimism". E Burckhardt é um gigante, criminosamente pouco lido no Brasil (o mesmo vale para Jacques Barzun, não por acaso um admirador confesso de Burckhardt).
ResponderExcluirMeu caro Jonas, é sempre um prazer e uma alegria recebê-lo aqui! Forte abraço!
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