Eu tenho apenas 18 anos e me interesso muito pela literatura,história,religiões,filosofia etc.Tenho uma dúvida que há anos eu não consigo resolver: por onde devo começar os estudos literários?
Uma resposta remota e mal feita a qual eu consegui chegar,depois de ler muito Mortimer Adler e artigos do Olavo de Carvalho sobre educação,foi que devo começar do começo ou seja,primeiramente estudar toda a literatura grega e romana.Entretanto aí tem um problema para mim: para ler Homero é necessário o conhecimento perfeito de um dialeto obsoleto já na Antiguidade,de uma língua morta,é necessário ter o hábito de sentir uma métrica que tem hoje outro ritmo,a capacidade de entender o sentido autêntico de uma linguagem metafórica. Initium dimidium facit, disseram os romanos; o início é metade da façanha.Por onde eu devo começar?
Lembre que quem aqui lhe escreve,é um jovem que estudou em escola pública,e portanto,sofreu incansavelmente com a decadência do ensino brasileiro e também com o criminoso MEC. O entendimento da natureza humana foi em mim esquecido,a par com a perda de um sentido do sagrado e de uma ligação com o Princípio Divino. Estes aspectos essenciais para o bem neste mundo e para o benefício dos seus fins últimos nunca foram comunicados nem compreendidos por mim.
Ao longo do acaminho que eu quero trilhar,anseio subir a montanha da sabedoria e alcançar o seu cume,a Verdade,uma das dificuldades que surge com maior frequência é a constante tendência para a dispersão.Esta tendência pode surgir manifestada nos próprios hábitos de leitura e pela preferência dada a obras de grande complexidade,muitas vezes sem grande profundidade,nas quais o desafio intelectual que é a sua compreensão e a informação obtida pela sua leitura,se confundem com aquilo que verdadeiramente importa.Tornamo-nos numa espécie de idólatras do conhecimento.É bem sabido que conhecimento não é sabedoria;e é esta última é o objetivo da minha caminhada
Não se prenda a purismos, meu caro. Faça a vida mais fácil. Há boas traduções de alguns clássicos. Há pouco, por exemplo, a Penguin/Cia. das Letras lançou uma ótima tradução da "Odisseia". Siga um bom guia, como Carpeaux, em "História da Literatura Ocidental", e vá em frente. Leia o que encontrar em português. Ao mesmo tempo, dedique-se a aprender uma língua estrangeira. O espanhol, por exemplo, língua simples e bela, permitirá que você leia um número significativo de clássicos, pois, em termos editoriais, o mundo hispânico é muito mais evoluído que nós. Bons estudos!
Para esclarecimentos sobre as traduções de Homero, recomendo a leitura de "Duas novas traduções de Homero", Bruno Gripp, Revista Dicta&Contradicta, número 9, Julho 2012.
Li um trecho da Odisseia disponibilizada no site da Penguin/Cia. das letras e a leitura me agradou muito. Ademais, o preço está bom, visto que se trata de uma obra extensa. Vou aproveitar e comprar a Ilíada também.
bom dia, tudo bem? Creio que além do livro de Mortimer J. Adler (Como Ler Livros), sugestão do Olavo de Carvalho, pode-se facilmente agregar a leitura do livro "A Vida Intelectual", de A. D. Sertillanges, o "Trivium", da Irmã Miriam Joseph, e da "Alvorada à Decadência", de Jacques Barzun. Aliás, este último revela inúmeras sugestões de leitura, classificando-as de mais relevante a menos relevante. Motivado pela discussão iniciei a leitura da História da Literatura Ocidental, há muito comprado e somente agora iniciada a leitura. A edição do Senado vem bem a calhar. Parabéns pelas discussões e mãos à obra, ou melhor dizendo, olhos e mente voltados para o intenso trabalho de estudar e buscar a melhor compreensão de quase tudo!
gostaria de comentar a mensagem do Ruan. Tenho 49 anos, também aluno do COF, e estou agora aprendendo grego antigo. Estou no começo, ainda nas primeiras declinações e tempos verbais, e já dá para sentir algum gosto do grego no original, amparado por traduções e por sites que disponibilizam textos originais com tradução e análises gramaticais. Há muito apoio na internet, tanto em estudos dos clássicos greco-romanos como dos estudos bíblicos.
Não é uma língua morta, não! Há diferenças de dialeto, vocabulário e sotaques, mas com o conhecimento do arcaico dá para pegar alguma coisa da Wikipedia em grego, ou de gibis modernos. No Youtube pode-se ouvir evangelhos inteiros em koiné tanto na pronúncia antiga como no grego atual.
É um prazer tentar ler e ouvir na língua original, claro. Mas em qualquer leitura, o que se forma no espirito são "coisas" da realidade, situações, imagens, intenções etc. E isso é transmitido nas traduções. É importante que elas sejam precisas no que elas podem ser, ou seja, na identificação correta dos autores da ação, quem fez o quê e a quem, por que modo etc. O resto (a musicalidade e o sabor sensorial das palavras) depende das possibilidades do idioma de chegada e do talento artístico do tradutor, pois nem sempre é possível encontrar coincidência entre forma e conteúdo.
Espero poder dizer daqui a um ano que persisti no estudo. Está sendo mais fácil o grego do que o latim, língua compacta, com a vantagem de contar com falantes vivos de grego em situação de gente real. Isso injeta alguma vida no estudo das línguas "mortas".
No fim, uma língua ajuda a outra. E como disse o professor Rodrigo, não é condição para desfrutar os clássicos, é um prazer que estou conhecendo agora, e que teve início nos Asterix e Lobatos que lia quatro décadas atrás...
Prezado Rinaldo: o caminho é esse -- ânimo, disposição, amor à realidade e ao saber, ao conhecimento! Obrigado por sua presença aqui no blog. Forte abraço e bons estudos!
Eu tenho apenas 18 anos e me interesso muito pela literatura,história,religiões,filosofia etc.Tenho uma dúvida que há anos eu não consigo resolver: por onde devo começar os estudos literários?
ResponderExcluirUma resposta remota e mal feita a qual eu consegui chegar,depois de ler muito Mortimer Adler e artigos do Olavo de Carvalho sobre educação,foi que devo começar do começo ou seja,primeiramente estudar toda a literatura grega e romana.Entretanto aí tem um problema para mim: para ler Homero é necessário o conhecimento perfeito de um dialeto obsoleto já na Antiguidade,de uma língua morta,é necessário ter o hábito de sentir uma métrica que tem hoje outro ritmo,a capacidade de entender o sentido autêntico de uma linguagem metafórica.
Initium dimidium facit, disseram os romanos; o início é metade da façanha.Por onde eu devo começar?
Lembre que quem aqui lhe escreve,é um jovem que estudou em escola pública,e portanto,sofreu incansavelmente com a decadência do ensino brasileiro e também com o criminoso MEC.
O entendimento da natureza humana foi em mim esquecido,a par com a perda de um sentido do sagrado e de uma ligação com o Princípio Divino. Estes aspectos essenciais para o bem neste mundo e para o benefício dos seus fins últimos nunca foram comunicados nem compreendidos por mim.
Ao longo do acaminho que eu quero trilhar,anseio subir a montanha da sabedoria e alcançar o seu cume,a Verdade,uma das dificuldades que surge com maior frequência é a constante tendência para a dispersão.Esta tendência pode surgir manifestada nos próprios hábitos de leitura e pela preferência dada a obras de grande complexidade,muitas vezes sem grande profundidade,nas quais o desafio intelectual que é a sua compreensão e a informação obtida pela sua leitura,se confundem com aquilo que verdadeiramente importa.Tornamo-nos numa espécie de idólatras do conhecimento.É bem sabido que conhecimento não é sabedoria;e é esta última é o objetivo da minha caminhada
Não se prenda a purismos, meu caro. Faça a vida mais fácil. Há boas traduções de alguns clássicos. Há pouco, por exemplo, a Penguin/Cia. das Letras lançou uma ótima tradução da "Odisseia". Siga um bom guia, como Carpeaux, em "História da Literatura Ocidental", e vá em frente. Leia o que encontrar em português. Ao mesmo tempo, dedique-se a aprender uma língua estrangeira. O espanhol, por exemplo, língua simples e bela, permitirá que você leia um número significativo de clássicos, pois, em termos editoriais, o mundo hispânico é muito mais evoluído que nós. Bons estudos!
ResponderExcluirE a tradução da Odisseia feita por Carlos Alberto Nunes? É boa?
ResponderExcluirGio Fabiano.
Para esclarecimentos sobre as traduções de Homero, recomendo a leitura de "Duas novas traduções de Homero", Bruno Gripp, Revista Dicta&Contradicta, número 9, Julho 2012.
ResponderExcluirObrigado Rodrigo.
ResponderExcluirLi um trecho da Odisseia disponibilizada no site da Penguin/Cia. das letras e a leitura me agradou muito. Ademais, o preço está bom, visto que se trata de uma obra extensa. Vou aproveitar e comprar a Ilíada também.
Abraço,
Gio Fabiano.
Cavalheiros,
ResponderExcluirbom dia, tudo bem? Creio que além do livro de Mortimer J. Adler (Como Ler Livros), sugestão do Olavo de Carvalho, pode-se facilmente agregar a leitura do livro "A Vida Intelectual", de A. D. Sertillanges, o "Trivium", da Irmã Miriam Joseph, e da "Alvorada à Decadência", de Jacques Barzun. Aliás, este último revela inúmeras sugestões de leitura, classificando-as de mais relevante a menos relevante. Motivado pela discussão iniciei a leitura da História da Literatura Ocidental, há muito comprado e somente agora iniciada a leitura. A edição do Senado vem bem a calhar. Parabéns pelas discussões e mãos à obra, ou melhor dizendo, olhos e mente voltados para o intenso trabalho de estudar e buscar a melhor compreensão de quase tudo!
gostaria de comentar a mensagem do Ruan. Tenho 49 anos, também aluno do COF, e estou agora aprendendo grego antigo. Estou no começo, ainda nas primeiras declinações e tempos verbais, e já dá para sentir algum gosto do grego no original, amparado por traduções e por sites que disponibilizam textos originais com tradução e análises gramaticais. Há muito apoio na internet, tanto em estudos dos clássicos greco-romanos como dos estudos bíblicos.
ResponderExcluirNão é uma língua morta, não! Há diferenças de dialeto, vocabulário e sotaques, mas com o conhecimento do arcaico dá para pegar alguma coisa da Wikipedia em grego, ou de gibis modernos. No Youtube pode-se ouvir evangelhos inteiros em koiné tanto na pronúncia antiga como no grego atual.
É um prazer tentar ler e ouvir na língua original, claro. Mas em qualquer leitura, o que se forma no espirito são "coisas" da realidade, situações, imagens, intenções etc. E isso é transmitido nas traduções.
É importante que elas sejam precisas no que elas podem ser, ou seja, na identificação correta dos autores da ação, quem fez o quê e a quem, por que modo etc. O resto (a musicalidade e o sabor sensorial das palavras) depende das possibilidades do idioma de chegada e do talento artístico do tradutor, pois nem sempre é possível encontrar coincidência entre forma e conteúdo.
Espero poder dizer daqui a um ano que persisti no estudo. Está sendo mais fácil o grego do que o latim, língua compacta, com a vantagem de contar com falantes vivos de grego em situação de gente real. Isso injeta alguma vida no estudo das línguas "mortas".
No fim, uma língua ajuda a outra.
E como disse o professor Rodrigo, não é condição para desfrutar os clássicos, é um prazer que estou conhecendo agora, e que teve início nos Asterix e Lobatos que lia quatro décadas atrás...
um abraço, joão spacca
Grande Spacca! É um prazer tê-lo aqui, meu caro! Logo, logo envio-lhe minha resposta ao seu e-mail! Forte abraço!
ResponderExcluirPrezado Rinaldo: o caminho é esse -- ânimo, disposição, amor à realidade e ao saber, ao conhecimento! Obrigado por sua presença aqui no blog. Forte abraço e bons estudos!
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