julho 25, 2012

Infinito


Desta janela, emoldurada por lombadas coloridas, meu olhar não alcança a nitidez do horizonte, linha líquida onde as cores se assemelham e sublima-se o relevo.

Não sei se amanhece. Mas pouco importa. Volto-me para o salão imenso – e a luz revela, além de fios brancos, migalhas de caspa sobre meus ombros.

Meus passos ecoam sobre o piso de mosaico e reverberam lá no alto, contra abóbadas e arcos paralelos. Só há livros. Livros e escadas de ferro que conduzem de um mezanino a outro. Livros. E mesas. E cadeiras onde se empilham livros – in-fólios, miniaturas, encadernações de mestres esquecidos.

Não sinto calor ou frio. De um salão a outro, em linha reta, a arquitetura se repete, janelas altas, luz refletindo sobre as lombadas, escadas ligando um patamar a outro, uma sequência de estantes a outra.

Janela após janela, brilham as lombadas desiguais. Salão após salão, as abóbadas aprisionam o olhar.

Um mordomo sonâmbulo introduziu-me aqui e pediu que eu aguardasse. Agora, até mesmo a direção da entrada é uma dúvida. Olho para trás e vejo o corredor que se afunila, cortado por centenas de fachos de luz. Viro-me, e a mesma imagem se desenha, transformando a arquitetura na dimensão da impossibilidade.

Onde estão meus anfitriões? Por que o mordomo não traz um chá, uma palavra? Aguardo o toque de uma sineta, de uma campainha – ou da porta que, ao abrir-se, fará ranger as dobradiças.

Retiro os livros de uma poltrona e sento-me. Abro ao acaso o volume que mais se encontra à mão. A luz imutável acorda as páginas amarelecidas, cujo folhear desprende perfume e som apaziguador.

Página após página, cresce a certeza de que o mordomo não voltará. Ninguém poderá encerrar esta visita. Nenhum som, nenhuma brisa.


Flocos de caspa caem, lentamente, enquanto o olhar percorre as linhas. Minhas costas arqueiam. A biblioteca espera.

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