Há um poema que, desde meus tempos de colégio, sempre releio. Lembro da tarde em que certa amiga o apresentou para mim, na cozinha ensolarada onde, com os livros abertos sobre a mesa, fazíamos um trabalho de literatura. Quando comecei a ler os versos – ah!, ainda posso reviver a mesma sensação... –, foi como se o mundo à minha volta subitamente parasse e eu, adentrando um salão desconhecido, amplo e majestoso, permanecesse extático, incapaz de qualquer movimento, possuído pela poesia. Foi, aliás, quando conheci Fernando Pessoa. O poema, “Hora Absurda”.
Gostaria de poder partilhar com vocês minhas ideias sobre esse poema, mas estou sem tempo, infelizmente. Contudo, deixo aqui o link para a breve mas lúcida análise que Pasquale Cipro Neto faz, na Folha de S. Paulo de hoje, dos quatro primeiros versos:
O teu silêncio é uma nau com todas as velas pandas...
Brandas, as brisas brincam nas flâmulas, teu sorriso...
E o teu sorriso no teu silêncio é as escadas e as andas
Com que me finjo mais alto e ao pé de qualquer paraíso...
E também reproduzo aqui duas das estrofes de que mais gosto:
Ah, como esta hora é velha!... E todas as naus partiram!
Na praia só um cabo morto e uns restos de vela falam
Do Longe, das horas do Sul, de onde os nossos sonhos tiram
Aquela angústia de sonhar mais que até para si calam...
O palácio está em ruínas... Dói ver no parque o abandono
Da fonte sem repuxo... Ninguém ergue o olhar da estrada
E sente saudades de si ante aquele lugar-outono...
Esta paisagem é um manuscrito com a frase mais bela cortada...
agosto 27, 2009
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Um comentário:
lindo poema. beijos, pedrita
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