“Dai testemunho:
estive presente; embora ninguém me reconhecesse” — assim termina a tragédia Der Trun (A Torre), de 1925, um dos últimos trabalhos de Hugo von
Hofmannsthal, importante escritor do final do século XIX e princípio do XX,
evidentemente desconhecido no Brasil. Para Otto Maria Carpeaux, um “intérprete
poético” dos séculos XVII e XVIII, a chamada “civilização austríaco-barroca”,
cujos valores ele recuperou para “opor ao caos de uma época demoníaca, depois
da derrota e desmembramento da Áustria em 1918, um cosmos poético e
hierarquicamente organizado conforme os valores do espírito”.
Os trechos a
seguir pertencem a Buch der Freunde (Livro dos Amigos), publicado em 1922, em
que Hofmannsthal reúne pensamentos e aforismos escritos ou copiados desde sua
adolescência:
– Os modernos escritores psicológicos
aprofundam o que não devia ser considerado e tratam superficialmente o que
precisava ser tratado em profundidade.
– O narrador comum narra como algo
poderia acontecer acidentalmente. O bom narrador faz acontecer algo no momento
atual diante dos nossos olhos. O mestre narra como se acontecesse de novo algo
há muito acontecido.
– No nível mais elevado da arte reina
nudez, autodesnudação, o seu contrapeso é a maior seriedade, plena capacidade
de realização. Onde este estado é intermitente e se pisca o olho para fora, o
que existe é impudência.
– Cada palavra pronunciada supõe o
ouvinte, cada palavra escrita o leitor: criar também este é a parte encoberta,
mas a mais importante da ação do escritor.
– A maior parte das pessoas, ao
entregarem-se às chamadas ocupações intelectuais, considerando como tais o ler
e o escrever (não o escrever cartas, mas o escrever como autor), não fazem de
modo algum o que julgam fazer: porque nem embelezam a sua cultura – “ampliar” a
sua cultura, como se costuma dizer, é um disparate horroroso – nem aguçam o seu
entendimento, nem enriquecem a sua experiência, e não produzem mais nem nada
mais importante que aqueles que remexem a terra à beira de um charco, deitam
pedras para a água turva, etc., em suma, um nada em grande azáfama.
março 24, 2014
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