março 14, 2014

Antônio Torres: estilo enxuto e ironia

Entre os nossos grandes prosadores esquecidos — como João Francisco Lisboa e Joaquim Felício dos Santos, sobre os quais escrevo em Muita retórica – Pouca literatura — está o mineiro Antônio Torres, autor de Verdades indiscretas (1920), Pasquinadas cariocas (1921) e várias outras coletâneas do que ele publicava na imprensa do Rio de Janeiro, mesmo depois de entrar para a carreira diplomática.

O texto abaixo, de Prós e contras (1921), é modelar. Torres tinha uma pena afiadíssima para a ironia, o sarcasmo e, muitas vezes, a ofensa — esta, principalmente quando se referia aos portugueses, povo que era um de seus inimigos prediletos.

Mas longe de ser reles xingador, seu estilo é claro, enxuto, sem as gorduras da repugnante eloqüência que emporcalha muitos dos escritores brasileiros; alguns deles, curiosamente chamados de “clássicos”.

Vejam a descrição do lombo assado, de fazer salivar até o mais empedernido faquir; a comparação que abre a crônica, entre a sala acanhada e a capacidade mental do senador; e a naturalidade para conduzir o texto até o último parágrafo, quando encerra com humor sua lição de política. Guimarães Rosa estava certo: Torres tem “pena e estilo sem ferrugem”.

Para aqueles que desejarem conhecer o autor, recomendo a excelente antologia preparada pelo diplomata Raul de Sá Barbosa, com prefácio e notas extremamente elucidativos (o livro foi publicado pela Topbooks).

Divirtam-se com Antônio Torres:





3 comentários:

Anônimo disse...

Brilhante!

Luis Pereira disse...

Aprendendo cada dia mais a apreciar a boa escrita e a educação clássica. Gratidão Professor Rodrigo Gurgel!

Alexandre disse...

Maravilhoso! Lembrou-me Almas Mortas de Gogol. Aonde foi parar esse Brasil tão rico que ninguém conhece, Professor?