O horizonte do homem contemporâneo está limitado, em
muitos casos, por um novo tipo de xamanismo. Os teólogos secularistas, os
novíssimos gurus, a vanguarda dos cientistas, pensadores e médicos politicamente
corretos, os escritores de autoajuda, a esquerda que recupera filosofias, símbolos e cultos pagãos: todos dançam nus, noite após noite, em
torno de uma imensa fogueira, embriagados por algum tipo de chá, sonhando que
copulam com golfinhos, ninfas, sátiros... São personagens de um vasto painel naïf, pueris em suas cantigas de roda, em
seu enaltecimento do corpo, em seus rituais dionisíacos, em sua crença de que
vivem além do bem e do mal, enquanto o mundo segue uma trajetória nada inocente.
Lembram Nietzsche dando entrada no manicômio de Jena: fazem grandes
reverências, andam de forma majestática, com o olhar preso ao teto, e agradecem
pela “magnífica acolhida”. As diversas formas de “amor a Gaia” representam uma
alucinação coletiva, um retorno ao que existe de mais primitivo. A esperança
foi acorrentada ao transitório por esses ilusionistas, seguidores tardios de Franz
Mesmer. E eles prometem, solenemente, o mais nobre dos fins ao homem de hoje, quando
lhe perguntarão, cheios de ingênua arrogância: “M. Valdemar, can you explain to us what are your feelings or wishes now?”.
maio 15, 2012
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