maio 09, 2012

Literatura, subjetivismo e covardia


Vivemos uma época de simplismos. Ou melhor, um tempo no qual o simplismo e o raciocínio esquemático pretendem substituir os caminhos do espírito que, demonstrando coragem e maturidade, olha para si mesmo, em seguida, prolongadamente, para o real, volta-se mais uma vez para o seu próprio eu – e só então expressa suas ideias, seus sentimentos.


Esta é uma época na qual a imprudência e a precipitação brilham a cada textinho de quatro ou seis parágrafos, escrito com a arrogância de ser não só uma reflexão, mas de apontar caminhos, soluções, regras, quando não verdades.


Um tempo em que os textos fedem a rascunho, a esboço. A boa menina faz seu resuminho escolar com capricho, usa canetinhas coloridas para as flores das margens, numera as linhas – e fecha a página do caderno com delicada iluminura. Mas o texto continua um resumo. O esquematismo refulge a cada linha.


Assim, a coluninha de jornal se transforma em ensaio, o conto estendido em romance, as trinta linhas repetindo lições de Derrida em crítica literária.


Ora, quando o centro da consciência já não é a verdade, mas apenas o gosto efêmero, então o subjetivismo comanda. É o império dos croniqueiros, coelhinhos de olhar róseo, tiques nervosos e pelagem branca, apressados e superficiais. Tempo triste, desolador – não só para a literatura –, no qual os homens, sem perceber, se transformam em covardes, pois só têm uma única resposta aos seus desejos pessoais e ao senso comum: Sim.

Um comentário:

Pedrita disse...

e eu me assusto com as frases de defeito, quer dizer, efeito. beijos, pedrita