maio 09, 2011

“A tradição é uma realidade viva”

Na audiência que concedeu aos membros do Instituto Litúrgico Santo Anselmo, no último dia 6 de maio, Bento XVI mostrou, novamente, equilíbrio, sabedoria e prudência. Para o papa, “a liturgia da Igreja vai mais além da própria ‘reforma conciliar’ (Constituição Sacrosanctum Concilium, 1), cujo objetivo, de fato, não era principalmente o de mudar os ritos e os gestos, mas sim renovar as mentalidades e colocar no centro da vida cristã e da pastoral a celebração do Mistério Pascal de Cristo. Infelizmente, talvez por nossa causa, Pastores e expertos, a Liturgia foi tomada mais como um objeto a ser reformado do que como um sujeito capaz de renovar a vida cristã”.

E Bento XVI acrescenta: “[...] A Liturgia, testemunho privilegiado da Tradição vivente da Igreja, fiel ao seu dever original de revelar e fazer presente no hodie [hoje] das vicissitudes humanas a opus Redemptionis [obra da Redenção], vive de uma relação correta e constante entre sã traditio [tradição] e legitima progressio [progresso legítimo], lucidamente explicitada pela Constituição conciliar no parágrafo 23. Com os dois termos, os Padres conciliares quiseram registrar seu programa de reforma, em equilíbrio com a grande tradição litúrgica do passado e do futuro. Não poucas vezes se contrapõe de maneira desonesta tradição e progresso. Na realidade, os dois conceitos se integram: a tradição é uma realidade viva, que por esse motivo inclui em si mesma o princípio do desenvolvimento, do progresso. É como dizer que o rio da tradição carrega em si também a sua fonte e tende à sua foz”.

Coerente com as ideias que expressa desde o início de seu pontificado, Bento XVI repete, dessa forma, o raciocínio explicitado no inesquecível discurso de 22 de dezembro de 2005: “[...] Por que a recepção do Concílio, em grandes partes da Igreja, até agora teve lugar de modo tão difícil? Pois bem, tudo depende da justa interpretação do Concílio ou como diríamos hoje da sua correta hermenêutica, da justa chave de leitura e de aplicação. Os problemas da recepção derivaram do fato de que duas hermenêuticas contrárias se embateram e disputaram entre si. Uma causou confusão; a outra, silenciosamente, mas de modo cada vez mais visível, produziu e produz frutos. Por um lado, existe uma interpretação que gostaria de definir como a ‘hermenêutica da descontinuidade e da ruptura’; não raro, ela pôde valer-se da simpatia dos mass media e também de uma parte da teologia moderna. Por outro lado, há a ‘hermenêutica da reforma’, da renovação na continuidade do único sujeito-Igreja, que o Senhor nos concedeu; é um sujeito que cresce no tempo e se desenvolve, permanecendo porém sempre o mesmo, único sujeito do Povo de Deus a caminho. A hermenêutica da descontinuidade corre o risco de terminar numa ruptura entre a Igreja pré-conciliar e a Igreja pós-conciliar. Ela afirma que os textos do Concílio como tais ainda não seriam a verdadeira expressão do espírito do Concílio”.
 
De fato, é como se ouvíssemos, por trás dos discursos papais, as palavras de São Paulo a Timóteo: “Toma por modelo os ensinamentos salutares que recebeste de mim sobre a fé e o amor a Jesus Cristo. Guarda o precioso depósito, pela virtude do Espírito Santo que habita em nós”.

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