junho 11, 2009
Scheherazade
O rei Šahriyar era um tolo. Que homem, em sã consciência, se deixaria engambelar por uma mulherzinha fútil, faladeira e lamurienta como Šahrazad (ou, se preferirem, Scheherazade)? Duas ou três noites ouvindo historinhas curiosas e intermináveis talvez pudesse ser uma alternativa interessante para alguém que descobriu ser traído pela esposa e sofre, por esse motivo, daquela melancolia típica do corno (mal, aliás, que pode ser perfeita e rapidamente curado, pois ninguém é insubstituível). Mas noites a fio? Santo Deus! Só um idiota – ou um surdo – para suportar tamanha embromação. Šahriyar, infelizmente, não pôde ler “A mulher selvagem e a casquilha”, de Baudelaire. Nesse pequeno poema em prosa, ele aprenderia que, frente a determinadas situações-limite, resta ao homem de bom senso poucas escolhas: enjaular a mulher ou apenas lançá-la janela afora. Por essas e outras razões, sempre que leio o Livro das mil e uma noites tenho a absoluta certeza de que ele foi escrito por uma mulher. Quem mais acreditaria que seu poder de sedução é invencível – ou que alguém pode se dispor a ouvir histórias interminavelmente?
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4 comentários:
Deliciosamente ácido, meu amigo. Realmente, as mulheres crêem num poder de sedução invencível porque muitas vezes são vítimas delas.
Mas, verdade, no mundo masculino isso é lenda.
No fim, Samara, como nas mil e uma noites, tudo é lenda. Grande beijo!
sharyar era psicótico e sherazade o curou pela fala.
O inverso do método psicanalítico, Bea? O paciente escuta e a terapeuta fala?
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